A partir de agosto, quem ficará à frente da corte eleitoral é o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, considerado por bolsonaristas como inimigo. Aliados do presidente classificam a atuação de Moraes ao longo dos últimos anos como arbitrária. Para eles, ele tem tomado decisões politizadas no STF e, por isso, afirmam temer uma posição similar, no Tribunal eleitoral.
Por Redação - de Brasília
Em um futuro próximo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não encontrará um ambiente tão favorável quanto hoje, nas relações com o Poder Judiciário. Liberado da denúncia de prevaricação no escândalo da compra de vacinas indianas Covaxin, Bolsonaro passará a enfrentar, a partir do segundo semestre, a caneta de magistrados nem tão simpáticos assim.
Bolsonaro está realizando uma opção bastante arriscada para seu próprio intento de permanecer no poder
Na véspera, por exemplo, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciou que pretende convocar o ministro da Justiça, Anderson Torres, e o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, para prestar esclarecimentos no Senado sobre o relatório que concluiu sobre o caso Covaxin.
Líder da oposição no Senado, o parlamentar chamou o presidente de “maloqueiro” e sugeriu que o relatório pode ser fruto de interferência do mandatário na PF.
Mudanças
“Não bastasse desmoralizar as instituições, agora Bolsonaro esculhamba a Polícia Federal. Precisamos tirar esse maloqueiro da Presidência esse ano! Vamos pedir a convocação do Ministro da Justiça e do diretor da PF para prestar esclarecimentos no Senado”, publicou Randolfe, em uma rede social.
A decisão de Rodrigues manterá o caso em aberto até que ocorram as mudanças previstas nos comandos de cortes superiores e também do Tribunal de Contas da União (TCU) que fiscaliza o orçamento público. Até lá, os novos dirigentes criarão um cenário pouco amigável para o mandatário neofascista, às vésperas das eleições.
As mudanças acontecerão no Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além do TCU. Para o entorno de Bolsonaro, a troca na presidência do TSE é considerada a mais delicada. Entre outros processos, a corte julga irregularidades relacionadas às eleições.
Decisões
A partir de agosto, quem ficará à frente da corte eleitoral é o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, considerado por bolsonaristas como inimigo. Aliados do presidente classificam a atuação de Moraes ao longo dos últimos anos como arbitrária. Para eles, ele tem tomado decisões politizadas no STF e, por isso, afirmam temer uma posição similar, no Tribunal eleitoral.
O primeiro embate de 2022 já ocorreu na semana passada, no episódio envolvendo um depoimento de Bolsonaro à Polícia Federal. O ministro autorizou no ano passado investigações sobre episódios envolvendo Bolsonaro, mandou prender aliados como Roberto Jefferson (PTB), Daniel Silveira (PSL-RJ) e até extraditar Allan dos Santos, do Terça Livre. Moraes é relator dos inquéritos das fake news e das milícias digitais.
Fora do grupo mais próximo do governo, Moraes é elogiado por ter colocado freio nas ofensivas do presidente contra o Supremo e instituições, apesar de reconhecerem excessos em suas decisões.
Fake news
A expectativa entre aliados do chefe do Executivo é que o ministro continue com uma atuação linha-dura à frente da corte eleitoral, mas menos do que no Supremo. As eleições em uma das maiores democracias do mundo terão espectadores internacionais, o que pode levar Moraes a ser mais cuidadoso, nessa visão.
Na corte eleitoral, na ocasião do julgamento que rejeitou a cassação da chapa presidencial por participação em esquema de disparo em massa de fake news em 2018, Moraes fez reprimendas que desagradaram o possível candidato à reeleição.