A avaliação, que consta da pesquisa do Instituto DataFolha divulgada nesta sexta-feira, revela no entanto que “a alta instância do Judiciário brasileiro continua desfavorável aos ministros, que recentemente ganharam a companhia do pastor André Mendonça, primeiro evangélico em mais de seis décadas a desembarcar no colegiado”.
Por Redação - de São Paulo
Para a maioria dos brasileiros, somados aqueles que veem o desempenho do Supremo Tribunal Federal (STF) como bom ou ótimo aos que o consideram apenas ‘regular’, a Corte Suprema da Justiça brasileira ainda merece todo respeito, exceto para os seguidores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Para cerca de um terço dos eleitores, o tribunal realiza um péssimo trabalho.
Bolsonaro recuou, no último minuto, na tentativa de evitar uma nova derrota na Corte Suprema
A avaliação, que consta da pesquisa do Instituto DataFolha divulgada nesta sexta-feira, revela no entanto que “a alta instância do Judiciário brasileiro continua desfavorável aos ministros, que recentemente ganharam a companhia do pastor André Mendonça, primeiro evangélico em mais de seis décadas a desembarcar no colegiado”.
“Apenas 23% dos brasileiros veem como ótimo ou bom o trabalho do STF, enquanto 37% o consideram regular, e 34%, ruim ou péssimo. Em setembro, os índices eram de 25%, 35% e 35%, respectivamente. Ou seja, houve apenas variações dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Os dados foram coletados por pesquisa presencial do DataFolha com 3.666 pessoas de 16 anos ou mais, em 191 cidades, entre 13 e 16 de dezembro”, diz o instituto.
A atual série do Datafolha mostra que desde julho de 2021 a má imagem do tribunal se estabilizou, sem que eventuais ataques presidenciais ao STF, e também os recuos, tenham a afetado. A impressão negativa é maior entre o eleitorado que pretende votar em Bolsonaro. Considerado apenas esse grupo, apenas um em cada dez entrevistados (12%) aprova o trabalho do Supremo, ante 57% que o rejeitam.
Fake news
“Com os eleitores declarados de Lula (PT), a repulsa à corte cai para 24%, dez pontos percentuais abaixo da média geral. Em compensação, 30% gostam da atuação do colegiado. O levantamento foi realizado quando Mendonça já havia sido sabatinado e aprovado por senadores, cinco meses após ser escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro. O novo integrante tomou posse na corte no dia 16 de dezembro, último dia da pesquisa de campo”, descreve o estudo.
Embora os ataques do presidente ao STF não tenham causado qualquer dano à imagem da instituição, ele havia parado com o discurso mais agressivo contra os ministros da Corte. Nesta quinta-feira, no entanto, Bolsonaro voltou à carga contra o Judiciário, após se sentir mais uma vez encurralado pelas decisões dos magistrados. O ataque ocorreu logo depois que o ministro Alexandre de Moraes ordenou que fosse investigada a falsa associação feita pelo presidente entre a vacina da covid-19 e a aids.
Em outubro, durante uma transmissão ao vivo pela internet, Bolsonaro leu uma suposta notícia dizendo que "vacinados estão desenvolvendo a síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]". Dias depois, Facebook e Instagram derrubaram o vídeo. Era fake news. A irritação presidencial cresceu com a decisão de outro ministro constantemente em sua mira, Luís Roberto Barroso, de determinar a adoção de um passaporte para imunizados cruzarem as fronteiras do país, com amparo da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Embates
Bolsonaro estava longe de manter um clima camarada com o Supremo, mas o cessar-fogo transcorria sem grandes abalos desde as ameaças de matriz golpista do 7 de Setembro. Com ajuda de Michel Temer (MDB), ele lançou na ocasião uma nota atribuindo palavras "contundentes" anteriores ao "calor do momento".
Por um trimestre, diminuiu decibéis golpistas contra o STF. Em dezembro, voltou a atiçar a base bolsonarista com novos embates com os magistrados, embora ainda distante dos ataques que antecederam o feriado da Independência.
O STF já esteve em mais alta conta na população. Em maio de 2020, 30% dos brasileiros o viam com bons olhos, patamar superior aos 26% que desabonavam seu desempenho. Um mês antes, os ministros haviam determinado que governos estaduais e municipais tinham autonomia para determinar regras de isolamento social numa pandemia ainda nova para o mundo. Sob tutela bolsonarista, o governo federal resistia a tanto. Prevaleceu o entendimento do Supremo.