Rio de Janeiro, 25 de Junho de 2025

Vazamento revela que Dallagnol persegue ministro do STF e pode ser afastado

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Terça, 06 de Agosto de 2019 às 16:00, por: CdB

A pressão foi elevada a níveis insuportáveis, nesta manhã, com a notícia veiculada na mídia de extrema direita. Privilegiado com informações em primeira mão, passadas tanto por Sérgio Moro, ex-juiz e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, quanto pela equipe de procuradores de Curitiba, o site Antagonista revelou que Dallagnol está preso ao cargo, por um fio.

 
Por Redação - de Brasília
  O desgaste provocado pela série de vazamentos publicados pela agência norte-americana de notícias Intercept Brasil ao procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato, aumentou nas últimas horas, após novos diálogos entre ele e a equipe. Neles, Dallagnol tentaria um golpe contra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao buscar uma ligação entre o magistrado e o esquema de corrupção descoberto no PSDB paulista.
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O procurador Dallagnol e o ex-juiz Sérgio Moro nutriam um nível de intimidade que lhes permitia fazer brincadeiras com ministro da Corte Suprema
A pressão foi elevada a níveis insuportáveis, nesta manhã, com a notícia veiculada na mídia de extrema direita. Privilegiado com informações em primeira mão, passadas tanto por Sérgio Moro, ex-juiz e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, quanto pela equipe de procuradores de Curitiba, o site Antagonista revelou que Dallagnol está preso ao cargo, por um fio. Segundo o site, uma articulação em curso no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) escolhe apenas o melhor momento para afastar o articulador da Lava Jato. Mas a decisão para retirá-lo do cargo já estaria tomada.

Ofensiva

A mesma notícia foi publicada, ainda nesta manhã, na revista semanal de ultradireita Veja, que publica com outros veículos da mídia conservadora os vazamentos da Intercept. Colunista da publicação, Ricardo Noblat divulga “conversas nos corredores” do STF. Nelas, Moro seria preservado. “Pôr Moro em risco significaria abrir a porta da cela para a saída de Lula”, escreveu Noblat. O mesmo, no entanto, não se aplicaria a Dallagnol, que tende a ser afastado do cargo. Dallagnol paga, agora, o preço pela tentativa de expor o ministro Gilmar Mendes. Procuradores da Lava Jato, em Curitiba, não mediram esforços na tentativa de coletar dados e informações sobre o ministro do STF, com o objetivo de pedir sua suspeição e até seu impeachment. Liderados por Dallagnol, procuradores e assistentes se mobilizaram para apurar decisões e acórdãos do magistrado para embasar sua ofensiva. Mas foram além de suas credenciais. Força-tarefa Segundo a Intercept Brasil, os procuradores chegaram a planejar um contato com investigadores na Suíça, na tentativa de reunir munição contra o ministro. A busca de fatos ligados a um integrante da Corte superior, no entanto, extrapola suas competências constitucionais. A estratégia contra Gilmar Mendes foi discutida ao longo de meses em conversas de membros da força-tarefa pelo aplicativo Telegram enviadas ao The Intercept por uma fonte anônima e analisadas em conjunto, neste caso, com o diário conservador espanhol El País. Na guerra aberta contra o ministro do Supremo, os procuradores se mostraram particularmente animados em 19 de fevereiro deste ano. "Gente essa história do Gilmar hoje!! (...) "Justo hoje!!! (...) "Que Paulo Preto foi preso", começa Dallagnol no chat grupo Filhos do Januário 4, que reúne procuradores da força-tarefa. “Vai que tem um para o Gilmar…hehehe”, diz o procurador Roberson Pozzobon no grupo, em referência aos cartões do investigado ligado aos tucanos. A possibilidade de apurar dados a respeito de um ministro do Supremo sem querer é tratada com ironia. “vc estara investigando ministro do supremo, robinho.. nao pode”, responde o procurador Athayde Ribeiro da Costa. “Ahhhaha”, escreve Pozzobon. “Não que estejamos procurando”, ironiza ele. “Mas vaaaai que”…. Acrescenta. Realidade Dallagnol então reforça, na sequência, que o pedido à Suíça deveria ter um enfoque mais específico: “hummm acho que vale falar com os suíços sobre estratégia e eventualmente aditar pra pedir esse cartão em específico e outros vinculados à mesma conta”, escreve. “Talvez vejam lá como algo separado da conta e por isso não veio" (...) "Afinal diz respeito a OUTRA pessoa”. A força-tarefa de Curitiba tem dito que não reconhece as mensagens que têm sido atribuídas a seus integrantes e repetiu à reportagem que o "material é oriundo de crime cibernético e tem sido usado, editado ou fora de contexto, para embasar acusações e distorções que não correspondem à realidade". Nas mensagens, tudo começa porque Dallagnol comenta saber de "um boato" vindo da força-tarefa  de São Paulo (FT-SP) de que parte do dinheiro mantido por Paulo Preto em contas no exterior pertenceria a Mendes. "Mas esse boato existe mesmo?", pergunta o procurador Costa. Diálogos O artigo 102 da Constituição determina que os ministros do Supremo só podem ser investigados com autorização de seus pares, a não ser que apareçam em uma investigação já em curso, a chamada investigação cruzada. A competência, neste caso, é necessariamente da PGR. Para o procurador da República Celso Três, que atuou no início do caso Banestado, um marco contra a lavagem de dinheiro, e trabalhou diretamente com o ex-juiz Sergio Moro, os procuradores não cogitam nos diálogos apenas um atalho para chegar a Mendes. — É uma violação grave do devido processo legal — afirma, à reportagem do El País. Ele avalia que, nas conversas, os procuradores de Curitiba demonstraram intenção de desviar a finalidade da investigação, porque tinham autoridade para escrutinar o operador do PSDB, mas planejaram aprofundar essa colaboração com o intuito de atingir o ministro do Supremo. — Não estou defendendo Gilmar, mas está muito claro que estavam em seu encalço — concluiu.
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