Rio de Janeiro, 21 de Junho de 2025

Protestos e preocupações marcam debate sobre usina termelétrica em Samambaia

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Terça, 13 de Maio de 2025 às 19:42, por: Vitoria Carvalho
Por Vitoria Carvalho, da Sucursal de Brasília

Em meio a críticas de ambientalistas, professores e parlamentares, a instalação da Usina Termelétrica Brasília (UTE Brasília), proposta para o setor de Samambaia, no Distrito Federal, foi alvo de intensos questionamentos durante seminário realizado nesta terça-feira (13) na Câmara dos Deputados. O evento foi promovido pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável a partir de solicitação dos deputados Nilto Tatto (PT-SP), Clodoaldo Magalhães (PV-PE) e Professor Reginaldo Veras (PV-DF).

A usina, de responsabilidade da empresa Termo Norte e movida a gás natural, ainda não possui licença ambiental. No entanto, já obteve duas outorgas prévias da Adasa — para captação de água e descarte de efluentes no rio Melchior, que banha a região e abastece parte da população local.

Protestos e preocupações marcam debate sobre usina termelétrica em Samambaia | Foto: Marcos Aborígine
Foto: Marcos Aborígine

Preocupações

Durante o encontro, representantes da sociedade civil, educadores e especialistas destacaram os riscos socioambientais do empreendimento. Entre os principais pontos levantados estão o agravamento da poluição do rio Melchior, o aumento das emissões de gases do efeito estufa e a possibilidade de realocação da Escola Classe Guariroba, situada nas imediações da futura usina.

“Esse rio é parte da vida de muitas famílias da região, inclusive dos nossos alunos. São pequenos agricultores que dele tiram sustento”, afirmou a professora Walquiria Gonçalves. Ela teme que a transferência da escola cause prejuízos à rotina educacional e à vida das famílias da comunidade.

O presidente do Movimento Salve o Rio Melchior, Newton Vieira, alertou para o impacto da descarga de efluentes aquecidos no já degradado rio, considerado o mais poluído do Distrito Federal. “Ninguém sabe ao certo a composição da água que será devolvida. Mas o que sabemos é que a poluição vai aumentar”, disse.

Luiz Eduardo Barata, ex-presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e atual dirigente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, também se posicionou contra o projeto. Ele ressaltou que a construção de um gasoduto seria necessária para viabilizar a operação da UTE, o que ampliaria ainda mais os impactos ambientais. “Além disso, essa usina não contribui de maneira significativa para o sistema elétrico nacional”, completou.

Meio ambiente

Embora a Termo Norte afirme que os índices de poluentes atmosféricos se manterão dentro dos limites legais, a empresa não enviou representantes ao debate, alegando conflito de agenda. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por sua vez, confirmou que o processo de licenciamento ainda está em fase de análise. Eduardo Wagner da Silva, representante do órgão, apontou preocupações com a dispersão dos gases em um ambiente de clima seco e ventilação limitada como o do DF.

Outro ponto de tensão foi a validade dos estudos que fundamentaram as autorizações já emitidas. A deputada Erika Kokay (PT-DF), que coordenou a audiência, cobrou uma reavaliação técnica por parte da Adasa. Segundo ela, a análise usada para conceder as outorgas data de 2012, anterior até mesmo às crises hídricas vividas pela capital federal nos últimos anos. “A realidade hídrica do Distrito Federal mudou. Precisamos de estudos atualizados que reflitam essa nova condição”, afirmou.

Com potência prevista de 1.470 megawatts, a UTE Brasília promete suprir parte da demanda energética do Centro-Oeste. Ainda assim, o projeto segue cercado de dúvidas, críticas e pedidos por mais transparência e rigor técnico nas avaliações. Enquanto isso, a comunidade local se mobiliza para preservar o que resta de um rio já combalido e garantir que suas vozes sejam ouvidas antes da tomada de decisões irreversíveis.

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