Para Barbosa, o crédito deve ser observado com atenção à frente, diante de uma taxa básica de juros Selic de 15% que o Banco Central (BC) já indicou que permanecerá em patamar restritivo por período prolongado.
Por Redação, com Reuters – do Rio de Janeiro
A economia brasileira tende a manter a desaceleração gradual no segundo semestre, de acordo com especialistas, em meio a um conjunto misto de fatores, com a política monetária restringindo a atividade, as tarifas dos Estados Unidos alimentando incertezas e o pagamento de precatórios e mercado de trabalho aquecido contendo o freio na economia.

Dados do IBGE apontaram, nesta terça-feira, que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil desacelerou a 0,4% no segundo trimestre, após alta de 1,3% nos primeiros três meses do ano, e a expectativa é de que a atividade siga girando em níveis baixos à frente.
— O resumo à frente ainda é de desaceleração. Melhor palavra hoje é de acomodação da atividade — afirmou Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, que vê crescimento de apenas 0,1% no terceiro trimestre, com o PIB registrando no ano alta de 2% a 2,2%, após crescimento de 3,4% em 2024.
Indicadores
Para Barbosa, o crédito deve ser observado com atenção à frente, diante de uma taxa básica de juros Selic de 15% que o Banco Central (BC) já indicou que permanecerá em patamar restritivo por período prolongado.
— O crédito tem dado sinais de desaceleração, ao mesmo tempo em que indicadores de saúde financeira das famílias têm dado sinais de preocupação — acrescentou.
Em julho, a inadimplência no Brasil ficou em 5,2%, chegando ao patamar mais elevado desde novembro de 2017, de acordo com dados do BC. Analistas citaram ainda as pesquisas da Fundação Getulio Vargas (FGV) que apontaram queda da confiança em agosto entre consumidores, indústria e serviços, citando cautela em meio aos juros elevados, incertezas e endividamento.
Mercado
O impacto do aperto monetário, de outra forma, tem sido mitigado por estímulos fiscais, com destaque para o pagamento de R$ 60,5 bilhões em precatórios feito pelo governo em julho, e por um mercado de trabalho robusto, com renda em alta, que deve seguir assim por mais tempo.
— O impacto não está sendo maior porque tem estímulos fiscais, um exemplo é o precatório. Não fossem os estímulos fiscais, a desaceleração seria mais intensa — calcula Claudia Moreno, economista do C6 Bank, que prevê uma retração de 0,3% do PIB no terceiro trimestre, mas alta de 0,6% no quarto, fechando o ano com expansão de 2%.
Em outra frente, pairam as incertezas em torno das tarifas de 50% dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros, ainda que a avaliação seja de que elas não devem desestabilizar a economia do país, graças às amplas exceções à taxação e ao fortalecimento das relações comerciais com a China.