Sem citar nomes, as fontes ouvidas foram unânimes em apontar a existência de diplomatas, hoje dispersos por embaixadas de menor destaque, mundo afora, que ainda são considerados como possíveis representantes do Brasil, nos EUA, em caso de um terceiro mandato do ex-presidente Lula.
Por Redação - de Brasília e São Paulo
Enquanto o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) derrapa na tentativa de entendimento com a gestão do norte-americano Joe Biden, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ativa seus mecanismos, nos EUA, na tentativa de uma aproximação com o democrata. Segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil junto a fontes no Itamaraty, o líder petista — peso pesado na eleição presidencial do ano que vem — dispõe de interlocutores privilegiados junto à administração Biden.
O Itamaraty ainda conta com um corpo diplomático de alta credibilidade no cenário internacional
Sem citar nomes, as fontes ouvidas foram unânimes em apontar a existência de diplomatas, hoje dispersos por embaixadas de menor destaque, mundo afora, que ainda são considerados como possíveis representantes do Brasil, nos EUA, em caso de um terceiro mandato do ex-presidente Lula. Por telefone ou em mensagens criptografadas, no entanto, estes emissários de Lula têm encontrado uma boa receptividade junto à Casa Branca.
Do lado bolsonarista, no entanto, o cenário é exatamente o oposto. Biden até que tentou, mas seus emissários ao Palácio do Planalto voltaram com resultados vexatórios. A reunião que Bolsonaro manteve com Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, e o Assessor Especial do presidente norte-americano Joe Biden, Juan González, por exemplo, foi definida por oficiais norte-americanos como um encontro “nonsense” e “tenso”.
A sequência de comentários críticos de Bolsonaro contra as eleições nos EUA, vencidas por Biden, foram suficientes para frustrar qualquer intenção de uma aproximação maior com o mandatário sul-americano. Bolsonaro insinuou que elas teriam sido roubadas para prejudicar Trump, o que faria de Biden um “presidente ilegítimo”.
Golpe
Segundo a agência britânica de notícias BBC News Brasil, em texto publicado nesta segunda-feira, “a administração Biden sempre esteve ciente de que Bolsonaro defendia publicamente as falsas alegações de Trump sobre as eleições”, mas “o que os (norte-)americanos não esperavam é que Bolsonaro dissesse tais coisas diante de Sullivan e Gonzalez, ambos altos representantes do governo a serviços dos democratas há anos”.
Os britânicos ressaltaram, ainda, que conforme “autoridades com conhecimento dos fatos, ambos ouviram o suficiente para deixar o encontro preocupados com a democracia no Brasil”. Apesar da preocupação com a retórica golpista, os norte-americanos avaliam que os militares não devem apoiar uma eventual tentativa de golpe que venha a ser tentada por Jair Bolsonaro.
Ainda segundo a BBC, “é consenso entre diplomatas e especialistas internacionais (norte-)americanos que os EUA não podem e nem querem virar as costas para o Brasil. Primeiro porque o país, com suas florestas tropicais, é visto como chave para avançar no combate ao aquecimento global, pauta prioritária do governo Biden.
Movimentos
Segundo, porque a China tenta ganhar espaço na América Latina a passos largos, e os (norte-)americanos não estão dispostos a ceder, ao principal rival, espaço de influência na segunda maior democracia do continente — ainda mais com a disputa do 5G a pleno vapor.
E terceiro, porque, em que pesem as ações de Bolsonaro sobre a democracia brasileira ou sobre o meio ambiente, seu governo promoveu um alinhamento ideológico com os Estados Unidos no continente, adotando tom duro contra Venezuela e Cuba, algo bastante valorizado no Departamento de Estado”.
Há, no entanto, a percepção de que "Bolsonaro não é um líder plenamente confiável", como afirma Levitsky. Assim, os próximos movimentos na relação dependerão de seu governo. “E a diplomacia (norte-)americana diz que não vai se furtar da possibilidade de se engajar com outros atores políticos, em diferentes níveis de poder e sem a intermediação do Executivo federal, para fazer avançar sua agenda”, conclui na agência.