Se continuarmos sem criar soluções, “entraremos no próximo século do mesmo jeito que entramos no século XXI”, indicou o presidente.
Por Redação – do Rio de Janeiro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o seu discurso na reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) — o banco do BRICS, nesta sexta-feira, para conclamar os membros a criarem uma nova moeda para o comércio exterior independente do dólar norte-americano; além de encontrar uma nova fórmula de financiamento.

— Vocês (países do BRICS) podem e devem mostrar ao mundo que é possível criar um novo modelo de financiamento. O modelo de austeridade não deu certo em nenhum país do mundo — afirmou Lula, reforçando o discurso que vem ampliando nas redes sociais sobre as diferenças entre ricos e pobres.
Se continuarmos sem criar soluções, “entraremos no próximo século do mesmo jeito que entramos no século XXI”, indicou o presidente.
— O multilateralismo chega ao seu pior momento desde que foi criado depois da II Guerra Mundial. (…) Fora do multilateralismo e da democracia, não chegaremos a lugar nenhum — acrescentou.
Sustentável
Ainda acerca do modelo de desenvolvimento mundial, Lula constata que “a chamada austeridade exigida pelas instituições financeiras levou os países a ficarem mais pobres. Porque toda vez que se fala em austeridade, o pobre fica mais pobre e o rico fica mais rico.
As instituições financeiras globais, segundo Lula, precisam encontrar novas formas de financiar o desenvolvimento sustentável no mundo, sem condicionalidades e medidas de austeridade que prejudiquem a capacidade de investimento, especialmente de países mais pobres.
— Não é doação de dinheiro, é empréstimo para que pessoas possam ter uma chance de sair da miséria em que estão e dar um salto de qualidade — indicou.
Recado
No encontro preparatório para a Cúpula de Líderes do BRICS, bloco de países emergentes do qual o Brasil faz parte, que ocorrerá neste domingo e na segunda-feira, Lula foi ainda mais objetivo.
— Eu sei que esse assunto não era para discutir aqui, mas se eu não discutir com as pessoas do dinheiro, vou discutir com quem? Então, está dado o recado. Eu acho que vocês podem e devem mostrar ao mundo que é possível criar um novo modelo de financiamento, sem condicionalidades. O modelo da austeridade não deu certo em nenhum país do mundo — insistiu.
Ao defender a reforma das instituições tradicionais como Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que foram criadas após a Segunda Guerra Mundial para elaborar regras para o sistema monetário internacional, Lula citou o caso da África.
Haiti
— Não é possível que o continente africano deva US$ 900 bilhões e o pagamento de juros muitas vezes é muito maior que qualquer dinheiro que eles tenham para fazer investimentos. Ou discutiremos novas formas de financiamento para ajudar os países em via de desenvolvimento, sobretudo os países mais pobres da África, Ásia e América Latina, ou esses países vão continuar pobres por mais um século — sintetizou.
Como exemplo, Lula citou o Haiti, que tem um legado de dívidas com a França, pela independência do país.
— Não é possível que um país como o Haiti continue sedo um pais semidestruído, que não pode eleger um presidente porque as gangues tomaram conta do país. Descobri esses dias é que o Haiti pagou pela sua independência. Se considerar o dinheiro de hoje (com correção), era preciso devolver R$ 28 bilhões para o Haiti — resumiu.