Sem citar Bolsonaro nominalmente, os religiosos reafirmaram a repulsa quanto às atitudes do mandatário neofascista. Dom Orlando Brandes chegou a afirmar que o país precisa vencer muitos “dragões”, como a fome, o desemprego, o ódio e a mentira.
Por Redação - de Aparecida (SP)
A passagem do presidente Jair Bolsonaro pela Basílica de Aparecida, na véspera, durante os festejos do Dia da Padroeira do Brasil, foi marcada por críticas no meio cristão ao uso oportunista da data religiosa. A exploração da fé na campanha do candidato à reeleição também foi alvo de comentários do arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes e de Dom Mauro Morelli, bispo emérito de Duque de Caxias (RJ).
Bispo de Duque de Caxias, Dom Mauro Morelli critica a atitude do presidente Jair Bolsonaro
Sem citar Bolsonaro nominalmente, os religiosos reafirmaram a repulsa quanto às atitudes do mandatário neofascista. Dom Orlando Brandes chegou a afirmar que o país precisa vencer muitos “dragões”, como a fome, o desemprego, o ódio e a mentira.
O arcebispo também lembrou a covid-19, citando-a como um dos dragões já vencidos no Brasil. A fala do religioso faz alusão a uma passagem do Livro do Apocalipse, em que Maria, Mãe de Jesus, vence o mal, representado pelo dragão. A ocasião também foi marcada pela hostilização de bolsonaristas contra a imprensa e Dom Orlando no local.
— Temos muitos dragões que ela vai vencer. O dragão que é o tentador, o dragão que já foi vencido, a pandemia. Mas temos o dragão do ódio que faz tanto mal, da mentira. E a mentira não é de Deus é do maligno. E o dragão do desemprego, da fome, da incredulidade. Com Maria vamos vencer o mal e dar prioridade ao bem, à verdade e a justiça que o povo merece. Porque tem fé e ama Nossa Senhora Aparecida — pontuou Dom Orlando.
Explorador da fé
Advertida quanto ao caráter eleitoreiro da visita de Bolsonaro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), instituição que representa a Igreja Católica no país, publicou na terça-feira uma nota na qual lamenta o que classificou como “intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos”. O documento não cita diretamente nenhum candidato, mas saiu dias após a ida de Bolsonaro ao Círio de Nazaré, no Pará, no último domingo.
Na ocasião, a Arquidiocese de Belém, responsável pela festividade católica, disse não desejar e nem permitir qualquer utilização de caráter político ou partidário das atividades do Círio. Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o frei Marcelo Toyansk Guimarães, assessor da Comissão de Justiça e Paz da CNBB Sul 1, destacou a necessidade de desconstruir esse tipo de “manipulação” que afeta as pessoas ao envolver a fé na política.
— Eu vejo que o governo atual faz esse desserviço mesmo de uso das pessoas, não é simplesmente propor — lamentou o frei.
Agente de Satanás
Bispo emérito da Diocese de Duque de Caxias e Presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais (Consea-MG), Dom Mauro Morelli criticou nesta manhã a conduta de Jair Bolsonaro e de seus apoiadores na Basílica Nacional de Aparecida neste feriado do Dia de Nossa Senhora Aparecida.
“Bolsonaro em Aparecida comportou-se como Agente de Satanás. Desrespeitou a Mãe de Jesus e seus outros filhos e filhas, peregrinos famintos de vida com dignidade e esperança. Com seus endiabrados seguidores deveriam ser presos em flagrante como arruaceiros. São Miguel, cuidado!", escreveu o bispo em uma rede social.
Durante a tradicional missa realizada em homenagem à data, apoiadores do atual chefe do Executivo transformaram a ocasião em um campo de guerra, encurralando funcionários da TV Aparecida e vaiando o arcebispo Dom Orlando Brandes. São Miguel, a quem o bispo Dom Mauro Morelli se referiu, é o arcanjo da Justiça que combate as forças do mal e das trevas com o exército de Deus na religião católica.
Tensão
O enfrentamento às hostes bolsonaristas, que têm ampliado as ações radicais em todo o país, elevou a tensão no comitê de campanha petista. Além da arruaça em Aparecida e dos atos de violência cometidos por apoiadores do mandatário neofascista, dirigentes do partido afirmam ter recebido a informação de que uma nova operação da Polícia Federal poderia atingir aliados de Lula a poucos dias do segundo turno das eleições presidenciais.
— Recebemos informações de que setores do Estado aparelhados pelo bolsonarismo estariam buscando forjar fatos que justifiquem operações bizarras contra nosso campo democrático — afirmou o ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho, a jornalistas, nesta manhã. Ele coordena a campanha de Fernando Haddad (PT) ao governo do Estado de SP e integra também a campanha de Lula (PT).
Marinho acrescentou que o partido já estuda "medidas judiciais para evitar essa violência contra a democracia".