Por Redação, com sucursal – de Brasília, por Thamy Frisselli
A Capital Federal recebeu, na última sexta-feira (21), o 1º Festival de Economia Solidária e Criativa da Saúde, realizado no Pilotis da Biblioteca Nacional. O evento contou com o apoio do Movimento Pró Saúde Mental do DF, pelo Programa de Residência em Saúde Mental do Adulto, pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal e pela Biblioteca Nacional, sendo organizado pela Cooperativa Central Base de Apoio do Sistema ECOSOL no DF, Base Brasília Ltda, em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal.

Na mesa de abertura estavam presentes: Eustáquio Santos, diretor presidente da cooperativa Ecosol Base Brasília; Jamila Ziegth, representante da subsecretaria de Saúde Mental da SES; Andressa França do Movimento Pró Saúde Mental; Renata Róis do Programa de Resistência em Saúde Mental do Adulto; Cristiane Santos da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) do Ministério do Trabalho e Emprego e o deputado distrital Fábio Felix.
A programação incluiu uma Roda de Conversa sobre o tema: “O processo de geração de trabalho e renda por meio das atividades de economia criativa e solidária como estratégia de reabilitação psicossocial”, onde se debateu o impacto da economia solidária e criativa no processo de reabilitação psicossocial.
Segundo a assistente social Jamila Zgiet, os empreendimentos de economia solidária e criativa se apresentaram como uma alternativa ao mercado de trabalho tradicional. “Esses empreendimentos podem ser compostos por grupos informais, associações e cooperativas voltados para a produção ou à prestação de serviços. Sem as exigências comuns feitas por empresas que visam somente ao lucro de um grupo restrito, surgem possibilidades de desenvolvimento de trabalhos atípicos e criativos, capazes de incluir as pessoas com transtorno mental”, explicou.
O evento também contou com uma exposição de arte e artesanato produzidos pelos integrantes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Distrito Federal, além de entidades e profissionais envolvidos na área. Durante o festival, houve ainda sessões de pintura no rosto com a expressão “Não é Não”, uma homenagem às mulheres empreendedoras com produtos expostos na Feira de Economia Solidária e Criativa do projeto, e um abraço coletivo em apoio ao “Por Todas Elas”.
Maria do Rosário, 60 anos, usuária do CAPS há 15 anos, está no grupo de capoeira Paranauê e conta sua experiência. “Eu trabalho, eu tô afastada do serviço, e sempre meu pai, minha mãe, minha família toda me ajuda a desenvolver o problema de bipolaridade que eu tenho. Antes eu tomava 15 comprimidos, não conseguia dormir direito, não conseguia me concentrar, não conseguia fazer nada direito. Agora com o tempo entrando em um conjunto com o grupo do CAPS, com os psicólogos, com os mestres, terapeutas, estão me ajudando a cada dia mais, eu gosto de fazer atividade, gosto de participar, gosto de fazer novas amizades, gosto de aprender, hoje tá sendo um dos dias melhores da minha vida. Lá eu tomo um café da manhã, almoço, tomo meu lanche da tarde, convivo com pessoas parecidas com meus problemas”.
Eustáquio Santos, presidente da Ecosol Base Brasília, que realizou o evento, explicou que o projeto teve como objetivo fortalecer os espaços comunitários de convivência, promoção de cultura, saúde, geração de renda e bem-estar. Além disso, o presidente ainda trouxe a ideia de realizar a feira pelo menos uma vez ao mês e de se criar um espaço digital nas redes sociais.
A manifestação política diante dos retrocessos na saúde mental no DF
A representante da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), Cristiane Santos, falou em nome do Governo Federal e do Ministério do Trabalho e Emprego, sobre a retomada do programa Pronacoop Social, que é o programa de cooperativismo para a população mais vulnerável, onde entra egressos do sistema penal, usuários dos equipamentos de saúde mental, população de rua. “Saindo o edital em breve pela Fiocruz para equipar os grupos de saúde mental. O dinheiro já tá lá na Fiocruz. Nós estamos cobrando, vai sair um edital para fazer pontos de comercialização de produtos fabricados pelo pessoal da saúde mental, da economia solidária. A gente precisa de trabalho, mas é trabalho com qualidade, é trabalho digno, é trabalho coletivo. Em nome do nosso secretário Gilberto Carvalho, do nosso ministro Luiz Marinho, eu venho aqui para dizer de coração que a gente está junto com o pessoal da saúde mental e economia”.
Para o deputado Fábio Félix (PSol) lutar por saúde mental e lutar por todas as possibilidades que esse processo da economia solidária, economia criativa tem dentro do espectro da saúde mental, significa lutar por uma saúde pública no Distrito Federal. “Nós estamos atravessando agora um momento tenso. Houve uma troca na Secretaria de Saúde, que não necessariamente significa uma troca pra melhor. Nós precisamos ficar muito vigilantes com os próximos passos, porque a gente que é servidor, que é usuário, que é profissional de saúde, que é militante, ativista em defesa do sistema único de saúde, não pode tolerar mais ter organização e privatização no sistema único de saúde do Distrito Federal. Não dá pra gente tolerar esse tipo de manobra e engrenagem que a gente já tem hoje em funcionamento sendo ampliado. Cadê os Especialistas da SES? Tem concurso autorizado, a gente quer assistente social, a gente quer psicólogo, a gente quer terapia ocupacional, fisioterapia, a gente quer todos os profissionais além, obviamente da enfermagem, do técnico de enfermagem, além de outros profissionais”.
Erika Kokay, deputada federal (PT) destacou o compromisso de voltar com o espaço de exposição dos trabalhos na Torre de Tv, como antigamente. “ É o resultado do trabalho de vários CAPS. Acho que estamos com todos os 18 CAPS aqui, apresentando o trabalho. Apresentando como é importante você ter um espaço como CAPS, que diz que a gente só cuida das pessoas em liberdade. É cuidar em liberdade, porque se não for em liberdade, não tem cuidado. Tem um controle. E aqui mostra a potencialidade dos CAPS. E tem que ser uma sociedade democrática, porque a gente luta todos os dias para que tenhamos mais CAPS, para que os trabalhadores e trabalhadoras, servidores e servidoras do CAPS possam ter uma gratificação para ver a valorização do seu próprio trabalho”.
O evento ainda contou com manifestações inclusivas, massoterapia, oficinas de capoeira e desenho, e a criação de vídeos personalizados, todos oferecidos gratuitamente ao público.




















A animação musical ficou por conta das bandas Maluco Voador, Vozes da Rua, Coletivo CAPS Paranauê e Lua Elétrica Vermelha, compostas por integrantes dos CAPS/DF e do Centro de Convivência em Saúde Mental. Além disso, o evento teve um impacto positivo na preservação e promoção da cultura local, valorizando a diversidade.
A partir de um ponto de vista histórico da concepção de loucura, como também a partir das mudanças na política nacional de saúde mental que vem se desenvolvendo há alguns anos, é possível refletir sobre o funcionamento dos serviços de saúde mental na atualidade. Entre as novas formas de cuidado que vêm sido desenvolvidas, foi inserida nos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) a música como um instrumento terapêutico e interação social. O grupo Maluco Voador é uma banda formada pelos usuários do CAPS-Paranoá/SESDF, os quais são participantes da oficina de música oferecida por tal serviço.
Filipe Wiladino, um dos vocalistas da banda, explica que é preciso existir o diálogo da política de saúde com a política de trabalho, geração de renda e moradia. “O Maluco Voador é um projeto que é de música e cultura popular, que na verdade começou muito mais terapêutico, do cuidado, de estar com um ponto de cultura e que passou a demandar também, é uma demanda de gerar renda pensando a questão não só da ciência e cultura, mas também da geração de renda por uma perspectiva de economia solidária, ser uma estratégia importantíssima para a reputação psico-social. Imagina, já é difícil ser artista e gerar renda no DF, então imagina quando você tem pessoas que passaram por crises e têm todo o processo de estigmatização do campo da saúde mental. O Maluco Vador é um grupo que voa por aí”.
Ao proporcionar um espaço para o intercâmbio de saberes e práticas relacionadas à economia solidária e criativa, o festival contribuiu para fortalecer redes locais de produção, comercialização e consumo, além de impulsionar o empreendedorismo social e a geração de renda.