A ‘Capitã Cloroquina’ conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para ficar em silêncio a respeito de fatos ocorridos entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, período que abrange o colapso do sistema de Saúde em Manaus e a falta de oxigênio nas UTIs da capital amazonense.
Por Redação - de Brasília
No depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (MS), Mayra Pinheiro, conhecida como ‘Capitã Cloroquina’, foi questionada sobre o aplicativo TrateCov e por sua defesa do “tratamento precoce” e negou informações passadas por Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde e superior imediato da depoente. A ‘Capitã’ foi levada ao cargo pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.
Antes, havia se projetado, como presidente do sindicato dos médicos do Ceará, com ataques ao programa Mais Médicos, ainda no governo Dilma Rousseff. Na quarta-feira, a comissão vai decidir sobre a convocação do ex-assessor da Presidência da República Arthur Weintraub, além da infectologista Luana Araújo. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello deverá ser reconvocado, segundo o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).
O senador Humberto Costa (PT-PE), que questionou a funcionária do MS, requereu também o depoimento de Weintraub para investigar a suspeita de sua participação destacada no chamado “ministério paralelo”, um dos principais pontos trazidos à luz até aqui pelo colegiado, durante audiência com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
Habeas corpus
Weintraub – irmão mais novo do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub – seria responsável por traçar diretrizes sobre a pandemia à margem da Saúde. É conhecido como “guru da cloroquina”.
A ‘Capitã Cloroquina’ conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para ficar em silêncio a respeito de fatos ocorridos entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, período que abrange o colapso do sistema de Saúde em Manaus e a falta de oxigênio nas UTIs da capital amazonense. Questionada pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), do motivo que a levou a pedir a medida restritiva, atacou os senadores.
— Foi por medo, senador. Assisti aos depoimentos de testemunhas que foram tratadas como rés — respondeu.
O ministro Ricardo Lewandowski esclareceu que a depoente teria o direito a ficar calada porque o período é objeto de ação de improbidade administrativa em que ela aparece como ré. No entanto, a secretária deveria esclarecer questões sobre a cloroquina e o aplicativo TrateCov, pelo qual era indicado o uso desse medicamento, entre outros, para tratamento da covid-19. Em ambos os casos, a depoente tergiversou.
Muitas mentiras
O aplicativo foi iniciativa de Mayra, segundo disse Pazuello em seu depoimento, mas ela negou e atribuiu a autoria intelectual do programa “aos técnicos do Ministério”. Entre as explicações do ex-ministro na CPI, a relativa ao TrateCove foi uma das muitas inverossímeis e apontadas pelos senadores como mentirosas.
Pazuello afirmou que era apenas um protótipo, e que um ataque hacker fez com que a plataforma ficasse disponível, o que foi negado também pela médica. O aplicativo foi anunciado pelo próprio Pazuello em Manaus, no dia 11 de janeiro passado.
O Amazonas seria o primeiro Estado a usá-lo.
— Hoje vai ser lançada uma plataforma. A Mayra vai falar sobre isso, que vai permitir que o próprio prefeito cobre o protocolo de atendimento — explicou o ex-ministro na ocasião.
Sem eficácia
Mayra é chamada de “Capitã Cloroquina” — e não nega o apelido — por ser a responsável, segundo ela mesma, por disseminar seu uso. Após o Ministério da Saúde publicar nota técnica indicando o medicamento no tratamento precoce da covid 19, em maio de 2020, a médica afirmou que O Ministério da Saúde ainda não tinha se posicionado oficialmente.
— Hoje nós orientamos que as prescrições médicas possam ser feitas. Tomamos a decisão de disponibilizar, aumentando os nossos estoques desses medicamentos — afirmou.
Tudo apesar dos frequentes alertas de publicações científicas de que o método não tem eficácia comprovada e ainda pode causar efeitos colaterais perigosos, inclusive fatais.
Atendimento precoce
Cearense, a médica Mayra esteve no Amazonas dias antes do colapso sanitário justamente para difundir o tratamento precoce.
— Todas as atividades que foram demandadas em Manaus foram feitas por mim. A função das visitas era conversar com os colegas médicos, tentar orientar sobre atendimento precoce — declarou a própria Mayra.