Rio de Janeiro, 28 de Junho de 2025

Na CPI, ’Capitã Cloroquina’ reafirma apoio a droga ineficaz e contradiz Pazuello

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Terça, 25 de Maio de 2021 às 12:25, por: CdB

A ‘Capitã Cloroquina’ conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para ficar em silêncio a respeito de fatos ocorridos entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, período que abrange o colapso do sistema de Saúde em Manaus e a falta de oxigênio nas UTIs da capital amazonense.

Por Redação - de Brasília

No depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (MS), Mayra Pinheiro, conhecida como ‘Capitã Cloroquina’, foi questionada sobre o aplicativo TrateCov e por sua defesa do “tratamento precoce” e negou informações passadas por Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde e superior imediato da depoente. A ‘Capitã’ foi levada ao cargo pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.

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A médica Mayra Pinheiro, conhecida como 'Capitã Cloroquina', caiu em contradições na CPI da Covid

Antes, havia se projetado, como presidente do sindicato dos médicos do Ceará, com ataques ao programa Mais Médicos, ainda no governo Dilma Rousseff. Na quarta-feira, a comissão vai decidir sobre a convocação do ex-assessor da Presidência da República Arthur Weintraub, além da infectologista Luana Araújo. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello deverá ser reconvocado, segundo o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

O senador Humberto Costa (PT-PE), que questionou a funcionária do MS, requereu também o depoimento de Weintraub para investigar a suspeita de sua participação destacada no chamado “ministério paralelo”, um dos principais pontos trazidos à luz até aqui pelo colegiado, durante audiência com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

Habeas corpus

Weintraub – irmão mais novo do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub – seria responsável por traçar diretrizes sobre a pandemia à margem da Saúde. É conhecido como “guru da cloroquina”.

A ‘Capitã Cloroquina’ conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para ficar em silêncio a respeito de fatos ocorridos entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, período que abrange o colapso do sistema de Saúde em Manaus e a falta de oxigênio nas UTIs da capital amazonense. Questionada pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), do motivo que a levou a pedir a medida restritiva, atacou os senadores.

— Foi por medo, senador. Assisti aos depoimentos de testemunhas que foram tratadas como rés — respondeu.

O ministro Ricardo Lewandowski esclareceu que a depoente teria o direito a ficar calada porque o período é objeto de ação de improbidade administrativa em que ela aparece como ré. No entanto, a secretária deveria esclarecer questões sobre a cloroquina e o aplicativo TrateCov, pelo qual era indicado o uso desse medicamento, entre outros, para tratamento da covid-19. Em ambos os casos, a depoente tergiversou.

Muitas mentiras

O aplicativo foi iniciativa de Mayra, segundo disse Pazuello em seu depoimento, mas ela negou e atribuiu a autoria intelectual do programa “aos técnicos do Ministério”. Entre as explicações do ex-ministro na CPI, a relativa ao TrateCove foi uma das muitas inverossímeis e apontadas pelos senadores como mentirosas.

Pazuello afirmou que era apenas um protótipo, e que um ataque hacker fez com que a plataforma ficasse disponível, o que foi negado também pela médica. O aplicativo foi anunciado pelo próprio Pazuello em Manaus, no dia 11 de janeiro passado.

O Amazonas seria o primeiro Estado a usá-lo.

— Hoje vai ser lançada uma plataforma. A Mayra vai falar sobre isso, que vai permitir que o próprio prefeito cobre o protocolo de atendimento — explicou o ex-ministro na ocasião.

Sem eficácia

Mayra é chamada de “Capitã Cloroquina” — e não nega o apelido — por ser a responsável, segundo ela mesma, por disseminar seu uso. Após o Ministério da Saúde publicar nota técnica indicando o medicamento no tratamento precoce da covid 19, em maio de 2020, a médica afirmou que O Ministério da Saúde ainda não tinha se posicionado oficialmente.

— Hoje nós orientamos que as prescrições médicas possam ser feitas. Tomamos a decisão de disponibilizar, aumentando os nossos estoques desses medicamentos — afirmou.

Tudo apesar dos frequentes alertas de publicações científicas de que o método não tem eficácia comprovada e ainda pode causar efeitos colaterais perigosos, inclusive fatais.

Atendimento precoce

Cearense, a médica Mayra esteve no Amazonas dias antes do colapso sanitário justamente para difundir o tratamento precoce.

— Todas as atividades que foram demandadas em Manaus foram feitas por mim. A função das visitas era conversar com os colegas médicos, tentar orientar sobre atendimento precoce — declarou a própria Mayra.

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