Após o 7 de Outubro e com reféns ainda mantidos em cativeiro, o debate em torno da criação de um estado palestino praticamente desapareceu da agenda.
Por Redação, com RFI de Gaza
A solução diplomática de dois Estados, Palestina e Israel, para acabar com o conflito de sete décadas no Oriente Médio avançou alguns passos, na terça-feira, com o apelo inédito de países árabes pelo fim do controle do Hamas na Faixa de Gaza, durante conferência encerrada na sede da ONU, em Nova York. Entretanto, em Israel o apoio da sociedade a essa solução diplomática fica cada dia mais distante.

A sondagem mais recente sobre a criação de um estado palestino na região foi divulgada em junho pelo Pew Research Center, instituto de pesquisa dos Estados Unidos, e aponta que a sociedade israelense acredita cada vez menos na possibilidade de convivência pacífica entre Israel e um futuro estado palestino. Em 2013, cerca de 50% dos israelenses acreditavam que isso era possível; no ano passado, 26%; agora, 21%.
No campo da disputa política interna, normalmente muito polarizada, mesmo o líder da oposição ao governo de Benjamin Netanyahu, Yair Lapid, mantém a mesma posição declarada pela atual coalizão: segundo Lapid, “os palestinos não devem ser recompensados pelo 7 de Outubro e por apoiar o Hamas”.
A declaração do líder da oposição israelense é representativa dos principais personagens políticos de Israel. Após o 7 de Outubro e com reféns ainda mantidos em cativeiro, o debate em torno da criação de um estado palestino praticamente desapareceu da agenda dos partidos que podem formar as maiores bancadas no Knesset, o parlamento. O tema, que já era foco de polêmica antes dos ataques do Hamas que deram início ao atual ciclo de violência, tornou-se ainda mais complexo, embora organizações de direitos humanos em Israel e grupos pacifistas falem abertamente sobre o assunto.
Mas no jogo político a situação é diferente; a possibilidade de eleições antecipadas continua a existir. E, mesmo que o calendário seja mantido e a coalizão de Netanyahu não se desfaça completamente, o pleito de outubro de 2026 será o primeiro após o 7 de Outubro de 2023. Os atores políticos evitam dar declarações que possam ser usadas pelos adversários – inclusive sobre um estado palestino. O tema ganhou novo significado no contexto atual.
O caso de Yair Lapid é simbólico. Enquanto ocupou o cargo de primeiro-ministro durante o breve período em que a oposição conseguiu superar Netanyahu, ele disse abertamente ser favorável ao estabelecimento de um estado palestino.
“Apesar de todos os obstáculos, uma grande maioria dos israelenses apoia a visão da solução de dois estados. Eu sou um deles”.
“Temos apenas uma condição: parem de disparar foguetes e mísseis contra nossas crianças”.
Essas declarações soam inimagináveis hoje em Israel. Mas Lapid fez as afirmações em setembro de 2022, durante seu primeiro e único discurso como líder de Israel na Assembleia Geral da ONU. No final do ano, o chamado “governo da mudança” israelense caiu. E, como resultado de mais uma eleição, Benjamin Netanyahu voltou a ocupar o cargo de primeiro-ministro.
Violência na Cisjordânia
Em mais um episódio de violência na Cisjordânia, o ativista palestino Awdah Hathaleen foi morto na segunda-feira pelo colono israelense Yinon Levi em frente a um centro comunitário numa pequena cidade próxima a Hebron.
O ativista palestino, que também era jornalista, trabalhou na produção de No Other Land, que ganhou o Oscar de melhor documentário no início deste ano.
O filme, uma produção conjunta dirigida por israelenses e palestinos, documenta a luta de moradores para impedir a destruição pelo Exército de Israel de comunidades palestinas na Cisjordânia.
O colono que matou o ativista havia recebido sanções de Estados Unidos e União Europeia em 2024 por ataques contra palestinos. Mas o governo Trump voltou atrás e decidiu levantar as sanções no início deste ano.
Após ser preso pelas autoridades israelenses, a Corte de Magistrados de Jerusalém determinou que Yinon Levi siga em prisão domiciliar até sexta-feira.
A polícia israelense deve acusar Levi de homicídio culposo e uso ilegal de arma de fogo.
A França classificou a morte do ativista palestino como “assassinato” e descreveu a violência dos colonos israelenses como “terrorismo”.