Rio de Janeiro, 06 de Setembro de 2025

Com reféns sob poder do Hamas, Israel recua em debate territorial

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Quarta, 30 de Julho de 2025 às 10:05, por: CdB

Após o 7 de Outubro e com reféns ainda mantidos em cativeiro, o debate em torno da criação de um estado palestino praticamente desapareceu da agenda.

Por Redação, com RFI de Gaza

A solução diplomática de dois Estados, Palestina e Israel, para acabar com o conflito de sete décadas no Oriente Médio avançou alguns passos, na terça-feira, com o apelo inédito de países árabes pelo fim do controle do Hamas na Faixa de Gaza, durante conferência encerrada na sede da ONU, em Nova York. Entretanto, em Israel o apoio da sociedade a essa solução diplomática fica cada dia mais distante.

Com reféns sob poder do Hamas, Israel recua em debate territorial | Pessoas participam de uma manifestação pedindo o fim da guerra em Gaza, a libertação imediata dos reféns mantidos pelo Hamas e contra o governo de Benyamin Netanyahu, em Tel Aviv, Israel
Pessoas participam de uma manifestação pedindo o fim da guerra em Gaza, a libertação imediata dos reféns mantidos pelo Hamas e contra o governo de Benyamin Netanyahu, em Tel Aviv, Israel

A sondagem mais recente sobre a criação de um estado palestino na região foi divulgada em junho pelo Pew Research Center, instituto de pesquisa dos Estados Unidos, e aponta que a sociedade israelense acredita cada vez menos na possibilidade de convivência pacífica entre Israel e um futuro estado palestino. Em 2013, cerca de 50% dos israelenses acreditavam que isso era possível; no ano passado, 26%; agora, 21%. 

No campo da disputa política interna, normalmente muito polarizada, mesmo o líder da oposição ao governo de Benjamin Netanyahu, Yair Lapid, mantém a mesma posição declarada pela atual coalizão: segundo Lapid, “os palestinos não devem ser recompensados pelo 7 de Outubro e por apoiar o Hamas”. 

A declaração do líder da oposição israelense é representativa dos principais personagens políticos de Israel. Após o 7 de Outubro e com reféns ainda mantidos em cativeiro, o debate em torno da criação de um estado palestino praticamente desapareceu da agenda dos partidos que podem formar as maiores bancadas no Knesset, o parlamento. O tema, que já era foco de polêmica antes dos ataques do Hamas que deram início ao atual ciclo de violência, tornou-se ainda mais complexo, embora organizações de direitos humanos em Israel e grupos pacifistas falem abertamente sobre o assunto. 

Mas no jogo político a situação é diferente; a possibilidade de eleições antecipadas continua a existir. E, mesmo que o calendário seja mantido e a coalizão de Netanyahu não se desfaça completamente, o pleito de outubro de 2026 será o primeiro após o 7 de Outubro de 2023. Os atores políticos evitam dar declarações que possam ser usadas pelos adversários – inclusive sobre um estado palestino. O tema ganhou novo significado no contexto atual. 

O caso de Yair Lapid é simbólico. Enquanto ocupou o cargo de primeiro-ministro durante o breve período em que a oposição conseguiu superar Netanyahu, ele disse abertamente ser favorável ao estabelecimento de um estado palestino. 

“Apesar de todos os obstáculos, uma grande maioria dos israelenses apoia a visão da solução de dois estados. Eu sou um deles”. 

“Temos apenas uma condição: parem de disparar foguetes e mísseis contra nossas crianças”. 

Essas declarações soam inimagináveis hoje em Israel. Mas Lapid fez as afirmações em setembro de 2022, durante seu primeiro e único discurso como líder de Israel na Assembleia Geral da ONU. No final do ano, o chamado “governo da mudança” israelense caiu. E, como resultado de mais uma eleição, Benjamin Netanyahu voltou a ocupar o cargo de primeiro-ministro. 

Violência na Cisjordânia

Em mais um episódio de violência na Cisjordânia, o ativista palestino Awdah Hathaleen foi morto na segunda-feira pelo colono israelense Yinon Levi em frente a um centro comunitário numa pequena cidade próxima a Hebron.

O ativista palestino, que também era jornalista, trabalhou na produção de No Other Land, que ganhou o Oscar de melhor documentário no início deste ano. 

O filme, uma produção conjunta dirigida por israelenses e palestinos, documenta a luta de moradores para impedir a destruição pelo Exército de Israel de comunidades palestinas na Cisjordânia. 

O colono que matou o ativista havia recebido sanções de Estados Unidos e União Europeia em 2024 por ataques contra palestinos. Mas o governo Trump voltou atrás e decidiu levantar as sanções no início deste ano. 

Após ser preso pelas autoridades israelenses, a Corte de Magistrados de Jerusalém determinou que Yinon Levi siga em prisão domiciliar até sexta-feira. 

A polícia israelense deve acusar Levi de homicídio culposo e uso ilegal de arma de fogo. 

A França classificou a morte do ativista palestino como “assassinato” e descreveu a violência dos colonos israelenses como “terrorismo”.

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