Na última semana, Fernando Haddad (PT), novo ministro da Fazenda, disse aos jornalistas que foi incumbido por Lula a levar adiante uma missão: colocar os pobres no orçamento e os ricos no imposto de renda. A tarefa, no entanto, será “imensa”, segundo o escritor e geógrafo Elias Khalil Jabbour.
Por Redação, com BdF - do Rio de Janeiro
O governo do presidente eleito e diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda nem começou e a disputa entre liberais e desenvolvimentistas já mobiliza o país. Enquanto emissários desse ente fantasmagórico conhecido como ‘mercado’ criticam os gastos sociais, entusiastas da nova gestão Lula elevam as promessas feitas durante a campanha, como o Programa Bolsa Família no valor de R$ 600 e a valorização real do salário mínimo.
Escritor e geógrafo, Jabbour é um dos maiores especialistas brasileiros nos estudos sobre a China
Na última semana, Fernando Haddad (PT), novo ministro da Fazenda, disse aos jornalistas que foi incumbido por Lula a levar adiante uma missão: colocar os pobres no orçamento e os ricos no imposto de renda. A tarefa, no entanto, será “imensa”, segundo o escritor e geógrafo Elias Khalil Jabbour.
Com as declarações, afirma Jabbour, “Lula está tentando explicar que colocar os ricos no imposto de renda não é buscar equilíbrio fiscal, mas buscar uma menor desigualdade social no Brasil”.
— Até porque, todo mundo que estuda economia sabe que o financiamento do investimento de grandes empreendimentos no Brasil, que serão necessários para os próximos anos, não virá dessa redistribuição de renda, mas sim de bancos públicos, de outras fontes que não são orçamentárias — afirma Jabbour, professor de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Herança
Em entrevista exclusiva ao site de notícias Brasil de Fato (BdF), nesta terça-feira, Jabbour explica que “o Brasil é um país tão atrasado do ponto de vista do pensamento das suas classes dominantes que o fato delas se imaginarem sendo taxadas pelos seus ganhos, lucros e dividendos já causa um horror estranho”.
— Isso é um case brasileiro porque, por exemplo, na Europa, a taxação de grandes fortunas é uma realidade. Nos Estados Unidos, que é o país onde todos eles se inspiram enquanto sociedade, enquanto modelo de sociedade, a herança, por exemplo, é taxada em 40%. Aqui é 4%— observou.
Outro tema que deve bater às portas logo que o novo governo assuma o Palácio do Planalto é a agenda de reformas. Segundo Jabbour, este não é o momento de se discutir reformas como a trabalhista e previdenciária, por exemplo.
— Eu não tenho nenhum problema em discutir equilíbrio fiscal, em discutir reforma trabalhista, discutir reforma previdenciária, desde que o país esteja crescendo 4%, 5% ao ano, e com uma taxa de investimento de 20%, 25%. Por quê? Porque você discute essas questões em um momento em que a classe trabalhadora está numa situação de barganha maior do que a atual — explica o professor.
Emergentes
Ainda segundo o professor, “qualquer reforma no sentido de mudar algum marco institucional na economia brasileira, e que leva, inclusive, a mudança da dinâmica de acumulação, ela sempre será prejudicial à classe trabalhadora quando estamos em um Estado que tem de 10% a 12% de desempregados, fora os 56 milhões de pessoas que estão ‘pra lá e pra cá’, vendendo o almoço para comprar o jantar”.
A relação do Brasil com o bloco de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS, na sigla em inglês), o fortalecimento do Mercosul e dos países da América Latina durante o governo Lula e sobre a posição da China em um novo mundo multipolar.
— Os Estados Unidos, em dez anos, construíram uma capacidade de isolar a China de suas exportações e importações no mar do sul da China, construiu uma força militar suficiente para bloquear a China naquela região. Então, quando a gente fala que a China está se tornando mais agressiva, passa essa imagem de que tem porta-aviões dos chineses no golfo do México, o que não é verdade — conclui Jabbour.