Rio de Janeiro, 25 de Junho de 2025

Brasil pode sair mais forte da ‘Pós- Guerra Fria Tardia’, diz professor

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Quarta, 02 de Março de 2022 às 12:41, por: CdB

Em recente artigo publicado no semanário francês Le Monde Diplomatique Brasil, o especialista em relações internacionais Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), explicou o conceito de ‘Pós-Guerra Fria Tardia’, etapa da geopolítica na qual a supremacia norte-americana seria superada pela nova realidade dos Estados Unidos.

Por Redação, com Sputnik Brasil - do Rio de Janeiro
Com o crescimento da multipolaridade favorecendo o surgimento de novos atores, o Brasil se destaca como um país que reúne todas as capacidades para se tornar uma potência econômica, avalia especialista entrevistado pela agência russa de notícias Sputnik Brasil. A agência tem sido bloqueada nos EUA e na União Europeia.
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Chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, ao centro, tendo à esquerda o chanceler indiano, Subrahmanyam Jaishankar, e à direita o conselheiro de Estado da China Wang Yi, em Moscou
Em recente artigo publicado no semanário francês Le Monde Diplomatique Brasil, o especialista em relações internacionais Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), explicou o conceito de ‘Pós-Guerra Fria Tardia’, etapa da geopolítica na qual a supremacia norte-americana seria superada pela nova realidade dos Estados Unidos: o seu declínio na conjuntura global. Segundo o pesquisador, o medo de uma Rússia forte sob o ponto de vista nacional e sob uma liderança igualmente forte causa preocupação em Washington. Nas últimas décadas, a Rússia recuperou-se econômica, social e militarmente, voltando a despontar como potência e agindo em cooperação com outra potência antissistêmica, a China. E em nenhum dos dois casos houve uma "transição para o capitalismo liberal-ocidental”.

Obstáculo

"Países antissistêmicos como a Rússia e a China, que têm projetos nacionais próprios, são o verdadeiro problema por trás da retórica beligerante de Washington, tanto de democratas como de republicanos, contra Pequim e Moscou", escreve. Nesses novos tempos, em que não se "aceita mais que uma nação determine a agenda mundial", a possibilidade de novos atores surgirem é grande, segundo Pennaforte. E o Brasil, que sempre teve grande relevância, dentro de suas capacidades, tem tudo para retornar "ao seu lugar de destaque”. — O Brasil tem toda a capacidade de se tornar uma potência econômica, pois possui capital humano, territorial e recursos naturais. O único obstáculo é a falta de um projeto para isso, já que as elites brasileiras preferem o exterior ao próprio país. Mas, sem dúvida, temos todas as condições de ocupar uma posição de destaque — afirmo o acadêmico à agência russa.

Capitalismo

Ao longo do século XX, o analista destaca, os EUA conseguiram moldar grande parte do mundo de acordo com seus interesses, fosse por meios econômicos ou militares. Na América Latina, por exemplo, "praticamente, toda a região foi vítima das ditaduras patrocinadas por Washington com torturas, mortes etc". Mas esse mundo do século XXI já estava se desenvolvendo no final do século passado, quando "surgiram economias mais dinâmicas, que demonstravam que o capitalismo estava em uma nova fase”. Uma dessas economias é a China, principal parceira do Brasil na atualidade. — No que tange às parcerias, o Brasil já tem a China como sua grande parceira econômica e a Rússia em alguns segmentos. A tendência é o seu aumento no longo prazo, principalmente com a volta de maior protagonismo do Brasil no BRICS — acrescentou.

‘Engrenagens’

O BRICS, na opinião do especialista, foi uma das grandes obras de engenharia geopolítica do século XXI. A despeito das grandes assimetrias entre os seus membros — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, com o passar do tempo, ele avalia que as "engrenagens" do grupo começarão a funcionar de maneira mais dinâmica. E a criação do Novo Banco de Desenvolvimento foi um grande passo nessa direção. — Sem a necessidade de recorrer às tradicionais instituições de fomento do Ocidente (FMI, BID, Banco Mundial), os países poderão se beneficiar de condições mais justas para os empréstimos, retirando a primazia do Ocidente nesse setor. Isso é um exemplo muito significativo — acrescentou. Se o mundo multipolar favorece o Brasil, o país também precisa fazer a sua parte, já que "ser reconhecido como uma 'potência' envolve, primeiramente, a resolução de seus problemas internos”. — Como ser uma 'potência' com níveis de miséria elevados? Ou não possuir um sistema de investimentos em pesquisas dinâmico? Temos condições invejáveis para fazer isso. Com crescimento econômico, diminuição da miséria e práticas diplomáticas civilizadas, certamente, o Brasil demonstrará sua força no cenário internacional — resume o professor.
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