Rio de Janeiro, 26 de Julho de 2025

Zelenski volta atrás após pressão sobre órgãos anticorrupção

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Sexta, 25 de Julho de 2025 às 10:38, por: CdB

Após ser alvo de manifestações nas ruas, líder ucraniano apresenta nova proposta para anular medida anterior que retirava independência dos órgãos de combate à corrupção.

Por Redação, com DW – de Kiev

Após os protestos em massa na Ucrânia contra a aprovação de uma lei que revogava a autonomia das agências anticorrupção do país, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse ter ouvido a voz dos manifestantes e anunciou na quinta-feira uma nova legislação para restaurar a independência dos órgãos criados com ajuda dos aliados ocidentais.

Zelenski volta atrás após pressão sobre órgãos anticorrupção | “É absolutamente normal reagir quando as pessoas não gostam de algo”, disse Zelensky sobre os protestos
“É absolutamente normal reagir quando as pessoas não gostam de algo”, disse Zelensky sobre os protestos

A aprovação do projeto de lei na última terça-feira desencadeou as maiores manifestações na Ucrânia desde a invasão russa do país, em fevereiro de 2022, e atraiu críticas dos aliados europeus de Kiev.

– É absolutamente normal reagir quando as pessoas não querem algo ou quando não gostam de algo – disse Zelensky em comentários divulgados à imprensa nesta sexta-feira, acrescentando que era “muito importante que ouvíssemos e respondêssemos adequadamente”.

Ele admitiu que “provavelmente deveria ter havido mais diálogo” antes da aprovação da lei. “Estou focado na questão da guerra porque, neste momento, a questão número um na Ucrânia é a guerra. O maior problema é a guerra. O principal inimigo é a Rússia.”

A lei, na prática, colocou o Escritório Nacional Anticorrupção da Ucrânia (Nabu) e o Escritório Especializado do Procurador Anticorrupção (Sapo) sob a autoridade direta do procurador-geral, que é nomeado pelo presidente. O gabinete do procurador-geral também deve assumir as investigações realizadas pelas agências ou as repassaria para outros órgãos.

O novo projeto de lei será submetido à votação no Parlamento, majoritariamente leal a Zelensky. O presidente do Legislativo ucraniano, Ruslan Stefanchuk, prometeu levar a proposta à votação na próxima sessão parlamentar. De acordo com os deputados, no entanto, o Parlamento unicameral, conhecido como Verkhovna Rada, está em recesso até meados de agosto.

Nova proposta agrada agências anticorrupção

O Nabu e o Sapo teriam participado da elaboração da nova proposta.

“O projeto de lei restaura todos os poderes processuais e garante a independência do Escritório Nacional Anticorrupção e do Escritório Especializado do Procurador Anticorrupção”, escreveram as duas agências em seus canais do Telegram nesta quinta-feira, após a divulgação do texto.

O Nabu atua especificamente na investigação de casos de corrupção em instituições estatais. O órgão iniciou suas atividades em 2015, quando Kiev buscava se aproximar da União Europeia (UE) na esteira da deposição do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich, no ano anterior, após a pressão gerada por semanas de protestos na Maidan, a Praça da Independência em Kiev.

Desde então, a Ucrânia vinha adotando uma postura mais dura contra a corrupção, tanto como pré-requisito para ingressar na União Europeia quanto para tranquilizar seus aliados que enviam ajuda em tempos de guerra.

A agência revelou diversos casos de corrupção, inclusive envolvendo figuras do governo de Zelenski.

A ONG Centro de Ação Anticorrupção argumentou que a nova lei tornaria essas agências irrelevantes, pois o procurador-geral poderia “interromper as investigações contra todos os amigos do presidente”.

Críticas dos aliados europeus

Na segunda-feira, o serviço secreto ucraniano realizou operações de busca no Nabu e deteve um funcionário suspeito de espionar para a Rússia.

O escritório da Transparência Internacional na Ucrânia classificou as operações como uma “tentativa das autoridades de enfraquecer a independência das instituições anticorrupção surgidas após a Revolução da Dignidade [de 2014]”.

A aprovação da lei gerou apreensão na UE. Ambas as agências foram criadas em 2015 com assistência ocidental para combater a corrupção na Ucrânia, especialmente entre políticos de alto escalão e no governo.

A comissária de Ampliação e Política de Vizinhança da UE, Marta Kos, reiterou que as instituições anticorrupção são “essenciais para o caminho da Ucrânia rumo à UE”. “O desmantelamento de salvaguardas fundamentais que protegem a independência do Nabu é um sério retrocesso”, advertiu Kos após a votação.

A Transparência Internacional coloca a Ucrânia na 105ª posição entre 180 países em seu índice de percepção da corrupção de 2024, uma melhora em relação ao 144º lugar em 2013. Mesmo assim, segundo a organização, o país segue como um dos mais corruptos na Europa.

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