O tema, desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira, conta a história da divindade cultuada pelas religiões de matriz africana conhecida como “príncipe dos orixás”.
Por Redação, com ABr – do Rio de Janeiro
A preparação para o carnaval de 2025 começou cedo na Unidos da Tijuca. Desde março do ano passado, carnavalescos e componentes da escola trabalham no enredo Logun-Edé – Santo Menino que o Velho Respeita.

O tema, desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira, conta a história da divindade cultuada pelas religiões de matriz africana conhecida como “príncipe dos orixás”. Segundo a tradição iorubá, Logun-Edé é filho de Oxum, orixá associada à pesca e à água doce, e Oxóssi, relacionado à caça e às florestas.
– Quando cheguei na escola, existia um desejo muito grande de fazer um enredo sobre Logun-Edé. Tinha outros enredos também, mas achei que esse seria um momento muito especial para trabalhar essa história e trazer uma energia positiva, que a comunidade abraçasse – diz Edson à Agência Brasil. Figurinista de formação, ele começou a trabalhar no carnaval em 1992 como pintor de arte, passando por outras funções ao longo dos anos. Antes de estrear como carnavalesco da escola amarelo-ouro e azul pavão, ocupou esse cargo por 16 anos na Unidos de Padre Miguel.
Logun-Edé
– Fiz uma pesquisa extensa para saber como conjugar esse orixá à história da escola e descobrimos muitas coisas que parecem coincidências, mas que são fatos – comenta o carnavalesco sobre as relações entre a escola e o enredo escolhido para o carnaval deste ano. Fundada em 1931 no bairro da Zona Norte do Rio que traz em seu nome, a Unidos da Tijuca nasceu na Rua São Miguel, que no sincretismo religioso corresponde a Logun-Edé. Além disso, a escola tem as mesmas cores do orixá em seu pavilhão, o amarelo e o azul, e compartilha do mesmo animal que a divindade: o pavão.
– A partir disso, começamos a entender como é tratado esse orixá que se julga um menino, mas que o velho respeita pela sabedoria e pela bravura dele, e vemos a relação no mundo contemporâneo de Logun-Edé com a escola e com o que estamos vivendo atualmente – continua. Em uma das salas do barracão da Unidos da Tijuca na Cidade do Samba, Edson também destaca a importância de se discutir a ancestralidade e a negritude nos desfiles de carnaval, temas que a escola não trabalhava há mais de 20 anos, de acordo com o carnavalesco.
Apesar de ser um orixá menos difundido em comparação aos outros, Logun-Edé “traz uma sabedoria muito grande e muitos conhecimentos para a nossa cultura”, afirma Edson. “Acho muito importante hoje falarmos sobre esse orixá. Não somente sobre o orixá, mas também sobre a sua ancestralidade, sobre a nossa ancestralidade, de uma maneira que possamos ensinar às pessoas.”
Preparação
– O processo foi muito calmo este ano porque começamos muito cedo – conta Junior Bandeira, na Unidos da Tijuca há 12 anos. Na agremiação, Junior, que veio da escola de samba Imperatriz de Olaria, de Nova Friburgo, na região serrana, é responsável pela confecção de fantasias, trabalhando com uma equipe de cerca de dez pessoas. No mesmo andar, a esposa dele, Denize Peres, lidera outra equipe com aproximadamente a mesma quantidade de pessoas envolvidas na produção das roupas.
São mais ou menos 380 fantasias confeccionadas por cada ateliê, que levam de 30 a 40 dias para ficarem prontas, segundo Junior. “Quando tem o material, conseguimos fazer em torno de 30 a 40 dias, mas tem todo o processo de chegada do material, isso demora um pouco, ficam algumas pendências para o final, mas é mais ou menos esse tempo que leva”, explica.
Todas as fantasias são produzidas no barracão, com acompanhamento da direção e do carnavalesco da agremiação. Após o desfile, as fantasias são desmanchadas, e o material é vendido para escolas de outras cidades, para ser usado no próximo ano. Ao todo, a Unidos da Tijuca reúne atualmente em torno de 150 pessoas envolvidas na construção do desfile deste ano.
A esperança de Junior é que a escola seja campeã do carnaval, retornando para o bairro da Tijuca com o quarto título como vencedora do Grupo Especial do Rio de Janeiro. O último foi conquistado em 2014, com o enredo Acelera, Tijuca!, que homenageou o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, morto em um acidente de carro durante o Grande Prêmio de San Marino, na Itália, 20 anos antes, em 1º de maio de 1994. A agremiação também foi vencedora nos anos de 2010 e 2012, com os enredos É Segredo! e O Dia em que Toda a Realeza Desembarcou na Avenida para Coroar o Rei Luiz do Sertão.
Em março, a Unidos da Tijuca será a primeira escola a desfilar no dia 3 de março no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. À Agência Brasil, Edson garante que as expectativas para este ano são “as melhores possíveis”. “Precisamos fazer desse enredo, desse desfile, o melhor desfile das nossas vidas aqui na Unidos da Tijuca, para podermos cumprir com as expectativas não só da comunidade, mas também do mundo do samba”, afirma.