Sexta, 25 de Julho de 2025 às 15:25, por: Rui Martins
Até onde irá o presidente Trump, decidido a perseguir a imprensa independente, deixando a impressão de preparar o terreno para governar sem contestação, obter um terceiro mandato e se tornar o primeiro ditador nos EUA, considerado até agora o paraíso da democracia e liberdade?
Por Rui Martins, editor do Direto da Redação.
O caso Epstein, milionário pedófilo e proxeneta, inquieta Trump.
Essa indagação resulta, entre outras, da atual reação de Trump a uma publicação no Wall Street Journal, acompanhada de um seu desenho lascivo e obsceno do púbis de uma mulher, enviado há alguns anos a Jeffrey Epstein. Por ocasião dos 50 anos do ricaço boa pinta, muitos de seus amigos lhe enviaram, em 2003, uma carta ou uma lembrança para ser integrada num album comemorativo, entre elas havia a carta com desenho erótico de Trump.
Essa publicação no Wall Street Journal relançou o caso Epstein, o gestor de fortunas que se tornou milionário, acusado de pedofilia e de utilizar jovens menores numa rede de prostituição de luxo, tendo mesmo comprado para isso uma ilha, onde promovia festas com presença de milionários e políticos. Denunciado por proxenetismo e pedofilia, Epstein teria se suicidado na prisão aos 66 anos, embora exista o rumor de ter sido assassinado para não comprometer gente importante. Trump havia prometido, na campanha eleitoral, revelar os nomes de todos os clientes de Epstein.
Trump entrou com uma queixa judicial por difamação contra a publicação do desenho a ele atribuído pelo Wall Street Journal, alegando não saber desenhar, pedindo uma enorme fortuna como indenização moral. Entretanto, a imprensa lembra ter havido muitos desenhos de Trump vendidos, no começo deste século, chegando mesmo a alcançar alto preço em leilões pelo Sotheby, quando seu nome se tornou conhecido como político.
Trump mente com frequência, mas para não ser desmentido precisa controlar a grande imprensa ou coagir e ameaçar quem puder contar a verdade.
Outra possibilidade é a de provocar novos escândalos para desviar a atenção dos seus seguidores do caso Epstein. O The Washington Post conta os malabarismos de Trump para desviar a atenção de seus seguidores tratando da ex-administradora da agência USAID, da equipe de futebol Washington Commanders, de uma antia conspiração contra ele pela administração do governo Obama e criou mesmo um video fake com a prisão de Obama e anunciou a publicação de centenas de documentos sobre o assassinato do pastor Martin Luther King em 1968.
Trump é especialista em criar novos problemas para desviar a atenção das questões que possam embaraçá-lo. O problema atual é o caso Epstein ter provocado descontentamentos na própria base republicana e entre seus seguidores. Uma espécie de feitiço contra o feiticeiro, pois Trump tinha sempre utilizado o caso Epstein contra os democratas.
Como se não bastasse, anulou as credenciais dos jornalistas do Wall Street Journal para terem acesso ao Air Force One, nas viagens presidenciais. Essa não foi a primeira reação contra a imprensa, em fevereiro, Trump havia proibido à agência Associated Press de entrar no Salão Oval da Casa Branca, onde se realizam as entrevistas presidenciais, por um motivo mais ameno: a agência AP se negou a trocar o nome do Golfo do México para Golfo da América como decidido pelo presidente.
Trump mudou também o sistema de acesso privilegiado ao presidente, já existente há muito anos, elaborado com a participação da Associação dos jornalistas na Casa Branca. Eram os próprios jornalistas que formavam um pool para viagens ou encontros especiais com o presidente, criando uma espécie de rodízio entre os jornalistas das principais agências e jornais.
Depois do atrito com a agência AP, o pool, grupo reduzido de jornalistas na Casa Branca, é escolhido pela administração Trump e passou a incluir os mais vistos influenciadores trumpistas de canais e podcasts.
Tudo leva a crer existir um plano de Trump para modular a imprensa norte-americana, reforçando o risco de um controle gradativo da liberdade de informação.
A ironia é ser esse governo, empenhado em jugular a liberdade de imprensa nos EUA, que tenta intervir e utilizar mesmo de chantagem para impedir o julgamento do ex-presidente Bolsonaro e alguns generais envolvidos numa tentativa de provocar um golpe militar e implantar uma ditadura no Brasil.
Rui Martinsé jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.