A Eletrobras tem preço estimado em R$ 370 bilhões e o governo dispõe de 70% das ações da empresa, das quais pretende abrir mão por menos de R$ 25 bilhões, menos que os R$30 bilhões de lucro que empresa teve nos últimos dois anos.
Por Redação - de Brasília
Líder do PT na Câmara, o deputado Elvino Bohn Gass (RS) voltou a criticar, nesta terça-feira, a aprovação da privatização da Eletrobras, apreciada pela Casa na véspera, em segunda votação. Ele acredita na revogação da medida num futuro governo de oposição que substituirá o atual dirigido por Jair Bolsonaro.
— Nenhum país do mundo se desfaz de estruturas como a Eletrobras, entrega de mão beijada a outros países e joga todo o aumento da conta de luz para os consumidores — disse.
A Eletrobras tem preço estimado em R$ 370 bilhões e o governo dispõe de 70% das ações da empresa, das quais pretende abrir mão por menos de R$ 25 bilhões, menos que os R$30 bilhões de lucro que empresa teve nos últimos dois anos. A empresa ainda tem outros R$ 15 bilhões em reservas, e foi construída com o sangue e suor dos brasileiros, graças a investimentos realizados pelo Estado. Tudo já foi amortizado, via tarifa.
No Supremo
Cinquenta anos depois de sua instalação, como parte de um projeto nacional de desenvolvimento, no entanto, a Eletrobras será privatizada. A Câmara aprovou o texto-base da Medida Provisória (MP) de privatização da estatal, que responde por quase 30% da geração de energia no país. Foram 258 votos a favor e 136 contra.
Em longa sessão, de seis horas, a oposição fez obstrução e apresentou requerimentos na tentativa de tirar o projeto da pauta. Depois do texto-base, os deputados passaram a discutir emendas, aprovando a maioria. A oposição cogita recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Apresentada em fevereiro, a MP passou na Câmara em 19 de maio (313 votos a favor, 166 contra e cinco abstenções) e no Senado em 17 de junho (42 a 37). Como foi alterado, voltou para a Câmara. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), convocou sessão extraordinária para esta segunda, com a MP como item único da pauta, já que o projeto perderia vigência amanhã.
Pandemia
Muitos deputados defenderam, inclusive, que não houvesse sessão, na véspera, em tributo aos 500 mil mortos em consequência da covid-19, marca atingida no último sábado (19). Vários trajavam roupas pretas, em sinal de luto. Lira informou que, em contato com o presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), será decretado luto oficial de três dias, mas sem interrupção das atividades legislativas.
— Estamos falando de um imenso patrimônio público. É a sexta empresa mais lucrativa do Brasil hoje — ressaltou o líder da Minoria, Marcelo Freixo (Psol-RJ, que formalizou, nesta terça-feira, sua filiação ao PSB).
Freixo enfatizou o caráter estratégico da companhia para “a soberania energética” do país, em vez de entregá-la a “sanguessugas privados”. Seu colega Alessandro Molon (PSB-RJ) reforçou, dizendo que o projeto governista está “recheado de reservas de mercado e interesses privados”.
Para fazer jus aos novos tempos, coube a um militar, o deputado General Peternelli (PSL-SP), encerrar a sessão, às 21h23.