Segundo os conselheiros do mandatário, com base em conversas com colegas do Podemos, no Congresso, a candidatura de Moro “é para valer”. As chances de Moro chegar ao segundo turno no lugar de Bolsonaro, contra o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, seriam mínimas.
Por Redação - de Brasília
Em conversas adiantadas com o Podemos, com vistas a uma possível candidatura à Presidência da República, em 2022, o ex-juiz Sérgio Moro representa alto risco para a provável tentativa de um segundo mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Na avaliação de analista ouvido pela reportagem do Correio do Brasil, “há segredos que Moro conhece, do tempo em que foi ministro da Justiça do atual governo, e podem não resistir à pressão de uma campanha eleitoral”.
Bolsonaro fritou o ministro Sérgio Moro em fogo baixo, na esperança que ele pedisse demissão do cargo, mas Moro saiu atirando
Em entrevista ao diário britânico Financial Times, após deixar o ministério, Moro deixou antever sua mágoa com o ex-aliado ao afirmar que foi usado, no governo Bolsonaro, para passar a imagem de que iria combater a corrupção, no país. Sua presença na equipe ministerial, disse Moro, visava demonstrar que medidas anticorrupção estavam sendo tomadas quando, na realidade, o governo não estava fazendo muito e que esta agenda teria sofrido reveses desde 2018, quando Bolsonaro se elegeu.
Na véspera, Bolsonaro teria sido lembrado por interlocutores quanto ao potencial de risco que Moro representa para seus planos eleitorais, segundo nota na edição desta terça-feira, em um dos diários conservadores cariocas. Aliados de Jair Bolsonaro teriam aproveitado uma recente viagem com o presidente, durante a comemoração dos mil dias de governo, para "alertá-lo" sobre a candidatura de Sergio Moro.
Segundo os conselheiros do mandatário, com base em conversas com colegas do Podemos, no Congresso, a candidatura de Moro “é para valer”. As chances de Moro chegar ao segundo turno no lugar de Bolsonaro, contra o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, seriam mínimas. De acordo com aqueles mesmos interlocutores, Moro tem garantida a antipatia da esquerda e perdeu parte da direita, ao sair do governo atirando.
Segredos
Em nível judicial, no entanto, Bolsonaro e Moro já se encontram em lados opostos. Os advogados do ex-ministro da Justiça representaram junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para rebater um argumento apresentado pela Advocacia-Geral da União (AGU) de que o vídeo de uma reunião entre Moro e Bolsonaro não poderia ser divulgado na íntegra por conter assuntos sensíveis. De acordo com a defesa de Moro, a gravação não contém “segredos de Estado” e ele estaria disposto a ratificar suas posições.
“Eventuais colocações constrangedoras do Exmo. Presidente da República, passíveis de constatação durante esta reunião, sobre estes ou outros assuntos ali tratados, não são motivos aptos a impedir o atendimento da determinação de Vossa Excelência, pois não se revelam ‘segredo de Estado’ (como referido pela AGU, que estejam ligados, por exemplo, às Relações Exteriores), estes sim, uma vez detectados no exame a ser realizado por Vossa Excelência sobre os tais registros audiovisuais, passíveis de proteção através de sigilo parcial”, diz o documento.
Na petição, os advogados solicitavam que o ministro mantivesse a decisão que determinou o fornecimento da cópia integral do material ao processo, ainda em curso no STF e sob segredo de Justiça. A ação aponta irregularidades cometidas por Bolsonaro, na tentativa de impor regras não republicanas à gestão da Polícia Federal (PF), com a substituição de delegados à revelia das normas legais.