Imagens de câmeras corporais flagraram ação que levou à prisão de dois policiais militares por homicídio doloso.
Por Redação, com Agenda do Poder – de São Paulo
Imagens gravadas por câmeras acopladas ao uniforme de policiais militares revelam o momento em que um suspeito rendido é executado durante uma ação da PM em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo. A reportagem do diário conservador paulistano Folha de S.Paulo, que obteve o vídeo originalmente divulgado pela TV Globo, mostra que Igor Oliveira de Moraes Santos, de 24 anos, foi alvejado duas vezes mesmo após se render.

A gravação, feita na última quarta-feira, registra cerca de dois minutos da operação da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas), em que pelo menos quatro policiais invadem uma residência da comunidade. Igor aparece inicialmente agachado, com os braços erguidos, e depois se levanta com a mão direita levantada, já com uma mancha de sangue visível no peito. Mesmo assim, ele é atingido por novos disparos.
Dois dos agentes envolvidos na ação, identificados como Renato Torquatto da Cruz e Robson Noguchi de Lima, foram presos em flagrante e indiciados por homicídio doloso. Segundo a Polícia Militar, os PMs sabiam que estavam cometendo uma ilegalidade. “Os policiais que cometeram erros sabiam que estavam cometendo erros e optaram por isso”, afirmou o coronel Emerson Massera, chefe da comunicação da corporação, em entrevista coletiva na última sexta-feira.
As imagens foram registradas por câmeras operacionais portáteis (COPs) de novo modelo, que possuem tecnologia bluetooth. Quando um dos equipamentos é acionado, todos os outros em um raio de 20 metros começam a gravar automaticamente. A tecnologia, que visava ampliar a transparência das ações policiais, acabou sendo decisiva para demonstrar a conduta ilegal dos agentes.
De acordo com o boletim de ocorrência inicial, um dos PMs alegou que Igor teria sacado uma arma da cintura, justificando os disparos. No entanto, as imagens mostram o contrário: o suspeito estava desarmado e já rendido. O Ministério Público de São Paulo solicitou a conversão da prisão em flagrante dos policiais para preventiva. A investigação está a cargo do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), que analisa as gravações. A Polícia Judiciária Militar também instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM).
Outros dois PMs também foram indiciados por prestarem depoimentos com versões incompatíveis com o vídeo. A defesa dos policiais não foi localizada até a publicação da reportagem.
Protestos em Paraisópolis
A morte de Igor desencadeou uma série de protestos em Paraisópolis na noite de quinta-feira. Moradores incendiaram pneus, viraram veículos e interditaram ruas em protesto contra a ação policial. Na sequência, uma nova operação foi realizada na comunidade, resultando em mais um suspeito morto e um agente da Rota (tropa de elite da PM) ferido.
A PM informou ainda que Igor possuía passagem pela Fundação Casa por atos infracionais análogos a roubo e tráfico de drogas. Os demais suspeitos que estavam com ele também tinham antecedentes criminais, segundo a corporação.
Apesar do histórico dos envolvidos, o coronel Massera reforçou que o treinamento recebido pelos PMs é suficiente para evitar ações ilegais. “A falta de preparo não pode ser usada como justificativa para ações dolosas. O policial sabe que não pode atirar em alguém rendido.”
O caso reacende o debate sobre a letalidade policial em comunidades periféricas e sobre a eficácia dos mecanismos de controle e responsabilização de agentes públicos em operações de segurança.