Com a queda da inflação, houve uma natural mudança da pesquisa em macroeconomia, já que inflação e o combate a ela deixaram de ser o tema mais premente da discussão em economia.
Por Redação, com ABr - de Brasília
Os brasileiros com mais de 40 anos têm fácil memória das estratégias das famílias para mitigar os efeitos da hiperinflação sobre a renda nos anos 1980 e 1990.
— Era uma ginástica danada. Tinha que ir atrás de promoções e nem sempre eram suficientes — conta Rute Maria de Souza, dona de um restaurante self-service há quase 30 anos na zona central de Brasília.
O real não resolveu as questões referentes ao crescimento do país, constata economista
Tendo que repor constantemente a despensa da cozinha do estabelecimento, a empresária ia mais de uma vez ao dia em supermercados e sempre via a mesma cena:
— Eu me lembro das remarcações no mercado. Quando chegava, lá estava a maquininha trabalhando.
Inflação
Para fugir das intermináveis remarcações, a então professora de ensino fundamental Cléia Gerin, mãe de quatro filhos, estocava alimentos, material de limpeza e sabão para lavar roupa.
— O feijão ficava velho, e assim era mais difícil de cozinhar. Acabava que gastava mais gás — comenta, ao citar a necessidade de sempre comprar mais do que efetivamente precisava no mês para fugir da imparável subida de preços.
Mas implementação do Plano Real, apesar da vitória de erradicar a hiperinflação que assolou a economia brasileira nos anos 1980 e 1990, não promoveu o crescimento sustentável. Desde a entrada em vigor das medidas, em 1994, o país alterna momentos de expansão com recessões profundas.
Microeconomia
Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e presidente da Associação Nacional de Centros de Pós-Graduação em Economia (ANPEC), Roberto Meurer indica que a implementação do Plano Real e o fim da hiperinflação mudaram a pesquisa acadêmica e os interesses das dissertações de mestrados e teses de doutorados.
— Com a queda da inflação, houve uma natural mudança da pesquisa em macroeconomia, já que inflação e o combate a ela deixaram de ser o tema mais premente da discussão em economia. O que se viu foi, em termos amplos, uma gradual migração de parcela relevante da pesquisa da área de macroeconomia aplicada (como relação entre grandes variáveis da economia) para a microeconomia aplicada (que estuda o comportamento dos agentes econômicos) — resumiu Meurer.