Segundo o relato, os pacientes da clínica oftalmológica há mais de 20 anos “não podem mais operar catarata no Hospital e estão sendo encaminhados para a clínica da família para serem ‘regulados’ pelo Sistema Nacional de Regulação (SISREG)”.
Por Redação - do Rio de Janeiro
“Vivemos um momento desafiador no Hospital Municipal (HM) da Piedade”. O desabafo de um dos servidores da unidade de saúde, neste domingo, à reportagem do Correio do Brasil, sob condição de anonimato, revela as dificuldades porque passa o Serviço de Oftalmologia.

Segundo o relato, os pacientes da clínica oftalmológica há mais de 20 anos “não podem mais operar catarata no Hospital e estão sendo encaminhados para a clínica da família para serem ‘regulados’ pelo Sistema Nacional de Regulação (SISREG)”.
— Fomos obrigados a suspender cirurgias marcadas, pois os pacientes foram considerados irregulares — relata.
Aparelho
A oferta de vagas de catarata, segundo fonte, está condicionada atualmente a autonomia da unidade na realização dos exames pré-operatórios.
— O aparelho de ecobiometria, que está antigo e descalibrado, ficou obsoleto. Ele é considerado essencial para a oferta de catarata. Por conta disso, fomos obrigados a fechar o setor de catarata, e os pacientes que chegam à Clínica da Família estão sendo encaminhados, para nossa surpresa, não apenas para o recém-montado Centro Carioca do Olho mas em sua grande maioria para prestadores privados, que não os acompanham depois — acrescentou.
A solução parcial para as dificuldades, no entanto, partiu do próprio pessoal do hospital. Os residentes se organizaram, fazem ecobiometria com biometro emprestado, mas a princípio o setor de catarata não pôde ser reaberto pois o aparelho não se encontra no rol de propriedades do Hospital.
Ao longo do ano passado, o serviço recebeu da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) aparelhos de facoemulsificação e vitrectomia da Alcon, um investimento altíssimo mas incompleto, pois a compra dos equipamentos não foi acompanhada dos insumos necessários para a utilização dos equipamentos. O valor de compra dos dois aparelhos totalizou o valor de R$ 950 mil e ambos estão parados, sem uso, por falta de produtos de consumo.
Baixa produção
Os profissionais que atendem ao público também pediram “inúmeras vezes”, segundo o servidor público, “um aparelho de ultrassom e ecobiometro, entretanto a compra dos equipamentos não segue adiante na SMS”.
— Essa semana quase não operamos por falta de pacientes regulados no SISREG, e pela baixa produção querem ceder uma de nossas salas do centro cirúrgico para cirurgias da urologia, ginecologia e proctologia, compartilhando o expurgo — pontua.
O ecobiômetro, aparelho que calcula o grau da lente e é indispensável para a oferta de vagas de catarata tem custo estimado de R$ 35 mil. Pela ausência dele o setor de catarata foi fechado.
Oftalmologistas
O Serviço de Oftalmologia da Piedade foi um berço de grandes profissionais que hoje atuam no mercado. A residência médica na unidade, credenciada pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), tem tradição de mais de 30 anos, e os oftalmologistas formados se destacam não apenas pela técnica, “mas pela integridade e comprometimento com as boas práticas da medicina”, pontuou.
Atualmente, há 12 residentes no Serviço; além de 16 oftalmologistas, dos quais apenas 2 são contratados. Os servidores públicos, no entanto, assistem ao sucateamento e desmonte do serviço ao longo dos anos. Em um momento crítico, os profissionais pedem, publicamente, um posicionamento da SMS em relação às demandas e lançaram, na internet, um abaixo assinado que visa mobilizar os poder público.
Fim da fila
A equipe possui médicos especialistas em Catarata, Glaucoma, Retina, Oculoplástica e Vias Lacrimais, Estrabismo e Córnea.
— Cabe por último ressaltar que, de acordo com o fluxo do SISREG estabelecido para os pacientes do HM Piedade, os pacientes encaminhados para atendimento nas subespecialidades necessitam retornar à clínica da família para nova regulação, caso precisem mudar de linha de tratamento. Por exemplo, o paciente da oftalmologia geral que tem glaucoma ou retinopatia diabética diagnosticada precisa voltar para o fim da fila na clínica da família, mesmo que tenhamos vaga nas respectivas especialidades, mesmo que corra o risco de evoluir para perda definitiva da acuidade visual. Consideramos este um fluxo extremamente prejudicial à população e ao funcionamento do serviço, e que vai contra o princípio da integralidade do SUS — pontuou.
Procurada por telefone, a SMS não retornou às ligações, até o fechamento da matéria.