Para o missionário, “a agonia vai substituindo a esperança de encontrar com vida Bruno Pereira e Dom Phillips”, desaparecidos desde o último dia 5. “As evidências vão surgindo”, disse Chico. A começar pelo suspeito preso no último dia 7, o pescador Amarildo da Costa Oliveira.
Por Redação, com RBA - de Brasília
Os desaparecimentos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips tem a corresponsabilidade de Jair Bolsonaro. A avaliação é de Guenter Francisco Loebens, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Norte I, com atuação nos Estados do Amazonas e Roraima. O missionário, conhecido como Chico do Cimi, disse à RBA que o presidente estimula o “agir impunemente” de invasores, garimpeiros, desmatadores, grileiros e outros criminosos.
Bolsonaro, chegou a atribuir desaparecimentos a uma "aventura não recomendável" do jornalista e do indigenista desaparecidos
– Trata-se de uma política mais ampla sinalizada por Jair Bolsonaro. Além de integralista, que ‘índio é coisa do passado, tem de ser gente’, estimula todo tipo de invasão para o esbulho dos territórios indígenas. E ainda enfraqueceu os órgãos de fiscalização e a própria Funai. Colocou no comando pessoas sem qualificação, que agem contra os direitos dos povos indígenas. Há pelo menos 15 diferentes povos indígenas isolados, vítimas de pescadores, caçadores, madeireiros – afirmou Chico, que atua com povos isolados.
Para o missionário, “a agonia vai substituindo a esperança de encontrar com vida Bruno Pereira e Dom Phillips”, desaparecidos desde o último dia 5. “As evidências vão surgindo”, disse Chico. A começar pelo suspeito preso no último dia 7, o pescador Amarildo da Costa Oliveira. Segundo testemunhas, o suspeito tem histórico de ameaças a Bruno e também poderia ser autor de ataques a servidores da Funai e à terra indígena do Vale do Javari.
A boiada e o sumiço de Bruno e Dom
O missionário considerou ainda “lamentável” o episódio de segunda-feira, em que a Globo divulgou, sem confirmação, que os corpos dos desaparecidos foram encontrados. “Não se sabe como a informação chegou ou se a Polícia Federal tem alguma razão para demorar a confirmar.”
Desinteresse do governo pelo caso
Ele criticou ainda a demonstração de desinteresse do governo pelo caso, lembrando que Bolsonaro chegou a culpar as vítimas por seguir “uma aventura não recomendável”. O missionário contestou ainda o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, disse que Bruno não tinha autorização para entrar na Terra Indígena Vale do Javari. Inclusive, Xavier defendeu que a Polícia Federal abrisse inquérito contra o indigenista.
O missionário observa que “a boiada começou a passar com força”, mas espera que a repercussão internacional do sumiço de Bruno e Dom ajude a frear a “política genocida e anti-indígena do governo”. E que o caso some-se a outros, reforçando processos contra o presidente e seu governo em órgãos internacionais. Ou seja, Organização dos Estados Americanos, Nações Unidas e Tribunal Penal Internacional de Haia, onde tramitam ações.
– Isso reforça a necessidade da apuração desse sistemático estímulo aos que estão atacando os direitos dos indígenas e de quem os defendem. E também de que reforce a pressão sobre o próprio governo. E que tome as medidas necessárias – disse Chico do Cimi.