Rio de Janeiro, 27 de Julho de 2025

Gaeco: ‘home office’ do tráfico abalou esquema de Johnny Bravo na Rocinha

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Sexta, 06 de Junho de 2025 às 11:55, por: CdB

Apesar do cerco realizado pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), nenhum dos principais alvos foi capturado.

Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro

O que inicialmente serviu como uma estratégia para ampliar os lucros do tráfico na Rocinha pode ter se transformado em um problema para John Wallace da Silva Viana, o Johnny Bravo, líder do Comando Vermelho (CV) na favela do Rio, segundo o blog Segredos do Crime, do diário conservador carioca O Globo. De acordo com o Ministério Público do Ceará, ao oferecer refúgio a líderes da facção oriundos de outros Estados, Johnny Bravo não apenas colocou em risco a segurança de sua base, mas também comprometeu o próprio funcionamento do comércio de drogas na região.

Gaeco: ‘home office’ do tráfico abalou esquema de Johnny Bravo na Rocinha | Tráfico remoto afetou operação de Johnny Bravo na Rocinha, diz Gaeco
Tráfico remoto afetou operação de Johnny Bravo na Rocinha, diz Gaeco

A constatação veio à tona após uma megaoperação realizada no último sábado, articulada entre os Ministérios Públicos do Ceará e do Rio de Janeiro, com apoio das secretarias de Segurança Pública e da Polícia Militar fluminense. A ação tinha como alvo a cúpula do CV cearense, que operava remotamente a partir da capital fluminense. O foco era a Dioneia, uma das áreas mais altas e isoladas da Rocinha, onde o grupo havia instalado sua base de comando.

Apesar do cerco realizado pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), nenhum dos principais alvos foi capturado. Imagens aéreas registradas por drones recém-adquiridos pelo governo estadual mostraram dezenas de criminosos fortemente armados fugindo pela mata. O vídeo, exibido com exclusividade pelo O Globo, revela traficantes vestidos de preto, com mochilas carregando suprimentos e fuzis, saindo em fila por trilhas da Floresta da Tijuca.

O governador Cláudio Castro acompanhou a operação em tempo real ao lado da cúpula da segurança e de promotores no Quartel-General da PM, no Centro do Rio. Questionado publicamente sobre a possibilidade de vazamento de informações, Castro afirmou que, se houve falha, ela teria partido das forças de segurança cearenses:

— Questão de vazamento ou não, essa foi uma operação do Ceará. Se houve, com certeza foi do pessoal da polícia de lá. Daqui, a gente tem a tranquilidade de ter os nossos dados muito compartimentados. É óbvio que, como é uma investigação de lá, tudo foi compartilhado com o Ceará. Acho que tem que haver uma investigação, sim, de quem cedeu essas imagens. Porque quem cede para o jornalista pode ter cedido para pessoas que não deveriam ter acesso àquelas imagens — declarou.

A fala gerou desconforto entre os dois Estados. Em nota, a Polícia Civil do Ceará reagiu dizendo que o governador do Rio “carece de embasamento”. Já o Ministério Público cearense preferiu não comentar.

Hospedagem por R$ 100 mil

De acordo com o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP do Ceará, os chefes do tráfico pagavam R$ 100 mil para se esconder na parte alta da Rocinha. Não se sabe, no entanto, se o valor era cobrado por semana ou por mês. A operação de sábado mirava o cumprimento de 29 mandados de prisão e 14 de busca e apreensão. Apenas um suspeito foi preso.

Durante a operação, agentes encontraram uma mansão de alto padrão, com piscina aquecida, cascata, área gourmet, academia, sinuca e deck com vista panorâmica. O imóvel pertenceria a Anastácio Pereira Paiva, conhecido como Doze ou Paizão, de 36 anos. Segundo o Gaeco, ele é o número dois na hierarquia do CV no Ceará, responsável pela região de Santa Quitéria, o maior município em extensão territorial do estado.

O chefe da facção é José Mário Pires Magalhães, o ZM ou Bin Laden, de 39 anos. Ambos têm extensa ficha criminal, incluindo homicídios e envolvimento com organizações criminosas. De acordo com os promotores, Doze costuma executar rivais com extrema crueldade. Ele mandaria gravar execuções para fins de intimidação, como em vídeos em que o esquartejamento de vítimas ainda vivas é feito com motosserra. Em uma das cenas mais brutais descritas, traficantes jogam futebol com a cabeça de um inimigo.

Home office do tráfico

A rede criminosa cearense manteve seu esquema ativo mesmo longe de casa. A partir da Rocinha, os criminosos controlavam a venda de drogas, além de negócios paralelos como exploração de serviços clandestinos de internet e TV a cabo. A cúpula da segurança do Rio batizou a estrutura de “home office do tráfico”, numa alusão à descentralização das atividades criminosas.

Outros líderes cearenses com posições intermediárias no CV também estariam refugiados na Rocinha, entre eles Bruno Félix Castro, Carlos Luiz da Costa, Jairo Morais de Vasconcelos e Álvaro Luiz Martins. A inteligência do governo fluminense também aponta a presença de criminosos de estados como Goiás e Pará abrigados na comunidade.

Segundo o governador Cláudio Castro, a ação serviu para atualizar o mapeamento de inteligência da região. Como estratégia de proteção à população, a operação foi realizada fora dos dias úteis, para evitar a movimentação de estudantes na comunidade.

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