Rio de Janeiro, 03 de Setembro de 2025

Estudante que confrontou Bolsonaro se arrepende de ter votado nele

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Quinta, 27 de Janeiro de 2022 às 11:41, por: CdB

Perseguida pela segurança do mandatário neofascista, a estudante contou que somente conseguiu sair das imediações do 'chiqueirinho' quando fingiu ter apagado o vídeo, que já tinha sido enviado e salvo em um aplicativo de mensagens. Hadassa ainda ouviu de seguranças de Bolsonaro que está proibida de voltar ao Palácio da Alvorada.

Por Redação, com CartaCapital - de Brasília
O nome de uma jovem estudante de 19 anos ganhou projeção nacional, nos últimos dias, depois que um vídeo gravado por ela foi assistido por milhões de brasileiros. Hadassa Gomes protagonizou uma cena de enfrentamento ao presidente Jair Bolsonaro (PL), no conhecido ‘chiqueirinho’ do Palácio da Alvorada. Ela disse, diretamente para o mandatário, que ele é uma “farsa”.
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Bolsonaro levou um susto quando foi chamado de 'farsa', durante passagem pelo chamado 'chiqueirinho' do Alvorada
A jovem, que mora no interior de São Paulo e passava férias com a família em Brasília, falou à revista CartaCapital sobre o episódio. Antes simpatizante de Bolsonaro, ela agora se arrepende do apoio ao mandatário neofascista. — Eu não votei na época que ele se candidatou, mas eu gostava dele. Hoje eu me arrependo amargamente, obviamente. Eu conheci política bem naquela época que ele vinha ganhando evidência. Em 2016 que eu comecei a acompanhar, tinha 14, 13 anos, e comecei a acompanhar como alguém que não sabia nada, eu não tinha noção nenhuma — afirmou à revista. Impotente Ainda segundo Gomes, “a visão que eu tinha, de uma adolescente que não sabia nada de política, era aquela sujeira, então política é suja, tudo sujo”. — E quando o vi falando daquela maneira que passa um tom de honestidade, eu acreditei que ele realmente era uma exceção dentro da sujeira e acabei entrando na narrativa de que existe todo um sistema e ele era o pilar de honestidade ali, o único que se levantava contra a corrupção — acrescentou. O descontentamento da jovem com Bolsonaro, no entanto, cristalizou-se em 2020, com a chegada da pandemia. Hadassa perdeu amigos e conhecidos para a covid-19.

Interesse político

Evangélica, Hadassa Gomes também questiona a forma como Bolsonaro se apropria de passagens e figuras bíblicas e acredita que o presidente usa a religião em prol de seu projeto de poder. — Infelizmente tem esse lado da igreja evangélica que eu repudio completamente, porque não dá pra ver Cristo ali, não dá pra ver os valores que eu aprendi, sabe? Não dá pra ver o que eu acredito — desabafou. A estudante contou também à CartaCapital que se sentiu coagida pelos apoiadores do presidente Bolsonaro e pelos seguranças do mandatário, que a retiraram do local e exigiram que ela apagasse os registros que fez em vídeo, sob o risco de não a deixarem sair do local. — Quando eu faço a última pergunta que deu pra fazer, o segurança bate no meu celular, e desliga o vídeo, sozinho. Nessa, eles estavam me empurrando com a força do corpo deles para o gramado, em volta do cercadinho. Estavam me empurrando, me fechando, me impedindo de me locomover para onde eu quisesse. Eles tentavam pegar da minha mão o celular, à força, vinham por trás, só que eu prendi no meu corpo e falei não. E eles ficavam falando assim, você só vai sair daqui com os vídeos apagados, você tem que apagar — relatou.

Notícias falsas

A estudante contou que somente conseguiu sair das imediações do 'chiqueirinho' quando fingiu ter apagado o vídeo, que já tinha sido enviado e salvo em um aplicativo de mensagens. Hadassa ainda ouviu de seguranças de Bolsonaro que está proibida de voltar ao Palácio da Alvorada. — Eles pegaram meu RG, CPF, tiraram foto e mandaram eu sair e falaram que estou proibida de voltar no Palácio da Alvorada — denuncia. Ela ainda rechaça as notícias falsas que surgiram após o episódio e as ondas de ataques virtuais protagonizados por apoiadores do presidente em suas redes sociais. — Então, primeiro veio uma chuva de pessoas que realmente apoiaram, de todos os lados políticos, que gostaram, se sentiram representadas de alguma forma e entenderam que era uma cidadã qualquer ali, sabe, falando o que pensa. Só que depois, à noite, começaram a chegar umas mensagens mais pesadas, pessoas me pressionando para mostrar meu rosto — lembrou. Ela afirma, ainda, que tomará providências jurídicas diante ameaças. — Também já vi muita fake news de que o PT teria me colocado lá, de que eu seria filiada ao partido, e que o Movimento Brasil Livre (MBL) pagou para eu estar lá. Muita coisa sem sentido — concluiu.
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