A ação predatória dos humanos levou a arara a extinção em praticamente toda a porção leste da Mata Atlântica.
Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro
Os céus cariocas estão prestes a ganhar sons e cores muito especiais. Nada menos do que 200 anos após sua extinção no Estado do Rio, o azul e amarelo típico das araras está de volta a Guanabara. Neste exato minuto, enquanto você lê esta postagem, quatro delas estão em um recinto de aclimatação construído dentro do Parque Nacional da Tijuca, onde passarão de quatro a seis meses em treinamento, fortalecimento da musculatura para grandes voos e adaptação para vida na floresta até estarem aptas à soltura. As aves, que chegaram ao parque no último dia 6, são o pontapé inicial do processo de reintrodução da espécie, onde o último registro delas data de 1818.

O que é uma arara-canindé?
Ela é o clássico dos clássicos. A mais emblemática e reconhecida representante da espécie no Brasil. É também conhecida como arara-de-barriga-amarela, arari, arara-amarela, arara-azul-e-amarela, canindé ou simplesmente Arara. Os indivíduos desta espécie pesam cerca de 1,1 quilograma e chegam a medir até noventa centímetros de comprimento, com as tradicionais partes superiores azuis e inferiores amarelas. Elas podem ser compradas, caso interesse, em criadores autorizados por volta dos R$ 10 mil.
O processo de extinção
A ação predatória dos humanos levou a arara a extinção em praticamente toda a porção leste da Mata Atlântica. No Estado do Rio de Janeiro, o último relato conhecido de araras-canindé data de 1818, quando o naturalista prussiano Johann Natterer coletou dois indivíduos da espécie. Um na própria cidade do Rio e outro em Niterói. Depois desse registro, não há mais nada. Tudo indica que a espécie foi extinta da região em algum momento do século XIX. Você pode até ver uma arara voando por aí de vez em quando. Há registros frequentes de araras isoladas nos céus guanabarinos, mas esses exemplares são pássaros em fuga de seus cativeiros.
A reintrodução na Floresta da Tijuca
Os quatro primeiros espécimes que foram levados a Floresta da Tijuca (três fêmeas e um macho), vieram do Parque Três Pescadores, em Aparecida (SP). Um refúgio de aves para reabilitação de animais apreendidos, a maioria vítima do tráfico de animais silvestres. Além de uma bateria de exames sanitários, elas passaram por testes comportamentais para que fossem escolhidos os animais com mais chance de sobreviver em liberdade e menos acostumados com seres humanos. Todo o processo levou nove meses até a conclusão. Elas no momento estão protegidas em viveiros até que os biólogos as considerem em condições de serem finalmente soltas. Nesse local elas vão se adaptar aos sons, umidade e temperatura da floresta, e já vão se acostumando ao cardápio que terão em breve e inclui frutos de jerivá, juçara ou araçá. Mas a expectativa é que elas possam se alimentar de 400 espécies de plantas existentes no parque.
Recuperação do ecossistema carioca
A reintrodução das araras-canindés (Ara ararauna) é uma iniciativa do Projeto Refauna, organização que já trouxe de volta à floresta carioca cutias, jabutis e bugios. Cada uma dessas espécies, assim como as araras, cumpre um importante papel na manutenção da floresta.
Todas elas se alimentam de sementes de frutos de cutieira, uma árvore que desempenha um papel importantíssimo na natureza. Ao se alimentarem dos frutos, os animais liberam as sementes, auxiliando na sua dispersão e germinação em locais distantes da árvore mãe, o que contribui para a regeneração de toda a floresta.
– O ideal era colocar no mínimo umas 40, 50 araras dentro dos próximos três anos, mas nós sabemos que é difícil de fazer isso pela demora do processo. Mas queremos povoar não apenas o Parque Nacional da Tijuca, mas todo o Rio de Janeiro com araras voando pelos céus e colorindo a cidade – sonha o biólogo da UFRJ e diretor executivo do Refauna, Marcelo Rheingantz.
E o amor está no ar
Segundo os biólogos do Refauna nestes primeiros dias as araras se alimentaram bem e até entraram na tigela de água, o que foi considerado um começo promissor para o processo de aclimatação. E entre as quatro recém-chegadas, um casal já está formado. O que, considerando que as araras adotam um comportamento monogâmico, significa uma dupla para vida inteira. Fofo. Para que as outras não fiquem mal na história, outras três araras do Parque dos Três Pescadores estão passando pelo processo de análise. Dentre elas, dois machos.