Segunda, 15 de Novembro de 2021 às 09:36, por: CdB
Cuba vive uma das maiores crises da sua história pelo recrudescimento do bloqueio econômico, imposto desde 1962 pelos Estados Unidos. Somente durante a gestão de Donald Trump foram aplicadas 264 medidas coercitivas unilaterais. Em 2021, o país arrecadou US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,2 bilhões) a menos que no primeiro semestre de 2020.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Havana
Nesta segunda-feira, Cuba reabre suas fronteiras para turistas depois de 1 ano e meio de restrições pela pandemia de covid-19. O turismo é a principal atividade econômica da ilha caribenha, que sofreu uma retração de 11% do Produto Interno Bruto (PIB) durante 2020. No entanto, o que era para ser um dia de celebração, agora está revestido de certa tensão nacional diante de uma nova convocatória de atos opositores.
Cuba reabre as fronteiras para turismo
– A situação é difícil, estamos fazendo um esforço enorme para sair dela e agora é um bom momento. Justamente por isso houve uma aumento exponencial das ações dos EUA contra Cuba – comenta o cônsul cubano em São Paulo, Pedro Monsón.
Com o desenvolvimento de cinco fórmulas próprias, Cuba conseguiu vacinar 70% da população, equivalente a 7,8 milhões de pessoas incluindo crianças e adolescentes, segundo dados do Ministério de Saúde Pública. Com a imunização, o Executivo assegura que conseguiu controlar a pandemia na ilha.
A partir desta segunda-feira, turistas poderão entrar ao país sem restrições. O governo estabeleceu acordos com 300 linhas aéreas para aumentar a oferta de voos. O Estado ainda oferecerá testes do tipo PCR para certificar que os visitantes não estão infectados e irá proporcionar uma dose de reforço com a vacina Soberana Plus para aqueles que desejam ser vacinados.
Além disso, os 10 aeroportos nacionais do país estarão abertos, assim como 4 mil novos quartos de hoteis foram habilitados para receber os turistas. Em todos os hoteis e pousadas também haverá uma equipe médica para atender os visitantes.
A oposição, no entanto, não questiona as medidas de biossegurança para a retomada do turismo. Desde setembro, as mesmas ONGs que organizaram as manifestações do dia 11 de julho deste ano, voltaram a convocar protestos. As principais bandeiras são o direito à "liberdade" e liberação de supostos "presos políticos".
A convocatória de uma marcha em Havana foi feita em setembro por Yunior García Aguilera, líder da organização Archipiélago (Arquipélago). O governo cubano não deu autorização para que o ato acontecesse por considerá-lo inconstitucional.
O argumento é de que os atos se opõem ao sistema socialista, instaurado no país após a revolução de 1959, enquanto a constituição vigente, aprovada por referendo popular em 2019, estabelece o caráter irrevogável do socialismo no país.
– Os promotores dos atos, suas projeções públicas e seus vínculos com organizações ou agências subversivas financiadas pelo governo dos Estados Unidos com aberta intenão de mudar o sistema político do nosso país – declarou o presidente Miguel Díaz Canel.
Para a diretora do Centro Martin Luther King de Cuba, Llanisca Lugo, as manifestações não representam as demandas atuais da maioria dos cubanos.
– O 15N foi construído como um símbolo no exterior, num âmbito muito polarizado. Ativaram as figuras opositoras mais emblemáticas para anunciar uma agenda e ocultar outra agenda maior. A agenda defendida é a liberdade de direitos num sentido amplo. E a narrativa que está por trás é muito reduzida diante da complexidade de vida do povo cubano – analisa.
Crise
Cuba vive uma das maiores crises da sua história pelo recrudescimento do bloqueio econômico, imposto desde 1962 pelos Estados Unidos. Somente durante a gestão de Donald Trump foram aplicadas 264 medidas coercitivas unilaterais. Em 2021, o país arrecadou US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,2 bilhões) a menos que no primeiro semestre de 2020.
A asfixia gerada pelo bloqueio, que segundo dados oficiais causou prejuízos de US$ 147,8 bilhões (cerca de R$ 813 bilhões) ao país, somada ao aumento de 2300% da inflação após a liberação do dólar e as restrições geradas pela pandemia conformaram uma situação complexa para os cubanos.
Segundo relatos de quem vive no país, é comum ser necessário fazer até 6h de fila para poder adquirir produtos básicos. As sanções dos EUA contra a Venezuela também provocam desabastecimeto de combustível na ilha e a volta dos apagões, já que a principal fonte de energia são as usinas termoelétricas.
– Estamos num momento em que confluiu a crise, a erosão da hegemonia revolucionária e, nessa condensação, as pessoas se aproveitam para promover a agenda de derrubada do 'regime' cubano – analisa representante da Alba Movimentos, Llanisca Lugo.
Apesar das bandeiras opositoras, Lugo destaca que também há setores das artes, cultura e da academia que possuem críticas reais e propostas sobre como atualizar o modelo político cubano.
Desde julho, quando aconteceram as maiores manifestações opositoras desde 1994, representantes do governo cubano passaram a reunir-se com distintos setores organizados da população para escutar suas demandas. "A revolução também começa na periferia", declarou Díaz Canel.
– A sociedade cubana é diversa cultural e ideológicamente. Não podemos exigir de um povo homogeneidade em torno de ideias ou princípios. Temos o desafio de nos encontrarmos nessa complexidade da vida em Cuba, de construir uma prática de participação popular que conceba as ruas como um cenário da revolução e a mobilização como algo que é próprio dos povos do mundo – comenta Lugo.
Para a representante da Alba Movimentos, a situação limite impõe a necessidade de renovar métodos de organização para envolver a juventude no futuro do país.
– Precisamos pensar qual é o papel do partido e das distintas organizações populares em Cuba para dinamizar e construir um novo bloco histórico que reconstrua o consenso revolucionário – afirma Llanisca Lugo.