Segundo Campos Neto, o quadro de dificuldades já era de certa forma antevisto pela autoridade monetária. Ele frisou que, quando o BC começou a falar a respeito, o mercado financeiro ainda era muito cético sobre a recuperação do país, antes mesmo da pandemia.
Por Redação - de Brasília
Presidente do Banco Central, o economista Roberto Campos Neto distancia-se do discurso de Paulo Guedes, ministro da Economia, ao avaliar que a recuperação econômica em formato de V do Brasil está mais lenta. Quanto à volta do auxílio emergencial, no entanto, Campos Neto acredita que investir em vacinas parece ser mais barato do que prolongar programas de transferência de renda.
Presidente do Banco Central, o economista Campos Neto prevê mudanças na forma como são vistos os ativos bancários, após a crise do novo coronavírus
— Tivemos o que foi o início de uma recuperação em V, está perdendo um pouco do ímpeto agora — afirmou ele nesta terça-feira, em inglês, ao participar de evento promovido pela Eurasia Group.
Segundo Campos Neto, esse quadro já era de certa forma antevisto pela autoridade monetária. Ele frisou que, quando o BC começou a falar a respeito, o mercado ainda era muito cético sobre a recuperação do país e que hoje as perspectivas dos agentes já são de uma contração menor do PIB para este ano, algo entre -4% e -4,4%.
Vacinação
De acordo com o presidente do BC, números de “soft data” — medidos a partir de avaliação qualitativa, como índices de confiança — foram afetados nas últimas semanas pelo aumento de casos de covid-19. Ele também disse, sobre o primeiro trimestre do ano que vem, que agora os agentes começam a se perguntar se o aumento recente no casos de coronavírus irá afetar ou não a economia.
Campos Neto pontuou que o mercado está de olho na estratégia para vacinação, em quem tem a vacina antes e na montagem da logística para imunização da população.
Sobre a volta dos investidores estrangeiros ao país, ele afirmou que já é possível ver esse retorno ao mercado, e destacou que esse movimento tende a continuar desde que o Brasil passe a mensagem certa no front fiscal. Nesse sentido, Campos Neto voltou a afirmar que o aumento do prêmio de risco na curva longa de juros está conectado com o quadro fiscal.
Âncora fiscal
Se houver abandono do regime fiscal, o prêmio de risco associado ao Brasil irá subir e o BC terá que agir segundo o efeito desse movimento na inflação, afirmou o presidente do Banco. Contudo, ele disse considerar esse cenário “altamente improvável”.
Campos Neto avaliou que a situação frágil das contas públicas de certa forma já está precificada e que há benefício da dúvida para habilidade do governo em mudar isso.
Ele também afirmou que, a menos que a âncora fiscal do país seja deixada de lado, o Brasil não está e nem deve entrar em processo de dominância fiscal — em que a política monetária não mais consegue controlar a inflação em função da forte deterioração fiscal.