Rio de Janeiro, 26 de Julho de 2025

Búzios enfrenta avanço da grilagem sob intimidação de milicianos

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Segunda, 07 de Julho de 2025 às 11:37, por: CdB

Ministério Público investiga atuação de grupos criminosos da Zona Oeste do Rio na ocupação irregular de terrenos.

Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro

A escalada da grilagem de terras em Armação dos Búzios, na Região dos Lagos, tem sido impulsionada por grupos criminosos com atuação estruturada e, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), por milicianos vindos da Zona Oeste da capital. Invasões, ameaças a proprietários e ocupações ilegais de terrenos têm se tornado cada vez mais frequentes, muitas vezes disfarçadas por ações judiciais e contratos de cessão de posse que tentam dar aparência de legalidade.

Búzios enfrenta avanço da grilagem sob intimidação de milicianos | Búzios enfrenta invasão de milicianos da Zona Oeste do Rio
Búzios enfrenta invasão de milicianos da Zona Oeste do Rio

As informações são de reportagem especial da repórter investigativa do diário conservador carioca O Globo Vera Araújo, na edição impressa do jornal desta segunda-feira.

O promotor Rafael Dopico, integrante do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), acompanha há cinco anos o avanço da milícia na cidade. Segundo ele, a grilagem virou um negócio lucrativo para esses grupos, que passaram a atuar em terrenos de alto valor.

— No início, forneciam água clandestina e TV a cabo. Hoje, invadem terrenos, cercam áreas inteiras, intimidam moradores e, em alguns casos, usam escritórios de advocacia para ajuizar ações e dificultar a reintegração — afirma Dopico. — Em muitos casos, os verdadeiros donos sofrem ameaças físicas e jurídicas.

Um dos episódios investigados envolve a herança da família Bekerman, de origem judaica, que possui cerca de 240 lotes entre Búzios e Cabo Frio, avaliados em mais de R$ 30 milhões. O procurador do herdeiro Yaron Bekerman afirma que foi expulso por homens armados ao tentar cercar parte dos terrenos, na Praia Rasa, em dezembro de 2021.

— Os milicianos chegaram armados, expulsaram os entregadores, roubaram o material de construção e ameaçaram todos — relatou Anderson Gaspari, representante da família. — Depois, recebi uma ligação em que diziam ser os “donos da cidade”.

Para o promotor, o que ocorre hoje em Búzios lembra o processo de ocupação desordenada da Barra da Tijuca nos anos 1970. O crescimento da cidade, especialmente em direção à Praia Rasa, atraiu o interesse de grupos criminosos.

Expansão violenta e organizada

Em dezembro do ano passado, sete pessoas foram presas por envolvimento em um esquema de invasão de terrenos na Estrada da Fazendinha. Segundo o MPRJ, o grupo era liderado por Esmeraldo da Conceição e contava com apoio do ex-deputado e ex-policial civil Natalino José Guimarães, um dos fundadores da milícia Liga da Justiça, condenado por formação de quadrilha e posse ilegal de armas.

As denúncias apontam que os milicianos, além de ocuparem as áreas, oferecem parte dos terrenos a policiais e comparsas como forma de garantir a segurança das invasões.

“É prática comum entre invasores ceder terrenos a integrantes das forças policiais ou a milicianos conhecidos, para assegurar a ocupação irregular e evitar a retomada pelos verdadeiros proprietários”, descreve trecho da denúncia do MP.

Moradores antigos também são alvos

Além de grandes herdeiros, moradores com décadas de posse de terra também relatam intimidações. O autônomo Alexandre Oliveira, que ocupa um terreno desde 1994, diz que viu sua área ser cercada durante a pandemia:

— Vieram em grupo, com volume sob as blusas que pareciam armas. Disseram que agora eram eles que mandavam ali. Já dei depoimento à Justiça e aguardo a decisão — afirmou.

Respostas e omissões

A prefeitura de Búzios informa que há cerca de 100 títulos de posse emitidos e outros 600 em fase de regularização. Alega que obras só são autorizadas mediante apresentação de documentos que comprovem propriedade ou posse, e que os 93 lotes da família Bekerman estão sendo analisados.

A Polícia Civil diz investigar o roubo do material de construção na 127ª DP (Búzios), mas afirma não haver registros formais sobre a atuação de milícias na cidade. A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) também apura denúncias em Cabo Frio.

As defesas de Esmeraldo da Conceição e Natalino Guimarães não se manifestaram.

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