Rio de Janeiro, 27 de Junho de 2025

Bolsonaro aposta em arruaça que PM aliada à milícia pode fazer na campanha eleitoral

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Sexta, 06 de Agosto de 2021 às 10:38, por: CdB

Na manhã desta primeira sexta-feira de agosto, mês que representa momentos de virada na História do país, o generalato ouvido por diferentes jornalistas, tanto na mídia conservadora quanto na progressista, é unânime em se colocar na defesa da Constituição Federal.

Por Redação - do Rio de Janeiro
A partida de damas, porque xadrez não faz seu estilo, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) joga contra a derrota da tentativa golpista que busca manter o neofascismo abrasileirado no Palácio do Planalto, por mais quatro anos, tem os seus lances contados. Com o posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF), de lidar com a questão no frio dos pareceres jurídicos, as Forças Armadas entram no foco da disputa e saem a favor da legalidade.
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Sem máscara sanitária, Bolsonaro fez questão de aglomerar e evitar o distanciamento social em manifestação com o que chama de seu 'exército'
Na manhã desta primeira sexta-feira de agosto, mês que representa momentos de virada na História do país, o generalato ouvido por diferentes jornalistas, tanto na mídia conservadora quanto na progressista, é unânime em se colocar na defesa da Constituição Federal. Uma tentativa de barrar as eleições presidenciais, no ano que vem, não encontra eco no Judiciário, no Legislativo ou nas fileiras do Exército, Marinha e Aeronáutica. Presidente do STF, o ministro Luiz Fux elevou o tom, na noite passada, ao encerrar o diálogo proposto com Bolsonaro, depois de o colega Gilmar Mendes ouvir do comandante da Força Aérea, o tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, a promessa de lealdade à democracia. — O ponto de inflexão ocorreu com o general (João) Figueiredo. As Forças Armadas brasileiras se profissionalizaram, desde então, e têm grande orgulho por atuar em defesa da democracia — disse à reportagem do Correio do Brasil um general da ativa, em posto de comando, que aplaudiu a decisão do STF.

PMs e milícias

Nas Polícias Militares dos Estados, no entanto, a proximidade com as milícias armadas e o radicalismo disseminado por grupos extremistas agem como incentivo a possíveis atos de terror, durante a campanha política que se aproxima. Bolsonaro tem, repetidamente, referido-se a um exército de motoqueiros, em seus passeios dominicais no interior do país, como uma espécie de base de apoio, principalmente onde o domínio das milícias se torna mais presente. Milhares de tropas das PMs, nestes Estados, participam das manifestações ativamente, embora sob o disfarce da presença fardada, na segurança do ato público. Nos Estados da Região Sul, onde o apoio ao regime é mais visível nas forças de segurança sob o comando de governadores eleitos por legendas de direita, Bolsonaro tem reforçado o discurso extremista. E no Rio de Janeiro, onde os atos políticos repercutem para as demais regiões brasileiras, a Polícia Militar luta contra as organizações criminosas que atuam em vastas áreas na Zona Oeste da Cidade e Baixada Fluminense. O número de mortes tem crescido, no confronto entre a polícia regular e o crime organizado. Parte do efetivo das milícias, no entanto, é formada nos quartéis da PM fluminense. A morte da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, é atribuída a dois ex-policiais militares: Ronnie Lessa, 48, e Elcio Vieira de Queiroz, 46. Ambos permanecem encarcerados em presídios para bandidos de alta periculosidade.

‘Um herói’

Lessa, vizinho do presidente Bolsonaro na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, era um dos comandados do ex-oficial PM Adriano da Nóbrega, morto durante operação policial no sertão baiano. Nóbrega, por sua vez, frequentava os círculos de amizade do presidente e de seu filho primogênito, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que chegou a conceder a Medalha de Tiradentes ao ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e a entregou, pessoalmente, em uma visita ao detento, em um Presídio de Bangu, Zona Norte do Rio. À época, Bolsonaro disse que partiu dele a recomendação para a comenda ao miliciano, chefe do ‘Escritório do Crime’, uma organização de ex-PMs treinada para torturar jornalistas, entre eles o fotógrafo Nilton Claudino, do jornal popular O Dia e, no caso Marielle, assassinar adversários do grupo que apoia o presidente. — Eu é quem pedi para meu filho condecorar. Para que não haja dúvida. Ele era um herói. Eu determinei. Pode trazer para cima de mim essa aí! — disse Bolsonaro, em entrevista a jornalistas, em defesa do miliciano.

Fim de jogo

Com as derrotas no Congresso, que soterrou a proposta de retorno do voto impresso — principal trincheira de Bolsonaro — e no Judiciário, depois do encerramento do diálogo amistoso com o mandatário, a retirada das Forças Armadas deixa Bolsonaro com o núcleo mais ruidoso de seus apoiadores, composto de milicianos e produtores de notícias falsas, nas redes sociais. Os anteparos da legislação eleitoral, no entanto, já estariam a postos. A abertura de notícia-crime contra o presidente da República por encaminhamento do STF, onde outros processos o aguardam, coloca no horizonte a cassação de seus direitos políticos, o que reforça o cuidado das legendas com as quais Bolsonaro negocia a filiação para o risco de se inviabilizar, nas urnas. Em queda livre nas pesquisas de opinião, o mandatário encontra-se diante do xeque-mate movido, na véspera, por um manifesto assinado pela quase totalidade do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, acadêmicos, artistas e personalidades do mundo jurídico, justamente aqueles que  o apoiaram, em 2018, contra o hoje líder nas intenções de voto dos eleitores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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