Amorim disse nesta quarta-feira que a diferença entre uma “bravata” e uma “ameaça” é muitas vezes sutil, referindo-se ao tom da fala de Leavitt.
Por Redação – de Brasília
O ex-chanceler Celso Amorim expressou preocupação com a recente declaração de Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, sobre o uso do poder militar pelos Estados Unidos em nome da liberdade de expressão. Na véspera, ao ser questionada sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Leavitt disse que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “não tem medo” de recorrer ao uso da força.

— Posso te dizer que esta é uma prioridade para nossa administração e que o presidente não está com medo de usar o poderio econômico e militar dos EUA para proteger a liberdade de expressão no mundo — afirmou Leavitt.
Amorim disse nesta quarta-feira que a diferença entre uma “bravata” e uma “ameaça” é muitas vezes sutil, referindo-se ao tom da fala de Leavitt. Amorim, principal assessor de assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi questionado pela coluna do jornalista Igor Gadelha, do site brasiliense de notícias ‘Metrópoles’, sobre o teor da declaração e se considerava a fala uma “bravata” ou uma “ameaça”, e respondeu:
— Para bom entendedor…
Retórica
Amorim também disse não acreditar que os Estados Unidos cometeriam a “loucura” de atacar militarmente o Brasil em função do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Apesar disso, Amorim não deixou de destacar que a simples ameaça do uso da força, como foi feita pela representante da Casa Branca, viola princípios fundamentais do Direito Internacional.
O diplomata reafirmou que, ainda que de forma retórica, a declaração contradiz os fundamentos da Carta das Nações Unidas.
— A mera ameaça do uso da força, ainda que retórica, é contrária aos princípios básicos do Direito Internacional e à Carta da ONU — observou.
Contexto
Ainda nesta quarta-feira, especialistas em relações internacionais e política têm se manifestado de forma contundente sobre a declaração da porta-voz Karoline Leavitt. Segundo os analistas ouvidos pela mídia conservadora, as palavras da representante do governo norte-americano foram precipitadas e não refletem uma estratégia clara.
Para o professor de relações internacionais da PUC-SP e especialista em política dos EUA Carlos Poggio, a declaração foi definida como “impetuosa” e desprovida de fundamento. Em sua análise, ele afirmou que a ameaça não deveria ser levada a sério.
— É a administração que usa palavras sem o menor nível de cuidado — ressaltou Poggio.
O catedrático também lembrou que Trump faz constantes ameaças que, em grande parte, não são cumpridas. Poggio citou como exemplo as promessas do presidente em relação à Rússia, que segue realizando bombardeios, apesar das ameaças de consequências dos Estados Unidos.
— A Rússia continua bombardeando. É um governo que não tem credibilidade naquilo que concebe as palavras — afirmou.
Nota oficial
O Itamaraty, por sua vez, emitiu uma nota oficial na noite passada, repudiando a utilização de sanções econômicas ou ameaças militares contra a democracia brasileira. A nota reafirma que os Poderes do Brasil não se deixarão intimidar por tais ataques à soberania nacional.
De acordo com a doutora em Ciência Política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) Camila Rocha, alertou que é preciso cautela diante da declaração.
— Nada é falado à toa. O Brasil é um país que tem uma série de recursos estratégicos, que podem sim vir a ser alvo de disputa — concluiu.