Segundo afirmou Amorim, há um problema a mais no contexto atual, relacionado ao fator religioso.
Por Redação – de Brasília
Ex-chanceler brasileiro e atual assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o diplomata Celso Amorim vê o crescente risco de uma nova guerra mundial, caso o conflito no Oriente Médio e a guerra entre Rússia e Ucrânia encontrem um ponto de intercessão.

— Vivemos um momento perigoso pelas partes envolvidas e perigoso para o mundo, porque há duas guerras com potencial de se alastrar. Se essas duas guerras se comunicarem, teremos praticamente uma guerra mundial. Não digo uma guerra total, mas uma guerra com grande irradiação negativa, com reflexos na economia, no preço do petróleo — disse Amorim.
Islâmicos
Segundo afirmou Amorim, há um problema a mais no contexto atual, relacionado ao fator religioso.
— Agora, em todo o Oriente Médio, vemos manifestações nos países islâmicos. E quando essa conotação religiosa desperta, é difícil conter — acrescentou.
Para Celso Amorim, o contexto atual é o mais perigoso que ele já viu na diplomacia.
— Tenho 83 anos, 63 deles ligados à diplomacia, e nunca vivi um momento tão perigoso. Mesmo na crise dos mísseis de Cuba, havia duas pessoas podendo se comunicar. A URSS tentou um lance atrevido, mas voltou atrás. Agora são muitos atores e muito incontroláveis — pontuou.
Bombardeio
Amorim referia-se à nota do Itamaraty, na véspera, que condenou o ataque dos Estados Unidos ao Irã, no sábado, que teve como alvo três instalações nucleares. Amorim avaliou que o ataque violou regras internacionais.
— A nota do Itamaraty já diz o que precisa. Só posso acrescentar: estamos à beira do alastramento de dois conflitos perigosos, sendo que um deles é o mais perigoso. Houve violação do direito internacional. A Carta da ONU não contempla essa história que Israel invoca de autodefesa preventiva. Isso não existe. É uma quebra total das normas internacionais, e isso está ocorrendo com frequência — alertou.
Para o ministro, há uma questão estrutural no Oriente Médio.
— Ali há um problema estrutural. Você sabe que nós tentamos, há 15 anos, ajudar. O Brasil participou de um esforço lá atrás para gerar confiança. Conseguimos, junto com a Turquia, que o Irã aceitasse todas as condições. Essa ajuda foi, posteriormente, reconhecida por altos funcionários dos EUA. Mas o processo não evoluiu. Então, o Irã aproveitou esse vácuo nas negociações para fazer enriquecimento de urânio. Essa ideia de que ele pode ter a bomba em seis meses eu ouvi isso em 2010 e isso não ocorreu. Nada justifica esse bombardeio — ponderou.
BRICS
O assessor internacional relatou como a escalada pode impactar a reunião da Cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro, em 6 e 7 de julho.
— Temos reunião do BRICS e esse tema pode ser tratado, mas não sei ainda bem a reação do Irã. Não sei se a Rússia vai dar assistência ao Irã. Sei que eles condenaram. Há muitas incógnitas ainda para saber o que fazer. Talvez o BRICS, em conjunto, possa fazer algo, mas não sei se haverá acordo — concluiu.