Moro foi expelido do governo Bolsonaro e saiu atirando. Acusa, agora, o mandatário neofascista de tentar interferir na independência da Polícia Federal (PF). Em uma cerimônia sobre medidas de desburocratização do setor aéreo, Bolsonaro disse que a Lava Jato acabou porque, segundo ele, "não tem mais corrupção no governo".
Por Redação - de Brasília e São Paulo
A declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que acabou a corrupção, no Brasil, e por isso ele encerrou a Operação Lava Jato foi o gatilho que disparou, nesta quinta-feira, uma saraivada de críticas da direita mais radical, representada pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Ele afirmou que as tentativas de interromper a Lava Jato "representam a volta da corrupção".
Moro não poupa críticas ao chefe do governo do qual integrou por mais de um ano
"As tentativas de acabar com a Lava Jato representam a volta da corrupção. É o triunfo da velha política e dos esquemas que destroem o Brasil e fragilizam a economia e a democracia. Esse filme é conhecido. Valerá a pena se transformar em uma criatura do pântano pelo poder?", escreveu o ex-juiz que, quando foi titular na 13ª Vara Federal de Curitiba, assinou a sentença que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à prisão, por mais de um ano.
Moro foi expelido do governo Bolsonaro e saiu atirando. Acusa, agora, o mandatário neofascista de tentar interferir na independência da Polícia Federal (PF). Em uma cerimônia sobre medidas de desburocratização do setor aéreo, Bolsonaro disse que a Lava Jato acabou porque, segundo ele, "não tem mais corrupção no governo".
— Eu desconheço lobby para criar dificuldade e vender facilidade, não existe. É um orgulho, uma satisfação que eu tenho dizer a essa imprensa maravilhosa nossa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação — afirmou Bolsonaro.
Campanha
As críticas, no entanto, não se resumem aos adversários. Até aliados têm demonstrado insatisfação com as decisões de Bolsonaro contra o combate à corrupção. Entre elas, a indicação do desembargador Kassio Nunes para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), por ele ser considerado um ‘garantista”, corrente na Corte que costuma impor duras derrotas à Lava Jato.
Nos últimos meses, desde que o seu filho primogênito, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), tornou-se alvo de uma investigação sobre a milícia no Estado do Rio de Janeiro, o presidente assumiu um tom mais pragmático e tem priorizado uma boa relação tanto com o Judiciário quanto com o Congresso.
Na manhã desta quinta-feira, Bolsonaro foi à tréplica. Ele fez novas críticas a Moro, desta vez durante cerimônia de encerramento do curso de formação profissional de agentes da Polícia Federal.
— Temos um compromisso de combate à corrupção. Eu tenho colaborado com a Polícia Federal, ajudando ao escolher ministros não por critério político ou por apadrinhamentos, mas por critério de competência, como temos o ministro da Justiça André Mendonça. Me desculpem, muito, mas muito melhor do que outro (Moro) que nos deixou, há pouco tempo. A prova está aí: recorde de apreensão de drogas, de recursos e de prisões de bandidos, entre outros. Eu não tenho dado motivo para a Polícia Federal ir atrás dos meus ministros, diferentemente do que acontecia no passado — alfinetou.
Falsidade
Na cerimônia de formatura de novos policiais federais a que compareceu, nesta manhã, Bolsonaro acrescentou que o trabalho da instituição contra a corrupção ajudou-o a vencer a eleição presidencial de 2018, ao fazer com que os brasileiros procurassem um candidato “diferente”.
— O trabalho de vocês no combate à corrupção fez que muitos olhassem para um candidato diferente e eu acabei sendo eleito — presumiu.
Bolsonaro ainda afirmou que não tem dado motivos para a Polícia Federal ir atrás de seus ministros, em uma prova de que não haveria corrupção em seu governo. No entanto, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foi indiciado pela PF por associação criminosa, apropriação indébita e falsidade ideológica eleitoral, pelo suposto uso de candidaturas-laranja no PSL nas últimas eleições.