Ao longo da semana, ’03’ foi visto de passagem pelo saguão do hotel, em Washington, que hospeda a missão empresarial organizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) à capital norte-americana.
Por Redação – de Brasília
O Itamaraty ou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), embora tenham contratado um escritório de advocacia com atuação junto ao Congresso norte-americano, ainda tem uma presença muito menor do que aquela que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) vem exercendo junto ao governo norte-americano. Com fortes influências no campo da extrema direita, que domina setores inteiros da economia brasileira a exemplo do agronegócio e da indústria, o filho ’03’ do ex-mandatário neofascista trafega com desenvoltura junto à Casa Branca e não esconde a predominância sobre parcela significativa do Congresso brasileiro.

Ao longo da semana, ’03’ foi visto de passagem pelo saguão do hotel, em Washington, que hospeda a missão empresarial organizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) à capital norte-americana, com cerca de 130 representantes do setor produtivo e muitos deles declaradamente bolsonaristas. O parlamentar e o influencer digital Paulo Figueiredo encontram-se no mesmo hotel com parcela da delegação brasileira.
Conforme apurou a coluna de Mariana Sanches, do portal conservador de notícias UOL, empresários descreveram a situação como de “desconforto” e até de “superconstrangimento”. Em grupos de mensagens, circularam especulações sobre quem teria convidado o parlamentar, uma vez que a CNI alegou não ter feito nenhum convite oficial aos políticos neofascistas.
Ainda na manhã de quarta-feira, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo também foram vistos em reunião com um empresário, no café do hotel. Em entrevista, Figueiredo alegou que um pequeno grupo de empreendedores havia convidado o cúmplice para um encontro restrito, sem revelar nomes.
‘Tarifaço’
O mal-estar se deve ao fato de que o deputado articula junto ao governo do presidente Donald Trump a imposição de sanções contra o Brasil, como forma de pressionar pela anistia na tentativa de livrar o pai da cadeia, junto com militares acusados de planejar e executar o golpe fracassado no 8 de Janeiro. A carta do presidente Trump, que oficializou o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, cita argumentos usados pela dupla ao classificar os processos contra Bolsonaro como “caça às bruxas”.
— Não foi ele quem criou o problema? Agora vai aparecer aqui para vender solução? — disse, sob anonimato, um representante do setor industrial ouvido pelo UOL.
Ricardo Alban, presidente da CNI, também não viu com bons olhos a presença dos conspiradores, uma vez que “queríamos fazer uma visita empresarial, não política”, afirmou, ao reiterar que a comitiva não convidou o deputado.
Política
Apesar dos esforços em contrário, a política dominou as reuniões que os empresários tiveram com autoridades norte-americanas. De acordo com o embaixador Roberto Azevêdo, consultor da CNI e ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, em todos os encontros a carta de Trump foi citada, e a questão do processo contra Jair Bolsonaro e as decisões do STF sobre as big techs foram tratadas como condicionantes para qualquer avanço.
Na tentativa de destravar a pauta, a CNI apresentou aos norte-americanos três áreas de interesse: mineração de terras-raras, cooperação em etanol e biocombustíveis para aviação; além da atração de investimentos para data centers. Mas, segundo Azevêdo, os EUA não demonstraram prioridade em avançar no diálogo neste momento.
A razão de tamanho desinteresse em pautas evidentemente lucrativas para os norte-americanos foi apresentada, na noite anterior, pelo próprio presidente dos Estados Unidos. Trump promoveu um novo ataque contra o governo brasileiro. Em coletiva na Casa Branca, o republicano afirmou estar “muito irritado” com o Brasil e não descartou impor restrições a vistos diplomáticos de autoridades que planejam participar da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, no fim deste mês.
— Estamos muito irritados com o Brasil. Já aplicamos tarifas pesadas porque eles estão fazendo algo muito infeliz — declarou Trump, ao ser questionado sobre a possibilidade de barrar diplomatas brasileiros no encontro internacional.
Repercussão
A possibilidade de restrições na Assembleia Geral da ONU, encontro que tradicionalmente reúne chefes de Estado e diplomatas de todo o mundo, gerou apreensão quanto ao impacto nas relações bilaterais. Como país-sede da ONU, os Estados Unidos historicamente garantem o trânsito de autoridades estrangeiras para o encontro.
Com apenas uma resistência mínima por parte dos brasileiros, que parecem não perceber a extensão dos planos imperialistas do mandatário norte-americano, Eduardo Bolsonaro ganha projeção cada vez mais contundente para os interesses nacionais.
Enquanto isso, em Washington, Trump mantém o discurso de que está disposto a ampliar a pressão. Apesar disso, reiterou manter uma “ótima relação com o povo do Brasil”, diferenciando sua crítica do campo político e ideológico do atual governo.