Entre janeiro e junho deste ano, foram contabilizados 253 tiroteios relacionados a disputas territoriais entre facções criminosas.
Por Redação, com CartaCapital – do Rio de Janeiro
As principais regiões metropolitanas do Nordeste e Norte brasileiro enfrentam uma escalada da violência armada. Dados compilados pelo Instituto Fogo Cruzado divulgados nesta segunda-feira mostram que os confrontos entre grupos criminosos organizados atingiram patamares recorde nos primeiros seis meses de 2025. A análise abrangeu 49 municípios do país.

Entre janeiro e junho deste ano, foram contabilizados 253 tiroteios relacionados a disputas territoriais entre facções criminosas, um salto de 36% comparado ao mesmo período de 2024. Esses confrontos levaram a 172 vítimas: 108 pessoas morreram e outras 64 ficaram feridas, o que representa aumentos de 35% e 6%, respectivamente.
Outro ponto de preocupação é o crescimento do número de crianças atingidas por balas perdidas em contextos de disputa territorial, ao menos duas foram vítimas diretas desse tipo de conflito.
Recife bate recordes negativos
A região metropolitana do Recife vivenciou um crescimento sem precedentes na violência entre facções. Os 18 tiroteios motivados por disputas territoriais registrados no período representam um recorde, deixando 16 mortos e 11 feridos.
O contraste com 2024 chama a atenção: no primeiro semestre do ano passado, foi registrado apenas um confronto desse tipo, sem vítimas. A capital pernambucana concentrou um terço dos casos, com Olinda e Paulista completando o ranking das cidades mais afetadas.
Rio de Janeiro
A região metropolitana do Rio de Janeiro registrou 154 tiroteios envolvendo grupos armados no primeiro semestre, marcando uma alta de 48% em relação a 2024. Apesar disso, o número de baleados nos primeiros seis meses de 2025 (72) foi menor que o total registrado no mesmo período de 2024 (82).
Outro aumento significativo foi o de tiroteios decorrentes de operações policiais. Em média, a região metropolitana do Rio registrou três casos por dia.
No total, foram registrados 1.233 tiroteios ou disparos de arma de fogo no Rio nos primeiros seis meses de 2025. O número é 8% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, mas houve um aumento na proporção das operações policiais: de 34% registrados no primeiro semestre de 2024, o percentual saltou para 41% (ou 504 casos) no mesmo período de 2025.
Essa proporção representa o maior patamar já registrado pelo instituto para operações policiais na capital fluminense durante os primeiros seis meses de um ano.
– É sintomático que os tiroteios caiam, mas aumentem as disputas, aumente a proporção de tiros em ações policiais e com isso aumente também o número de baleados no Grande Rio. Isso mostra de maneira cristalina porque é preciso olhar a questão da segurança pública em toda sua complexidade – apontou Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro.
– Muitas vezes um indicador pode evidenciar melhora na situação, mas por que as pessoas continuam se sentindo tão inseguras? Ora, porque o domínio territorial, que é o que caracteriza o Rio de Janeiro, ainda gera conflitos em abundância, assim como a própria política de segurança. Mais da metade das pessoas foram baleadas durante ações policiais, como é que alguém vai se sentir mais seguro assim? – questionou Nhanga.
O Governo do Rio de Janeiro, em nota oficial, destacou que o Instituto de Segurança Pública (ISP) permanece como fonte oficial para análise de dados e indicadores criminais no estado.
Salvador: violência policial em alta
Na região metropolitana de Salvador, foram documentados 81 confrontos entre grupos armados, resultando em 45 mortos e 28 feridos — números similares aos de 2024. Porém, a violência perpetrada por agentes estatais apresentou crescimento.
As mortes em chacinas envolvendo policiais saltaram de 17 para 57 casos, um aumento notável de 235%. Ao mesmo tempo, o número de adolescentes baleados durante operações policiais cresceu 367%, evidenciando o impacto desproporcional das ações de segurança sobre a juventude local.
Pará: quilombolas na linha de fogo
O Estado do Pará registrou tiroteios fatais em três comunidades quilombolas, expondo a vulnerabilidade dessas populações tradicionais à violência armada. Belém liderou as estatísticas de mortalidade com 91 mortes, seguida por Ananindeua (52) e Marituba (30).