A situação se complica cada vez mais para a coalizão de Benjamin Netanyahu. Mais uma vez, a crise gira em torno da isenção do serviço militar para os haredim, os judeus ultraortodoxos.
Por Redação, com RFI – de Jerusalém
Enquanto a ofensiva militar continua na Faixa de Gaza, Israel enfrenta uma crise política em torno da questão do alistamento dos judeus ultraortodoxos. Parte do governo de Benjamin Netanyahu defende a inclusão dessa comunidade no esforço de guerra, em resposta à pressão da opinião pública. Mas os ultraortodoxos ameaçam derrubar o governo e forçar novas eleições caso percam a isenção do serviço militar.

A situação se complica cada vez mais para a coalizão de Benjamin Netanyahu. Mais uma vez, a crise gira em torno da isenção do serviço militar para os haredim, os judeus ultraortodoxos.
O governo não conseguiu aprovar a lei que regula essa questão. Diante disso, os dois partidos que representam essa corrente no Parlamento israelense, os asquenazes do Yahadut Hatorah e os sefarditas do Shas, ameaçam deixar a coalizão.
Eles também ameaçam se unir à oposição para dissolver o Knesset, o Parlamento israelense, o que levaria automaticamente à convocação de novas eleições legislativas.
Estudantes da Torá são isentos do serviço militar
Desde a criação do Estado de Israel, os estudantes das yeshivot, escolas talmúdicas, são tradicionalmente dispensados do serviço militar obrigatório.
Essa situação tem gerado revolta, principalmente entre os reservistas, que estão sendo convocados em massa desde os ataques de 7 de outubro de 2023.
Neste momento, Benjamin Netanyahu está mergulhado num verdadeiro esforço de última hora para tentar salvar sua coalizão.
Sem uma solução à vista, os partidos ultraortodoxos, orientados por seus líderes espirituais, prometem apresentar a proposta de dissolução do Parlamento já no dia 9 de junho. “Israel caminha para novas eleições”, estampou o jornal Maariv na manhã desta quinta-feira.
Histórico
Desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, os haredim estavam isentos dessa obrigação militar. A possibilidade de uma decisão de obrigação do serviço militar para estes ultraordoxos romperia um tabu profundamente enraizado na sociedade israelense, e expõe as tensões históricas entre o sionismo laico e socialista que fundou o país, e o messianismo religioso que molda hoje parte da identidade judaica.
Em 1948, ao criar o Estado de Israel, o então primeiro-ministro David Ben-Gurion tinha como objetivo reunir no novo país todos os judeus que quisessem viver ali, independentemente de sua origem ou de suas convicções políticas e religiosas.
Após os horrores do Holocausto, sua prioridade era garantir segurança ao povo judeu. Foi nesse espírito que ele aceitou as exigências dos líderes ultraortodoxos, que defendiam o estudo integral da Torá como missão de vida. Assim, os estudantes das yeshivot, escolas talmúdicas, foram oficialmente dispensados do serviço militar. À época, eram apenas algumas centenas.
Essa política perdurou por décadas, embora tenha sido alvo frequente de críticas por parte de militares e movimentos laicos, que consideravam o sistema de isenção discriminatório. Ainda assim, os haredim sempre defenderam seu modo de vida e o papel essencial do estudo religioso profundo. Com o passar do tempo, os dois lados endureceram suas posições.
Desde 1998, movimentos laicos vêm recorrendo com frequência à Suprema Corte para contestar a desigualdade gerada por essa política. Argumentam que, em um país onde o serviço militar é obrigatório, a isenção baseada em critérios religiosos fere o princípio da igualdade.
Além disso, a comunidade ultraortodoxa cresceu de forma acelerada ao longo das décadas. Hoje, os haredim representam cerca de 13% da população israelense, com mais de 160 mil estudantes dedicados ao estudo da Torá, um contingente significativo que permanece fora do serviço militar, mesmo em tempos de guerra.