Ministro Abbas Araghchi afirma que país está aberto ao diálogo e destaca caráter pacífico do programa nuclear.
Por Redação, com Brasil de Fato – de Teerã
O Irã seguirá adiante com o desenvolvimento de seu programa nuclear, especialmente no que diz respeito ao enriquecimento de urânio, apesar dos “graves danos” causados às instalações do país por ataques dos Estados Unidos e de Israel. A afirmação foi feita na segunda-feira pelo ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, em entrevista ao canal norte-americano Fox News.

O diplomata afirmou que o enriquecimento de urânio não será abandonado, mesmo após os bombardeios que paralisaram temporariamente a atividade. “Há uma paralisação porque, sim, os danos são graves, mas, evidentemente, não podemos renunciar ao enriquecimento porque é uma conquista dos nossos próprios cientistas”, disse. Segundo ele, a continuidade do programa tornou-se também uma questão de “orgulho nacional”.
Na próxima sexta-feira, representantes do Irã devem se reunir com autoridades da Alemanha, França e Reino Unido em Istambul, na Turquia. Será o primeiro encontro do tipo desde a guerra de 12 dias entre Irã e Israel, em junho, que deixou centenas de mortos. O controle do programa iraniano pela Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) deve estar entre os principais pontos da pauta.
Araghchi garantiu que Teerã está aberta a negociar com os Estados Unidos, mas apenas de forma indireta, “por enquanto”. Acrescentou que qualquer novo pacto deverá garantir ao Irã o direito ao enriquecimento de urânio, mantendo o caráter civil do programa. “Estamos abertos a conversas […] para demonstrar que o programa nuclear é pacífico”, disse, condicionando avanços à retirada das sanções impostas pelos EUA.
Ainda durante a entrevista, Araghchi afirmou que técnicos da agência atômica iraniana avaliam a situação do material enriquecido após os ataques, mas garantiu que o programa “não pode ser destruído com bombardeios”, já que “a tecnologia está lá”. Também afirmou que o país segue com capacidade de defesa, apesar da destruição de depósitos de armamentos, e disse ter se reunido recentemente com o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, que, segundo ele, “está muito saudável”.
Estados Unidos
No último dia 22 de junho, os Estados Unidos bombardearam três instalações nucleares iranianas: o centro subterrâneo de enriquecimento de Fordo e as centrais de Isfahan e Natanz. A ofensiva ocorreu em apoio aos ataques promovidos por Israel contra o Irã e foi endossada pelo presidente norte-americano Donald Trump, que ameaçou repetir a ação “se for necessário”.
A retomada dos bombardeios e o endurecimento das posições dos EUA ocorrem após o colapso do acordo nuclear firmado em 2015 entre o Irã e os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, França, Estados Unidos, Reino Unido e Rússia), além da Alemanha. O pacto previa limitações ao programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções, mas foi rompido em 2018, quando Trump retirou os EUA do tratado de forma unilateral.