Rio de Janeiro, 25 de Junho de 2025

TV de Belarus transmite 'confissão' de jornalista

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Sexta, 04 de Junho de 2021 às 11:14, por: CdB

 

Emissora estatal transmite entrevista em que repórter detido em voo desviado elogia o "último ditador da Europa". Família, ativistas e governo britânico denunciam coação e possível tortura.

Por Redação, com DW - de Minsk

O jornalista belarrusso Roman Protasevich, detido depois que o avião em que viajava foi forçado a pousar em Minsk, apareceu na televisão estatal na quinta-feira em uma entrevista classificada por sua família, apoiadores e governos internacionais, como o britânico, como feita sob coação.
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Roman Protasevich e sua namorada foram presos após avião em que viajavam ser forçado a pousar em Minsk
Protasevich aparece claramente desconfortável no vídeo. Ele confessa ter convocado protestos contra o governo no ano passado e elogia o líder de Belarus, Alexander Lukashenko, considerado "o último ditador da Europa" No fim da entrevista, exibida pelo canal estatal ONT e que dura uma hora e meia, Protasevich começa a chorar e cobre o rosto com as mãos. O jornalista detido é cofundador e editor do "Nexta", um popular canal de informações no aplicativo de mensagens Telegram, que teve um papel-chave na organização das manifestações contra Lukashenko. Dmitry Protasevich, pai do jornalista de 26 anos, disse que o vídeo foi resultado de "abusos, tortura e ameaças". "Conheço meu filho muito bem e acredito que ele nunca diria tais coisas", disse Dmitry à agência de notícias AFP. "Eles o torturaram e o forçaram a dizer o que precisavam".

Reino Unido vê depoimento "sob força"

As autoridades de Belarus acusam Protasevich de ter organizado protestos em massa após a contestada reeleição de Lukashenko, em agosto de 2020, acusação pela qual ele pode pegar 15 anos de prisão. A líder da oposição belarrussa Svetlana Tikhanovskaya rejeitou nesta sexta-feira a entrevista dada por Protasevich. "Todos esses vídeos são filmados sob pressão. Não precisamos prestar atenção nem mesmo a essas palavras, porque elas são ditas após tortura. A tarefa dos presos políticos é sobreviver", afirmou. – Com a ajuda da violência, você pode fazer uma pessoa dizer o que quiser – disse Tikhanovskaya, que concorreu contra Lukashenko nas eleições do ano passado. O governo britânico também condenou a entrevista. O ministro do Exterior Dominic Raab afirmou que as declarações foram obtidas "claramente sob força" e que “a perseguição aos que defendem os direitos humanos e a liberdade de expressão precisa parar”. Alertas de confissão forçada antecederam gravação Antes da exibição da entrevista, o grupo independente de defesa dos direitos humanos Viasna afirmou que Protasevich deve ter sido forçado a falar pelos serviços de segurança de Belarus, pois ele está enfrentando "acusações injustas, mas muito sérias". – Tudo o que Protasevich vai dizer terá sido dito sob coação, no mínimo, sob coação psicológica – afirmou o chefe da Viasna, Ales Bialiatski. "O que quer que ele esteja dizendo agora é pura propaganda, sob a qual não há uma base verdadeira."

Entenda o caso

Protasevich e sua namorada, a russa Sofia Sapega, de 23 anos, foram detidos em Minsk em 23 de maio depois que o governo enviou um avião militar para desviar o voo da companhia aérea Ryanair que fazia a rota entre Atenas, na Grécia, e Vilnius, na Lituânia. Eles foram acusados de ajudar a coordenar as manifestações históricas que ocorreram após Lukashenko disputar a reeleição em agosto do ano passado. Imediatamente após a prisão, Protasevich e Sofia apareceram em vídeos de "confissão" que seus apoiadores disseram que também foram gravados sob coação e que são uma tática comum do regime para pressionar seus críticos. Os pais de Protasevich disseram na época que seu filho parecia ter sido espancado. Em resposta às prisões, a União Europeia proibiu a companhia aérea estatal belarrussa Belavia de operar voos para aeroportos do bloco e pediu às companhias aéreas da UE que não sobrevoassem o território de Belarus. Em resposta aos protestos, as autoridades de Belarus reprimiram duramente os opositores e a sociedade civil, prendendo milhares de manifestantes. Líderes da oposição tiveram que ir para o exílio, e várias pessoas morreram durante os protestos.
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