Entre crises internas e perda de influência global, Trump 2 encena um governo barulhento e ineficaz, enquanto EUA seguem ladeira abaixo na geopolítica mundial.
Por Luciano Siqueira – de Brasília
Impossível acompanhar a cena internacional sem a devida conta no que acontece nos Estados Unidos, pela óbvia importância desse player na geopolítica global e pela sucessiva revelação de que navega em barco furado e ruma, senão para o fracasso pleno, na direção de inevitável decadência.

Em todas as esferas da vida, quando diante de grave problema, a pior alternativa é fazer muito barulho, mas alcançar pouca eficácia na conduta adotada.
O governo Donald Trump 2 tem essa expressão: muito glacê em bolo indigesto.
Os Estados Unidos já não cumprem papel absolutamente soberano na economia global, como em largo período pós- Segunda Guerra, reforçado com a debacle da União Soviética e das democracias populares do leste europeu.
Internamente, às voltas com déficits comercial e fiscal e com o agravamento das desigualdades sociais, amarga os primeiros sinais de resistência.
Operação do governo
Na operação do governo, as cenas de ópera bufa protagonizadas pelo próprio presidente e pelo mega empresário Elon Musk dão a marca da incerteza e da incompetência.
No conserto internacional, envolto em conflitos regionais e constrangido a grandes dispêndios em razão de suas bases militares espalhadas pelo mundo, amarga perda relativa de posição em relação à principal potência emergente na atualidade, a República Popular da China.
Entre histriônico, provocador e inconsequente, Trump lança-se a uma queda de braços desvantajosa com o oponente chinês, multiplica conflitos com aliados e sofre pronunciadas perdas relativas, econômicas e políticas.
Internamente, atropela sucessivamente a Constituição e desmoraliza a decantada democracia norte-americana.
Parece um caminho sem volta, na esteira da crise do sistema capitalista imperante, onde se combinam a ultra concentração da produção, da renda e da riqueza sob o influxo de financeirização desenfreada.
Um ambiente mundial em que momentaneamente viceja o neofascismo, ainda sem o contraponto de resistência dos povos em dimensão capaz de inverter tendências.
Nações regionalmente importantes, como o Brasil no subcontinente sul-americano, ainda se veem constrangidas a complexos cenários políticos internos nos quais a força acumulada por correntes populares e progressistas ainda não se faz suficientemente apta a derrotar plenamente a extrema direita ascendente.
Nesse contexto, o esforço do governo brasileiro, presentemente empenhado em política externa altiva e proativa, ainda não é suficientemente compreendido pela maioria da população, tanto porque o complexo midiático dominante a noticia de modo fragmentado e falsamente negativo, como porque o próprio governo carece de maior competência no bom uso dos múltiplos meios de comunicação e mobilização social disponíveis.
Daí a absoluta necessidade de incluir a dimensão internacional da luta na pauta das forças populares e progressistas, incluindo as diversas instâncias do movimento social.
Luciano Siqueira, é médico, membro do Comitê Central do PCdoB e secretário nacional de Relações Institucionais, Gestão e Políticas Públicas do partido, foi deputado estadual em Pernambuco e vice-prefeito do Recife.
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