Por Vitoria Carvalho, da Sucursal de Brasília
A construção da Usina Termelétrica (UTE) Brasília, prevista para ser instalada entre Samambaia e Recanto das Emas, no Distrito Federal, vem gerando intensa mobilização social e ambiental. O projeto, de responsabilidade da empresa Termo Norte Energia Ltda., será tema de uma audiência pública marcada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para o dia 17 de junho, às 19h, no Complexo Cultural de Samambaia.
Originalmente agendada para março, a audiência foi adiada após decisão judicial que acolheu o pedido do Instituto Internacional Arayara. A entidade argumentou que o prazo para a análise do Relatório de Impacto Ambiental (Rima) — um documento com mais de 4 mil páginas — era curto demais para permitir uma participação adequada da população.
Na nova audiência, o Ibama apresentará o andamento do processo de licenciamento ambiental. Técnicos da empresa e da consultoria responsável pelo Rima também participarão, explicando os objetivos do empreendimento e respondendo às dúvidas do público. O encontro será híbrido, com transmissão ao vivo e espaço para perguntas tanto presenciais quanto online.

Os impactos
Entre os impactos previstos, um dos mais graves é a demolição da Escola Classe Guariroba, que atende cerca de 350 crianças da região. A proposta provocou indignação entre pais, alunos e professores, que já se manifestaram contra o projeto em audiência pública realizada pela Câmara Legislativa do DF no mês de março.
Os impactos ambientais também preocupam. A usina utilizará águas do Rio Melchior, que podem sofrer aquecimento e degradação da qualidade. A queima de combustíveis fósseis prevista para gerar energia agravaria a emissão de poluentes, prejudicando ainda mais a qualidade do ar e aumentando o risco de doenças respiratórias na população.
A energia termelétrica é considerada uma das mais caras e poluentes. Em um momento em que o mundo discute a necessidade de transição para fontes renováveis, o projeto da UTE Brasília representa, segundo especialistas, um retrocesso. “Construir uma termelétrica é um retrocesso monumental. Vai na contramão do que o mundo inteiro está buscando”, afirmou Lúcia Mendes, do Fórum Distrital das Águas.
Emissões de gases podem dobrar
Dados do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) mostram que, em 2022, o DF emitiu cerca de 7,3 milhões de toneladas de CO₂, sendo mais da metade atribuída ao setor de energia. A construção da termelétrica deve adicionar 4,7 milhões de toneladas por ano a esse total — praticamente dobrando as emissões da área energética no DF.
Para o representante do Instituto Internacional Arayara, John Fernando de Farias, a aprovação da licença ambiental será desastrosa: “O Distrito Federal, no momento em que o Ibama emitir essa licença, estará chancelando o câncer e as doenças respiratórias.
Antes da audiência pública promovida pelo Ibama, o projeto será discutido em um seminário na Câmara dos Deputados, marcado para o dia 13 de maio, às 10h, no Plenário 2 da Casa. O evento é promovido pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e contará com a presença de parlamentares, representantes do governo e movimentos sociais. A transmissão será feita pelo canal da comissão no YouTube.