Ainda que não esteja determinado se Bolsonaro tem o poder de influenciar o futuro e os alvos de investigações da PF, é importante lembrar que, no dia 11 de outubro, o ministro do STF Alexandre de Moraes decidiu prorrogar por mais 90 dias o inquérito que apura a suposta tentativa de interferência política do presidente da República na PF.
Por Redação, com Sputniknews - do Rio de Janeiro
Apesar da torcida, nos meios conservadores de comunicação, o advento de uma Terceira Via para as eleições do ano que vem permanece cada vez mais inconsistente. Enquanto Lula goza de prestígio entre parte considerável do eleitorado, situação atestada pelas pesquisas de intenção de voto mais recentes, o presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda tem importantes cartas à manga para jogar, como o auxílio emergencial, o reajuste aos servidores, e uma poderosa máquina pública em pleno ano eleitoral.
Sérgio Moro e Jair Bolsonaro disputam quem será o escolhido para enfrentar Lula
Na véspera, um dos possíveis nomes da chamada Terceira Via, o candidato Ciro Gomes foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) para apurar suposto esquema de corrupção em obra do estádio Castelão. A ação da PF, no entendimento do professor Paulo Baía, cientista político da UFRJ entrevistado pela agência russa de notícias Sputniknews, "foi estrategicamente montada para prejudicar" a candidatura do pedetista.
Ainda que não esteja determinado se Bolsonaro tem o poder de influenciar o futuro e os alvos de investigações da PF, é importante lembrar que, no dia 11 de outubro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decidiu prorrogar por mais 90 dias o inquérito que apura a suposta tentativa de interferência política do presidente da República na PF. Para o ministro, é preciso investigar mais essa possibilidade.
Alckmin
É também em meio a este cenário que conhecidas figuras políticas no Brasil tentam emergir da dualidade entre Lula e Bolsonaro. Ciro Gomes, João Dória e Sergio Moro buscam o mesmo objetivo em comum, se apresentar ao eleitorado nacional como uma opção entre o que foi usualmente classificado pela imprensa como dois extremos, a esquerda e a direita. O problema para esses candidatos, porém, como apontou Paulo Baía, é que esta questão de extremos não aconteceu.
O cientista político rejeita o rótulo de polarização para classificar a conjuntura política no Brasil às vésperas do pleito de 2022.
— A eleição não está polarizada, ela está afunilada. E por que ela não está polarizada? Porque o eixo da pauta de ambas as campanhas (Lula e Bolsonaro) é semelhante, sobretudo se Lula tiver Geraldo Alckmin como vice. Se isso acontecer, a semelhança será ainda maior — acrescentou.
Uma fantasia
Ao considerar a possibilidade de aparecer uma Terceira Via na campanha do ano que vem, muitos analistas políticos e parte da imprensa desconsideraram a capacidade do ex-presidente Lula em angariar votos no segmento de centro e centro-esquerda. Algo que não se pode negar sobre Lula é sua habilidade como estrategista político, inclusive ao ponto de conquistar o apoio de um ex-adversário político histórico, como Geraldo Alckmin.
Com efeito, o presidente Jair Bolsonaro também é muitas vezes desmerecido pela sua capacidade de articulação. Muito se prospectou sobre a possibilidade de Sergio Moro "roubar" votos de bolsonaristas descontentes com a política no país. Bolsonaro, contudo, solidificou uma ampla base eleitoral, e é garantido que terá ao menos 20% dos votos em 2022. Além disso, o presidente se prepara para relançar o Auxílio Brasil, programa de transferência de renda que pode render simpatia do eleitorado mais pobre.
Questionado sobre as razões de uma terceira via não ter "animado" o eleitorado brasileiro, Paulo Baía foi cético.
— Essa história de terceira via é um conto de fadas. Enfim, é uma panaceia — concluiu.