De acordo com o levantamento, cerca de 54 mil pessoas utilizam diariamente os trens de forma irregular, o que representaria um prejuízo superior a R$ 8,4 milhões por mês para a concessionária.
Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro
Um relatório produzido pela equipe do vereador Pedro Duarte (Novo) revelou um panorama preocupante da evasão tarifária e da precariedade estrutural em estações da SuperVia, no Rio de Janeiro. Intitulado “Caos nos Trilhos: um retrato dos caminhos esquecidos”, o documento foi divulgado nesta semana e identificou falhas em 16 das 38 estações vistoriadas, onde passageiros conseguem acessar os trens sem pagar passagem. A informação é do portal G1.

De acordo com o levantamento, cerca de 54 mil pessoas utilizam diariamente os trens de forma irregular, o que representaria um prejuízo superior a R$ 8,4 milhões por mês para a concessionária. A SuperVia, no entanto, contestou os números e afirmou que “atualmente, 18 mil pessoas por dia, em média, viajam sem pagar a passagem”.
As vistorias foram realizadas entre março e maio de 2025, com registros em fotos e vídeos. O estudo apontou problemas como a ausência de fiscalização, deterioração da infraestrutura, atuação do tráfico de drogas nas imediações e até conivência de funcionários com os acessos irregulares.
– Os problemas da evasão tarifária e da degradação da infraestrutura nas estações da SuperVia têm origem clara: o abandono por parte do Estado. Não se trata apenas de falha da concessionária, mas de uma ausência completa de presença pública nos entornos das estações – afirmou o vereador Pedro Duarte. “É impossível manter controle e fiscalização em estações onde o Poder Público simplesmente não está”.
Entre os casos mais críticos, destaca-se a estação Mercadão de Madureira, onde, segundo o relatório, a evasão é “institucionalizada” e tolerada por seguranças. Situações semelhantes foram registradas em estações como Jacarezinho, Parada de Lucas e Senador Camará, todas marcadas pela influência do tráfico de drogas e ausência de controle.
A prática de evasão, além de impactar financeiramente a operação, também representa um risco à integridade física dos usuários. Há registros de acidentes graves e até mortes em locais onde os passageiros acessam os trens por passagens improvisadas e trilhos.
– O impacto para o usuário é direto. São trens inseguros, estações precárias, deslocamentos cada vez mais difíceis. A concessão ferroviária foi tratada como um tema isolado, quando, na verdade, depende de um conjunto de políticas públicas, segurança, mobilidade urbana, habitação, ordenamento do território – complementou Duarte.
Estações e ramais mais críticos
O relatório detalha como e onde ocorrem as evasões, por ramal. No Ramal Saracuruna, por exemplo, há brechas nos muros em Duque de Caxias e acessos improvisados em Manguinhos e Parada de Lucas. No Ramal Santa Cruz, as estações de Mocidade, Padre Miguel, Senador Camará e Paciência apresentam problemas como muros baixos, ausência de fiscalização e presença do tráfico.
No Ramal Belford Roxo, o cenário se repete em Jacarezinho, Del Castilho, Tomás Coelho, Costa Barros e Pavuna. Já no Ramal Japeri, as estações Olinda, Presidente Juscelino, Queimados e Japeri também registraram evasões facilitadas por falta de barreiras físicas e segurança.
Segundo o levantamento, nem todas as estações apresentam o problema. No Ramal Deodoro, por exemplo, não houve flagrantes de evasão. Estações como Praça da Bandeira e Quintino também demonstraram controle adequado.
SuperVia rebate números, mas admite evasão
A SuperVia reconheceu a evasão tarifária, mas afirmou que os dados vêm melhorando nos últimos anos. “Atualmente, 18 mil pessoas por dia, em média, viajam sem pagar. Em 2023, eram 54 mil. Em 2024, o número caiu para 29 mil”, diz a empresa em nota.
A concessionária atribui parte das dificuldades à falta de poder de polícia de seus agentes e ao contexto de violência urbana. “Essa prática ilegal resulta em um prejuízo diário para a concessionária, afetando diretamente a qualidade dos serviços oferecidos”, afirmou.
Para tentar conter o problema, a empresa diz contar com apoio do Proeis (Programa de Integração de Segurança) e do Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer), além de promover reuniões com associações de moradores e autoridades públicas.
Governo estadual reconhece impactos
O Governo do Estado do Rio, por meio da Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana, também reconheceu os impactos da evasão tarifária. “A evasão tarifária é um fator de impacto direto sobre a receita operacional, contribuindo para a necessidade de aportes públicos para garantir a continuidade do serviço”, afirmou a secretaria em nota.
Entre as medidas em estudo, estão a redução tarifária, reforma de muros e reforço da segurança patrimonial. O governo afirmou ainda que a Polícia Militar atua “diuturnamente” no apoio às ações de segurança da concessionária, com patrulhamento interno e externo nas estações.
Transição e crise da SuperVia
A crise na SuperVia se aprofundou nos últimos anos. Em 2021, a empresa entrou em recuperação judicial. Em 2024, o BNDES executou uma dívida de R$ 1,3 bilhão. Como resposta à ameaça de paralisação, o Governo do Estado firmou um acordo emergencial com a concessionária, em novembro de 2024, prevendo um aporte de R$ 300 milhões do governo e R$ 150 milhões da sócia GUMI.
Esse acordo prevê um prazo de até 270 dias para que se desenhe um novo modelo de concessão. A malha ferroviária urbana do Rio de Janeiro tem 270 quilômetros, cinco ramais e três extensões, com 104 estações ao todo. A rede transporta cerca de 300 mil passageiros por dia útil.
Próximos passos
Presidente da Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara Municipal, Pedro Duarte afirmou que levará o relatório ao Ministério Público Estadual, à Agetransp e à Secretaria Estadual de Transportes.
– É enorme o impacto na vida dos cariocas e de moradores de outras cidades que se locomovem todos os dias para o Rio, e, diante da inércia do Poder Público estadual, a comissão continuará fiscalizando e pautando a opinião pública – declarou.
– Essa omissão cria um ambiente propício para o crescimento da evasão. Os acessos são violados, e a infraestrutura se deteriora sem resposta – concluiu o vereador.