As chances de Bolsonaro tentar que as festividades da Independência sejam direcionadas para um levante golpista têm sido um pesadelo para os aliados que permanecem fiéis ao projeto de reeleição. E, ao contrário do que lhe recomendam os generais, integrantes do governo, ele permanece determinado a manter as ilações sobre o possível golpe de Estado.
Por Redação - de Brasília
Presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) marchará, firmemente e com galhardia, para uma derrota fragorosa nas urnas, nestas próximas sete semanas do mandato que lhe resta, caso amplie os níveis de rejeição ao seu perfil eleitoral. E, ao contrário do que lhe recomendam os generais, integrantes do governo, ele permanece determinado a manter as ilações sobre o possível golpe de Estado, convocado para o próximo dia 7 de Setembro.
"Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá", disse Bolsonaro a apoiadores em sua última tentativa de golpe. Depois, teve que voltar atrás
As chances de Bolsonaro tentar que as festividades da Independência sejam direcionadas para um levante golpista têm sido um pesadelo para os aliados que permanecem fiéis ao projeto de reeleição. Nos corredores do Palácio do Planalto, a preocupação está por todos os lados. Mais um ataque aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e às urnas eletrônicas, conforme apontam as pesquisas de opinião, tende a consolidar a repulsa dos eleitores brasileiros ao mandatário e ampliar a debandada por parte dos capitães da indústria, responsáveis por fatia substancial do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Os semblantes franzidos dos comandantes da campanha bolsonarista se acentuaram ao tomar conhecimento da agenda presidencial para o ardil montado no desfile militar. Seus planos, no entanto, já foram parcialmente frustados pela iniciativa do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Ele assinou uma determinação para que os quartéis desfilem pela Avenida Presidente Vargas, no Centro da Cidade, em lugar da Avenida Atlântica, em Copacabana, conforme havia dito o presidente, em pronunciamento na semana passada.
— Sei que vocês (paulistas) queriam (que o ato acontecesse) aqui (em São Paulo). Queremos inovar no Rio. Pela primeira vez, as nossa Forças Armadas e as forças auxiliares estarão desfilando na praia de Copacabana — mentiu Bolsonaro, em seu discurso na convenção do Partido Republicanos, durante o lançamento da candidatura do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo do Estado.
‘Bola fora’
Embora ciente que não haverá tanques do Exército marcando o asfalto à beira mar, ainda assim Bolsonaro reafirmou, no sábado, que participará do ato em Copacabana no 7 de Setembro, sem citar a presença das Forças Armadas.
— Estarei (às) 10h em Brasília, num grande desfile militar, e às 16h em Copacabana, no Rio de Janeiro. Mas estarei ligado aqui. Terei uma satisfação muito grande caso tenha oportunidade de falar num telão com vocês que participarão desse movimento — afirmou a apoiadores em discurso durante o passeio de motocicletas, no Recife.
Cada vez mais isolado e com discurso apontado para o segmento radicalizado entre os apoiadores, a insistência de Bolsonaro em levantar dúvidas quanto ao sistema eleitoral do país, na avaliação de aliados; além de agredir a integridade do STF em pleno Bicentenário da Independência, com a disseminação de notícias falsas sobre as urnas eletrônicas, será alvo de repúdio nacional. Uma vez cristalizada, a rejeição pesa para o eleitor, na hora de decidir quem será o próximo presidente do Brasil.
A última ‘bola fora’ do candidato de ultradireita à reeleição, citada por aqueles conselheiros de Bolsonaro, foi a convocação dos embaixadores ao Palácio da Alvorada, em 18 de julho. Desde então, o cenário tem se transformado em um pesadelo para os marqueteiros do mandatário. A resposta da sociedade civil aos planos golpistas do militar aposentado compulsoriamente foi a carta em defesa do Estado de Direito, organizada pela Faculdade de Direito da USP. O documento conta, até agora, com cerca de 800 mil assinaturas, fato inédito na História do país.
Plano golpista
Assinam o manifesto em favor da democracia, no país, desde banqueiros a exemplo de Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, copresidentes do Conselho de Administração do Itaú Unibanco; e Candido Bracher, ex-presidente da instituição financeira e hoje também integrante de seu conselho, até representantes das Centrais Sindicais.
Na opinião de analistas políticos dos mais variados matizes ideológicos, a teimosia de Bolsonaro em transformar o 7 de Setembro no plano golpista desenhado durante o encontro com os dignatários internacionais, as eleições estarão muito perto para qualquer manobra reversa, em caso de uma nova crise institucional gerada a partir de meados de setembro.
O tom de enfrentamento à tentativa insurreta do presidente em curso já está consignado, no entanto, desde as primeiras horas da manhã desta segunda-feira, na decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, de excluir do grupo de militares que participa da fiscalização das eleições o coronel Ricardo Sant’Anna, fiel escudeiro bolsonarista plantado no grupo reunido pelo Ministério da Defesa. Em ofício ao ministro Paulo Sérgio Nogueira, o magistrado afirma que o militar divulgou nas redes sociais "informações falsas a fim de desacreditar o sistema eleitoral brasileiro”.
Coronel mentiroso
"Conforme apuração da imprensa, mensagens compartilhadas pelo coronel foram rotuladas como falsas e se prestaram a fazer militância contra as mesmas urnas eletrônicas que, na qualidade de técnico, este solicitou credenciamento junto ao TSE para fiscalizar", escreveu o presidente da Corte.
O perfil do militar foi apagado das redes sociais, segundo o ofício de Fachin. Sant'Anna estava no grupo de nove militares que, desde a semana passada, analisa o código-fonte das urnas eletrônicas. A inspeção terminará no próximo dia 12, mas o disseminador de notícias falsas. Ele não integra mais os trabalhos, em uma clara mensagem ao seu líder quanto à disposição dos demais Poderes da República de não aceitar um novo desvio institucional.