Segundo a prefeitura, uma licitação foi lançada nesta segunda-feira para selecionar a empresa responsável pela obra, que promete transformar o espaço em um centro comercial de quatro pavimentos.
Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro
O Mercado Popular da Uruguaiana, tradicional reduto do comércio informal no Centro do Rio, vai passar por uma ampla reestruturação. A informação é do diário conservador carioca O Globo, que antecipou nesta segunda-feira os detalhes do projeto de reforma do camelódromo, parcialmente destruído por um incêndio em janeiro deste ano.

Segundo a prefeitura, uma licitação foi lançada nesta segunda-feira para selecionar a empresa responsável pela obra, que promete transformar o espaço em um centro comercial de quatro pavimentos e aproximadamente 1,6 mil boxes.
O novo camelódromo deve contar com áreas comuns mais amplas, varandas voltadas para vias importantes como a Avenida Presidente Vargas e a Rua Uruguaiana, além de fachadas integradas ao ambiente urbano. A estimativa é que as obras custem R$ 84,8 milhões e sejam concluídas em até 16 meses. A execução ocorrerá por etapas, com o objetivo de minimizar o impacto sobre as vendas dos comerciantes que ainda tentam se recuperar do incêndio.
— Dividimos a obra por fases para minimizar o impacto da intervenção. Uma nova frente só será aberta com a conclusão da etapa anterior — explicou o secretário municipal de Infraestrutura, Wanderson Nogueira.
Segundo o município, a proposta é dar ao espaço uma estrutura moderna, mas sem perder sua função popular. Estão previstos também um novo sistema de prevenção contra incêndios, seguindo todas as exigências do Corpo de Bombeiros, e a remoção de estruturas irregulares nos arredores, que atualmente prejudicam a visibilidade de prédios históricos tombados.
— A ideia é integrar melhor o camelódromo com o entorno. Hoje há acréscimos irregulares no entorno que interferem na contemplação de bens tombados. E teremos um sistema de incêndio moderno seguindo a legislação do Corpo de Bombeiros — afirmou o secretário.
Um dos pontos mais polêmicos da proposta é a transferência dos ambulantes que hoje atuam na entrada da estação Uruguaiana do metrô para dentro do novo edifício, em uma futura praça de alimentação. A medida pretende reduzir a obstrução no fluxo de pedestres e garantir melhores condições de trabalho, mas nem todos os trabalhadores veem a mudança com bons olhos.
— Lá dentro a gente vai sumir. Quem come na rua quer coisa rápida, não vai subir escada para lanchar. Além disso, eles querem botar ordem onde há vida — criticou o vendedor de cachorro-quente Francisco Souza, que atua há anos na entrada da estação.
Camelódromo
A expectativa pela modernização divide opiniões entre os trabalhadores do camelódromo. Para alguns, o projeto representa uma chance de atrair mais público e melhorar as condições do comércio; para outros, o temor é que os meses de obras atrapalhem ainda mais as vendas.
— Tomara que saia do papel, mas o medo é que a gente fique sem trabalhar por meses. O movimento está voltando agora, depois do incêndio. O show da Lady Gaga foi um alívio — contou a lojista Marlene Araújo, de 52 anos, que há 20 anos vende bijuterias no local.
Já Denise Moura, que improvisou uma vitrine com meias nas cores da bandeira LGBTIA+ e camisas da Lady Gaga, vê a reestruturação como uma necessidade:
— Seria maravilhoso ter um lugar com estrutura decente, ventilação, segurança. Hoje, se chover forte ou faltar luz, vira um caos aqui dentro.
A diversidade de produtos e o ambiente vibrante são elogiados também por quem visita o espaço como turista. A professora Luciana Amaral, de Minas Gerais, destacou o colorido e a variedade do camelódromo:
— Nunca vi tanta coisa colorida junta. É uma loucura, mas é muito divertido. Se ficar mais organizado e seguro, vai ser ótimo para quem vem de fora.
Para o administrador paulista Henrique Teles, de 42 anos, a modernização pode ajudar a melhorar a imagem do espaço, sem abrir mão da sua essência popular:
— É um lugar popular, importante para o comércio, mas é visível que muita coisa não tem procedência. Com estrutura e controle, dá para manter a diversidade, mas com legalidade — disse ele, segurando uma sacola cheia de acessórios.
O início das obras ainda depende da conclusão do processo licitatório. Até lá, o camelódromo da Uruguaiana segue equilibrando tradição e incertezas diante do que promete ser a maior transformação de sua história.