A exoneração foi assinada pelo ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos. Laurício teria dado aval para que um reverendo negociasse doses da AstraZeneca em nome do governo com a Davati, segundo afirmou Dominghetti aos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, na semana passada.
Por Redação - de Brasília
O governo Jair Bolsonaro exonerou, nesta quinta-feira, outro servidor do Ministério da Saúde citado pelo cabo PM Luiz Paulo Dominghetti Pereira por negociar com a Davati Medical Supply, empresa suspeita de aplicar um golpe ao Erário. O funcionário Laurício Monteiro Cruz deixou a titularidade da Diretoria do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde, com ato publicado no "Diário Oficial" da União desta quinta-feira.
A exoneração foi assinada pelo ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos. Laurício teria dado aval para que um reverendo negociasse doses da AstraZeneca em nome do governo com a Davati. Segundo afirmou Dominghetti aos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, na semana passada, que representava a empresa norte-americana, o então diretor de Logística do ministério, Roberto Ferreira Dias, lhe pediu propina de US$ 1 por dose de vacina.
Dias foi exonerado em 29 de junho, logo depois de publicada a denúncia na mídia conservadora, em entrevista na qual Dominghetti revelou o suposto pedido de propina. À CPI da Covid, Dominghetti acusou três diretores do ministério de buscar vantagens indevidas: Dias, o então secretário-executivo Elcio Franco e Laurício.
Reverendo
Dominghetti também acrescentou que chegou a Franco e Laurício através de uma ONG do Distrito Federal, chamada Senah, que faz serviços humanitários. Laurício enviou em fevereiro email para o reverendo que fundou a Senah com o assunto "lista de presença e carta de proposta para fornecimento”, segundo revelou outra reportagem na imprensa.
Na mensagem, Laurício menciona proposta comercial para fornecimento de 400 milhões de doses da AstraZeneca. O reverendo também publicou em março, nas redes sociais, foto de reunião na Saúde para, segundo ele, buscar e tratar de vacinas. Laurício aparece na imagem. Ainda segundo a apuração jornalística, Laurício endereçou email a representante da Davati nos Estados Unidos, informando sobre a reunião na Saúde com o reverendo.
A sessão da CPI da Covid, na véspera, foi encerrada com a ordem de prisão a Roberto Ferreira Dias pela Polícia Legislativa do Senado, a pedido do presidente da Comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), por considerar que o depoente mentiu ao longo de seu depoimento. Ferreira Dias, no entanto, passou apenas cinco horas preso. Ele foi solto depois de pagar fiança de R$ 1.100.
Temperatura
Ainda repercute, no entanto, a possível existência de um dossiê que Dias teria preparado enquanto estava no Ministério da Saúde, para se blindar de acusações. O documento, segundo suspeita das autoridades policiais, estaria escondido na Espanha. Depois que Dominghetti declarou à CPI ter recebido de Dias um pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina e teve o celular apreendido, o ex-diretor de logística foi demitido e percebeu que teria tempos difíceis, adiante.
Protegido politicamente pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), um dos principais líderes do chamado ‘Centrão’, Dias havia preparado um relatório secreto sobre casos de corrupção no ministério e, a se complicar ainda mais a sua posição junto à CPI, estaria disposto a revelá-lo, publicamente.
Questionado pelo presidente da CPI, o ex-diretor do Ministério da Saúde não confirmou, ou negou a existência do dossiê, o que elevou a temperatura no Plenário da Comissão. O relator,
Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a pressionar Roberto Dias para revelar quem era Ronaldo Dias, seu primo e dono do laboratório Bahiafarma. Segundo disseram à CPI, o executivo estaria de posse do documento.