De acordo com a Polícia Federal, Carrecena e Tiego tentavam “assumir o controle de setores estratégicos do Estado”, influenciando nomeações na Polícia Militar e obstruindo operações em áreas dominadas pela facção.
Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro
A prisão preventiva do ex-secretário de Esportes Alessandro Pitombeira Carracena, decretada na quarta-feira, expõe o papel estratégico que ele desempenhava dentro da estrutura política da organização criminosa Comando Vermelho (CV). Documentos da investigação, obtidos com exclusivadade pela Agenda do Poder, mostram que Carracena integrava o núcleo político do grupo, sendo responsável por fornecer informações privilegiadas, articular medidas junto a órgãos públicos e até solicitar a retirada de forças do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da comunidade Gardênia, em troca de pagamentos vultosos

O elo entre política e crime
As decisões judiciais que fundamentaram a prisão destacam que Carrecena atuava como “ponte” entre o crime organizado e instituições estatais. Ele recebia valores expressivos para garantir proteção às atividades ilícitas do CV e facilitar decisões que interessavam à facção. A atuação se dava em sintonia com o deputado estadual Thiego Raimundo de Oliveira Santos, conhecido como TH Joias, apontado como o operador político do Comando Vermelho.
Segundo a representação da Polícia Federal, a dupla Carrecena e Thiego buscava “capturar setores estratégicos do Estado”, seja influenciando nomeações na Polícia Militar, seja impedindo operações policiais em áreas controladas pela facção.
O funcionamento da organização
Os autos descrevem uma estrutura dividida em núcleos:
Liderança: comandada por Luciano Martiniano da Silva, o “Pezão”, e por Thiego Raimundo (TH Joias);
Político: sob responsabilidade direta de Alessandro Pitombeira Carrecena;
Logístico: Luiz Eduardo Cunha Gonçalves (“Dudu”), Gabriel Dias de Oliveira (“Índio do Lixão”), entre outros;
Financeiro: operadores que lavavam capitais e adquiriam bens de luxo;
Operacional: integrantes infiltrados em órgãos de segurança que vazavam informações sobre operações policiais.
A divisão funcional demonstra a sofisticação da organização criminosa e a relevância de Carrecena, cuja função extrapolava o mero assessoramento político, alcançando o núcleo decisório da facção.
Trechos relevantes do processo
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região ressaltou a gravidade dos indícios:
“O material probatório indica a existência de um eixo de articulação ilícita entre agentes do Comando Vermelho e figuras do cenário político fluminense, com especial destaque para a atuação criminosa do deputado estadual Thiego Raimundo de Oliveira Santos, conhecido como TH Joias, e de seu operador político Alessandro Pitombeira Carrecena.”
“A atuação coordenada do grupo revela a tentativa de capturar setores estratégicos do Estado, remover obstáculos institucionais e assegurar a dominação territorial do Comando Vermelho.”
Quadro-resumo das acusações contra Alessandro Pitombeira Carrecena
Núcleo |
Acusação |
Detalhes |
Político |
Fornecimento de informações privilegiadas |
Informava sobre operações policiais e solicitava retirada de forças do BOPE da Gardênia |
Político |
Interferência em órgãos públicos |
Buscava influenciar nomeações na PM e infiltração em entidades comunitárias |
Financeiro/Político |
Recebimento de valores ilícitos |
Pagamentos em troca de proteção às atividades do CV |
Estrutural |
Conexão com TH Joias |
Atuava ao lado do deputado estadual como elo entre facção e instituições |
A prisão de Alessandro Pitombeira Carrecena evidencia a profunda infiltração do Comando Vermelho na esfera política do Rio de Janeiro. Ao lado de TH Joias, ele exercia papel fundamental na tentativa de blindagem institucional da facção.