Rio de Janeiro, 01 de Setembro de 2025

Pepe Mujica deixa o legado de um grande humanista, para posteridade

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Terça, 13 de Maio de 2025 às 19:24, por: CdB

Ainda no domingo, a companheira de uma vida toda do militante socialista, Lucía Topolansky, disse aos amigos que a hora de sua partida estava próxima. Estava lúcido, mas sedado para não sentir dores ou ansiedade.

Por Redação, com agências internacionais – de Montevidéo

Prestes a completar 90 anos, faria aniversário no próximo dia 20, morreu nesta terça-feira o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, vítima do câncer de esôfago diagnosticado em maio do ano passado. “Com profunda dor, comunicamos que faleceu nosso companheiro Pepe Mujica. Presidente, militante, referência e líder. Vamos sentir muito a sua falta, Velho querido”, escreveu nesta tarde o presidente Yamandú Orsi, em uma rede social.

Pepe Mujica deixa o legado de um grande humanista, para posteridade | Mujica e sua inseparável cachorrinha de três patas, chamada Manuela
Mujica e sua inseparável cachorrinha de três patas, chamada Manuela

Ainda no domingo, a companheira de uma vida toda do militante socialista, Lucía Topolansky, disse aos amigos que a hora de sua partida estava próxima. Estava lúcido, mas sedado para não sentir dores ou ansiedade. Com a saúde fragilizada, embora quisesse muito comparecer às urnas naquele dia e votar em Mario Bergara, seu ex-ministro da Economia e hoje governador eleito da Província de Montevidéo, Mujica dessa vez ficou em casa.

— Íamos fazer um esforço para votar, mas sair de carro era demais para ele e a médica recomendou que não fosse. Estou com ele há mais de 40 anos e estarei com ele até o fim. Foi o que prometi. O que tentamos fazer é preservar a privacidade da nossa família, mas, com um personagem como o Pepe, é meio impossível — sorriu Lucía, um sorriso triste pela iminente perda de seu marido.

 

Lição

Grato ao companheiro, Bergara aplaudiu Mujica após o pleito.

“Obrigado, Pepe. Este triunfo também traz a sua marca: a de quem semeia sem pedir nada em troca, a de quem sempre acredita nas pessoas. Porque você não fala sobre pessoas: você fala com pessoas. E essa lição nos guiará em nossa tarefa”, escreveu, em agradecimento ao 40º presidente do Uruguai, no poder entre 2010 e 2015.

Mujica deixou um legado de conquistas sociais e econômicas ao seu país. Sobressaiu-se, no entanto, por sua sinceridade e o humanismo que lhe permitiram uma vida simples, sem ostentações. Pepe Mujica trocou a residência oficial, o Palácio de Suárez y Reyes, pela chácara que habitou até seu último suspiro, a ‘La Puebla‘ como a chamou, nos arredores da capital.

— Eu não sou pobre, eu sou sóbrio, de bagagem leve. Vivo com apenas o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade — afirmou, em uma de suas tantas conversas com jornalistas do mundo todo.

 

Fusca 87

A vida política de Pepe Mujica começou cedo, ainda na juventude, como militante contra a ditadura uruguaia. À época, Mujica integrou o União Popular, movimento de esquerda formado por descontentes do Partido Nacional, um dos dois maiores do país. Em seguida, integrou o grupo guerrilheiro Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros (MLN-T). Os Tupamaros começaram a agir em 1965, oito anos antes do início da ditadura uruguaia, que perduraria até 1985.

Como presidente, Mujica manteve-se fiel ao seu ideário socialista e doava 90% do próprio salário para o fundo que sustenta o programa governamental de moradias populares. Ele tinha seu indefectível Fusca ano 1987 como um dos poucos bens declarados. Sob seu mandato, em 2013, o Uruguai deu início ao longo processo que culminaria com a liberação da maconha e promoveria transformações culturais e legais históricas. A esquerda uruguaia, com Mujica e Tabaré Vázquez à frente, conseguiu fazer com que o PIB per capita crescesse três vezes – passando de US$ 4.720 para US$ 15.560.

 

A idade

Após cumprir o mandato presidencial de cinco anos, Mujica exerceu o cargo de senador até outubro de 2020, quando renunciou. Em carta lida durante sessão extraordinária no Senado, Mujica justificou a decisão antecipada pelo cenário da pandemia, associado a fatores de risco. O ex-presidente tinha uma doença autoimune chamada ‘Síndrome de Strauss’, que, com a idade avançada, o colocava no grupo de risco para a covid-19.

— Isso não significa o abandono da política, mas sim o abandono da linha de frente, por entender que um bom dirigente é aquele que deixa pessoas que o superam com vantagem. Vou agradecido, com muitas recordações e profunda nostalgia. A pandemia me derrubou — despediu-se.

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