O general Pazuello precisará respondera a razão de o governo recusar, por mais de uma oportunidade, a compra de vacinas. Bolsonaro ainda dispara declarações ofensivas à China, o principal produtor dos insumos para os imunizantes.
Por Redação - de Brasília
A tentativa do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de fugir à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid não passou despercebida pela maioria dos senadores que integram as investigações. Pazuello estaria tentando não comparecer ao depoimento como testemunha na comissão, mas na condição de investigado, para não responder às perguntas dos inquisidores.
A defesa de Pazuello estaria tentando um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para conseguir o benefício do silêncio. Para conseguir mudar sua condição na comissão, Pazuello poderia alegar ao STF que é investigado em processo que tramita na 1ª instância da Justiça, disse à colunista o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Pazuello é investigado por possíveis omissões no comando do Ministério da Saúde durante a pandemia. Para Rodrigues, porém, o pedido ao STF tem pouca chance de prosperar. O depoimento do ex-ministro na CPI, que deveria ter ocorrido na última quarta-feira, foi remarcado para o dia 19 de maio. Pazuello pediu o adiamento por ter tido contato, no final de semana anterior, com pessoas que testaram positivo para a covid-19.
Imunidade
Outro fator que entra na pauta da CPI da Covid foi adiantada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE). Ele afirmou que o governo Bolsonaro continua apostando na tese da imunidade de rebanho. Ao promover aglomerações e ameaçar com decreto para revogar medidas de distanciamento adotadas por governadores e prefeitos, e ao insistir no uso da cloroquina – medicamento comprovadamente ineficaz contra a covid-19 –, Bolsonaro comete “crime continuado”, segundo o senador.
O governo ainda recusou, por mais de uma oportunidade, a compra de vacinas. Bolsonaro ainda dispara declarações ofensivas à China, o principal produtor dos insumos para os imunizantes.
— Isso tudo é crime continuado. O governo não só assumiu uma tese temerária, como a mantém — disse Carvalho.
Rebanho
Diante desse quadro, o parlamentar afirma que não é exagero falar em “genocídio”.
— Quem assume o risco de expor mais de 200 milhões de pessoas a um vírus de alta letalidade e alta capacidade de contágio está, deliberadamente, de forma dolosa, expondo a população ao risco de morte e à própria morte. Portanto, é uma ação genocida, sim — afirmou o senador.
Ele cita o ex-ministro da Cidadania e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) como uma das pessoas próximas a Bolsonaro que o incentivaram a adotar a tese da imunidade de rebanho. De acordo com essa lógica, a pandemia só iria arrefecer quando a maior parte da população entrasse em contato com o vírus, adquirindo anticorpos naturalmente. Por conta disso, Carvalho anunciou que Terra será convocado para depor na comissão.
Wajngarten
Nesta terça-feira, a CPI da Covid vai colher o depoimento do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres. Na quarta, é a vez do advogado Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação (Secom). Por fim, na quinta-feira, representantes da farmacêutica norte-americana Pfizer falam à comissão.
Barra Torres deve dar explicações à respeito da demora para o registro da vacina Sputnik V. São 60 milhões de doses adquiridas pelo Consórcio de governadores do Nordeste, que aguardam liberação da Anvisa para a importação dos imunizantes. De acordo com Carvalho, os entraves para a sua liberação tem a ver com “concepções ideológicas” anti-Rússia que emanam do governo.
Ele também afirmou que Wajngarten também “tem muito a falar”. O ex-secretário, em entrevistas à revista semanal de ultradireita Veja, atribuiu a falta de vacinas à incompetência da equipe do então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Além disso, Carvalho afirma que ele poderá dar explicações sobre a praticamente ausente campanha publicitária voltada a orientar no combate à pandemia.
Já os representantes da Pfizer devem falar sobre as condições em que o governo Bolsonaro recusou uma proposta apresentada ainda em 2020.
— Vamos focar na questão da falta de vacinas no Brasil. E por que tivemos a oportunidade de adquirir 70 milhões de doses em setembro do ano passado e o governo se negou a comprar — resumiu o senador.