Segunda, 02 de Setembro de 2019 às 10:45, por: CdB
Bolsonaro também voltou a descrever como “esmola” as ofertas de ajuda financeira de países estrangeiros para a Amazônia.
Por Redação, com Reuters - de Brasília
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que vai discursar na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), mesmo que tenha que ir de cadeira de rodas ou de maca, para falar sobre a floresta amazônica, depois da grande repercussão internacional em consequência da elevação de queimadas na região.
Ações de Bolsonaro foram consideradas por advogados franceses e políticos brasileiros como crime contra a humanidade
Bolsonaro deve passar por uma cirurgia no dia 8 de setembro para tratar uma hérnia relacionada a cirurgias anteriores, às quais foi submetido depois de ter sofrido um ataque a faca durante a campanha eleitoral no ano passado. O primeiro dia de debates de alto nível da Assembleia Geral da ONU, que tem o presidente do Brasil como primeiro chefe de Estado a discursar, acontece em 25 de setembro, pouco mais de duas semanas após Bolsonaro a data prevista para a operação.
“Eu vou comparecer à ONU nem que seja de cadeira de rodas, de maca. Eu vou comparecer, porque eu quero falar sobre a Amazônia, mostrar para o mundo com bastante conhecimento, com patriotismo, falar sobre essa área ignorada por tantos governos que me antecederam”, disse Bolsonaro em entrevista ao sair do Palácio da Alvorada nesta segunda-feira.
“Uma chance que eu tenho de falar para o mundo sobre a nossa Amazônia. Eu vou deixar essa oportunidade?”, acrescentou.
Bolsonaro também voltou a descrever como “esmola” as ofertas de ajuda financeira de países estrangeiros para a Amazônia. Na semana passada, o presidente já havia chamado de esmola uma ajuda de 20 milhões de dólares para a Amazônia anunciada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, na cúpula do G7.
“Ela (Amazônia) foi praticamente vendida para o mundo, eu não vou aceitar esmola de país nenhum do mundo a pretexto de preservar a Amazônia, mas, na verdade, está sendo loteada e vendida... O que eles querem é cada vez mais, ao demarcar mais terras, inviabilizá-las para nós”, afirmou.
O aumento das queimadas na Amazônia no mês de agosto provocou uma pressão internacional pela preservação da floresta sobre o governo brasileiro, que rebateu acusando países como a França de adotarem uma postura colonialista.
Crime contra a humanidade
Em agosto, advogados franceses listaram para o jornal francês Le Monde uma série de alertas para os riscos de crime ambiental contra a humanidade caso o desenvolvimento econômico da Amazônia se concretizar, como deseja o presidente Jair Bolsonaro. Os juristas explicam que esses delitos poderão ser julgados pela Corte Penal Internacional (CPI) e que as empresas que contribuírem com os projetos serão consideradas cúmplices.
A advogada Jessica Finelle e o também advogado e ex-embaixador da França encarregado dos Direitos Humanos, François Zimeray, informaram que as questões ambientais estão sendo levadas cada vez mais a sério pela CPI. Ainda segundo eles, a instituição baseada em Haia, na Holanda, já avisou que os autores dos crimes ambientais podem ser julgados no mesmo patamar que criminosos de guerra.
“Indiferente diante desses alertas, o novo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, pretende sair dos acordos de Paris e expulsar populações indígenas de suas terras na Amazônia para desenvolver atividades econômicas”, apontam os advogados. “Se forem executados, alguns de seus projetos podem ser considerados como crimes contra a humanidade, principalmente em razão das transferências forçadas de população indígenas”, continua o texto.
Além disso, os advogados alertam para a responsabilidade das multinacionais que eventualmente contribuam com essas ações na Amazônia. “A participação de empresas, direta ou indiretamente, no financiamento, concepção técnica ou implementação desses objetivos presidenciais poderia ser vista como uma cumplicidade nas violações dos direitos humanos”, ressaltam.
A ex-ministra do Meio Ambiente e candidata presidencial Marina Silva classificou os incêndios florestais que devastam a Amazônia como um “crime contra a humanidade” na quinta-feira, e disse que as diretrizes atuais atiçam as chamas.
Incêndios florestais em número recorde ardem há semanas na Amazônia brasileira, a maior floresta tropical do mundo, cuja proteção cientistas dizem ser crucial no combate à mudança climática.