Os minerais encontrados na amostra também podem ter se formado por meio de processos não biológicos.
Por Redação, com Reuters – de Washington
Uma amostra obtida pelo veículo rover Perseverance, da Nasa, de uma rocha formada há bilhões de anos a partir de sedimentos do fundo de um lago contém possíveis sinais de vida microbiana antiga em Marte, de acordo com cientistas.

Os minerais encontrados na amostra também podem ter se formado por meio de processos não biológicos.
A descoberta, detalhada em pesquisa publicada nesta quarta-feira, representa uma das principais evidências até o momento sobre a possibilidade de que o planeta vizinho da Terra já tenha abrigado vida.
Desde o pouso na superfície de Marte em 2021, o rover de seis rodas tem explorado a Cratera de Jezero, uma área no hemisfério norte do planeta que já foi inundada e abriga uma antiga bacia lacustre, em busca de sinais de vida antiga.
O Perseverance tem coletado amostras de rocha e material solto chamado regolito e as analisado com seus diversos instrumentos a bordo.
O veículo obteve a amostra, chamada Cânion Safira, em um local conhecido como formação rochosa Bright Angel. Essa formação consiste em argilitos de granulação fina e conglomerados de granulação grossa, um tipo de rocha sedimentar composta por partículas do tamanho de cascalho, cimentadas por sedimentos de granulação mais fina.
O cientista Joel Hurowitz, da Universidade Stony Brook, que liderou o estudo publicado na revista Nature, afirmou que uma “bioassinatura potencial” foi detectada em rochas sedimentares com bilhões de anos.
Vivianita e greigita
Isso se apresentou na forma de dois minerais que parecem ter se formado como resultado de reações químicas entre a lama da formação Bright Angel e a matéria orgânica também presente nessa lama, disse Hurowitz. São eles: vivianita, um mineral de fosfato de ferro, e greigita, um mineral de sulfeto de ferro.
– Essas reações parecem ter ocorrido logo após a lama ter sido depositada no fundo do lago. Na Terra, reações como essas, que combinam matéria orgânica e compostos químicos na lama para formar novos minerais como vivianita e greigita, são frequentemente impulsionadas pela atividade de micróbios – disse Hurowitz.
– Os micróbios estão consumindo a matéria orgânica nesses ambientes e produzindo esses novos minerais como um subproduto de seu metabolismo – disse Hurowitz.
– No entanto, a razão pela qual não podemos afirmar que isso seja mais do que uma potencial bioassinatura é que existem processos químicos que podem causar reações semelhantes na ausência de biologia, e não podemos descartar esses processos completamente com base apenas nos dados do rover – disse Hurowitz.
Marte nem sempre foi o lugar inóspito como é hoje, e já teve água líquida em sua superfície em um passado distante. Cientistas suspeitam que a vida microbiana possa ter existido na Cratera de Jezero. Eles acreditam que canais fluviais transbordaram da parede da cratera e criaram um lago há mais de 3,5 bilhões de anos.
A amostra do Cânion Sapphire foi coletada em julho de 2024 em um conjunto de afloramentos rochosos nas bordas de Neretva Vallis, um antigo vale fluvial escavado pela água que invadiu a cratera de Jezero.
A amostra coletada e analisada pelo Perseverance fornece um novo exemplo de um tipo de bioassinatura potencial que a comunidade científica pode explorar para tentar entender se essas características foram formadas por vida, disse Hurowitz, “ou, alternativamente, se a natureza conspirou para apresentar características que imitam a atividade da vida”.
– Em última análise, pesquisas subsequentes nos fornecerão um conjunto de hipóteses testáveis sobre como determinar se a biologia é responsável pela geração dessas características na formação Bright Angel, o que podemos avaliar examinando a amostra do Cânion Sapphire se ela for trazida de volta à Terra – acrescentou Hurowitz.