Colunistas e editorialistas, movidos pelos interesses do mercado financeiro e do agronegócio, mostram-se inquietos sobre a política econômica do futuro governo. Desejam uma solução “frankenstein” para a crise: derrotar o fascismo, mas conservar, na essência, o figurino neoliberal.
Por Luciano Siqueira - de Brasília
Toda eleição para cargos executivos é assim. Num dado momento, por boas ou más intenções surge a cobrança do chamado programa de governo, em geral da candidatura mais cotada para vencer.Pleito presidencial
Agora a cobrança recai sobre Lula, que tem chances reais de vencer o pleito presidencial talvez até já no primeiro turno. A grande mídia, que circunstancialmente reforça a candidatura do ex-presidente, Bolsonaro é o inimigo comum declarado, diz-se desinformada sobre a proposta programática do futuro governo da coalizão Brasil da Esperança. Isso apesar da plataforma apresentada por Lula e Alckmin no início da campanha e que vem ensejando proposições do conjunto da sociedade e de segmentos organizados, através de plataforma digital. Na verdade, colunistas e editorialistas, movidos pelos interesses do mercado financeiro e do poderoso agronegócio, mostram-se inquietos em relação à política econômica do futuro governo. Desejam uma solução “frankenstein” para a crise: derrotar o fascismo, mas conservar, na essência, o figurino neoliberal. A cobrança é uma impropriedade, tanto porque programa de governo propriamente dito só se estabelece quando o governante toma posse e se assenhora plenamente da situação real que encontra, como porque, no caso específico da candidatura de Lula, a agregação de novas forças à frente ampla que a sustenta prossegue incorporando opiniões diversas.Futuro governo
Confirmando-se a vitória, pelo menos teoricamente se terá três meses de transição do atual para o futuro governo. Tempo para pisar nas condições concretas de governo e de decantar as proposições recolhidas. Agora, bem que Lula poderia, ao estilo Miguel Arraes, ponderar: “Para que antecipar um programa de governo se a nação já sabe o que penso e as motivações dos variados apoios que recebo?” Na verdade, como todo governo, o próximo será de intensa disputa interna entre as forças que o comporão, tão amplas e diversificadas quanto complexos são os problemas a serem enfrentados sob a consigna da reconstrução nacional.Luciano Siqueira, é Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
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